Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Pessoas desistem de falar de política porque maioria já definiu o candidato
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"Metade parou de falar de política para evitar brigas", informa a manchete de hoje da Folha.
Para que brigar?, se 71% dos eleitores responderam ao Datafolha que já estão decididos sobre em quem votar para presidente no dia 2 de outubro.
Como a eleição virou um Fla-Flu, não é só para evitar brigas em família ou com os amigos. É que, simplesmente, não adianta querer convencer um torcedor do Flamengo a torcer pelo Fluminense e vice-versa. Trata-se de pura perda de tempo.
Assim como não há argumentos racionais para explicar por que se torce para determinado time, e não outro, o mesmo está acontecendo na política, desde que a campanha se limita à disputa entre apenas dois candidatos.
A pesquisa mostra que petistas e bolsonaristas estão igualmente decididos: 79% responderam que estão dispostos a ir com Lula ou Bolsonaro até o fim (só 20% dos petistas e 21% dos bolsonaristas admitem mudar de opinião).
Desta forma, não resta muito espaço para o crescimento de outras candidaturas, que não passam de um dígito. Ao contrário: a indecisão é maior entre eleitores de Ciro Gomes (dos seus 8% na pesquisa, 65% podem mudar de ideia) e de Simone Tebet (59% dos seus 2% de eleitores que alcançou até agora).
Este é o contingente que agora pode migrar para o "voto útil", que tanto poderá dar a vitória a Lula no primeiro turno, como provocar um segundo turno contra Bolsonaro.
Números à parte, o fato é que, a dois meses da eleição, o eleitorado parece também cansado das brigas que atravessaram o ano, nas redes sociais, nos botecos, nos locais de trabalho e nos almoços de domingo em família.
A disputa agora se dá mais no campo da rejeição, com os eleitores de Lula e Bolsonaro querendo provar, não que seu candidato é o melhor, mas que o outro é pior, e não que tenha melhores propostas para o país, até aqui pouco discutidas.
Com 53% de eleitores que não votariam nele de jeito nenhum, Bolsonaro tem dois desafios: reduzir a sua rejeição e aumentar a de Lula, que tem 36%.
Neste campo é que se dará a batalha no horário eleitoral gratuito do rádio e da TV que começa daqui a duas semanas, quando o clima da campanha voltará a esquentar.
Além da comparação entre os indicadores sócio econômicos dos governos do atual e do ex-presidente para provar em que época se vivia melhor, marqueteiros dos dois lados, a esta altura, já devem estar preparando os blocos de propaganda negativa do adversário, a única forma de inverter os índices de rejeição dos candidatos e oferecer argumentos aos seus seguidores para a campanha no boca a boca e nas redes sociais.
Mas é preciso ter muito cuidado ao dosar esses ataques porque eles podem ter o efeito reverso: "Em campanha eleitoral, quem exagera ou erra ao bater, apanha na urna, porque pode vitimizar o adversário", ensinava Duda Mendonça, o pai dos marqueteiros modernos.
Nas redes sociais, que não existiam na época dele e ganharam importância na eleição de 2018, é onde o pau come, mas só uma minoria segue perfis de Lula ou Bolsonaro (13% dos eleitores de cada candidato) ou participa de grupos de apoio (4% nos dois casos).
Segundo o Datafolha divulgado hoje, 43% pararam de falar sobre política no WhatsApp e 19% saíram de algum grupo.
Nos comentários de internautas/eleitores nos sites jornalísticos, dá-se um diálogo de surdos, porque a maioria nem lê o que o outro escreve e já sai atirando. Como há muitos robôs circulando com diferentes nomes, torna-se impossível estabelecer um debate.
Quem se arrisca a discutir com eles corre o mesmo risco de alguém com a camisa do Fluminense entrar no meio da torcida do Flamengo, querendo "argumentar" sobre que time é melhor.
Dos entrevistados pelo Datafolha, 53% já tiveram algum problema com política em aplicativos de mensagens e 15% foram ameaçados por causa das suas posições políticas.
Melhor mesmo falar de futebol...
Vida que segue.
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