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OPINIÃO

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Discurso cafajeste: capitão parte para baixaria total em evento de campanha

 "Comprem suas armas, está na Bíblia", diz Bolsonaro a produtores rurais reunidos hoje em Brasília -  O Antagonista
"Comprem suas armas, está na Bíblia", diz Bolsonaro a produtores rurais reunidos hoje em Brasília Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

10/08/2022 14h31

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Não importa qual seja o local, a plateia, o tema do evento. Em campanha eleitoral permanente, Bolsonaro transformou o Brasil inteiro num "cercadinho" ampliado do Alvorada onde costuma falar para seus devotos.

Pode ser numa reunião ministerial no Planalto, no templo de uma assembleia de evangélicos em Roraima, no "Forte Apache" cercado de militares em Brasília, numa feira agropecuária no Rio Grande do Sul, num encontro com banqueiros, em São Paulo, ou com embaixadores estrangeiros na biblioteca do Alvorada: é sempre o mesmo discurso cafajeste, que veio aprimorando com o tempo, carregado de ofensas homofóbicas, agressões aos adversários, às urnas eletrônicas, aos tribunais superiores e aos adversários, variadas ameaças golpistas e piadas de caserna, além de mentiras, muitas mentiras.

É um caso para ser estudado pelos historiadores no futuro quando pesquisarem o que foram os anos bolsonaristas.

Quando falta assunto, esse grande tribuno militar, que foi ejetado do Exército, agora deu para acenar novamente com o perigo do comunismo rondando as casas dos "homens de bem" da sagrada família brasileira, depois que a bandeira da corrupção foi enrolada pelo Centrão nos porões do orçamento secreto.

Em campanhas eleitorais, candidatos costumam falar em programas de governo e planos para melhorar o país, combater a fome, a miséria e o desemprego, melhorar a educação e a saúde, mas no discurso de Bolsonaro não há espaço para esses detalhes do cotidiano. São só ataques, contra tudo e contra todos. Só fala bem dele mesmo.

Mas, hoje, durante um encontro com ruralistas na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Brasília, o capitão se superou na baixaria ao subir num palanque amigo, cercado por bajuladores, que o ovacionavam a todo momento e riam como se estivessem num programa de auditório. Empolgado com a própria voz, o capitão até pediu mais tempo para falar.

Primeiro, do nada, partiu para cima dos ex-ministros da Defesa, que eram civis desde o governo de FHC, e voltaram a ser militares no governo do civil MIchel Temer, após o golpe de 2016.

"Até pouco tempo, tinha tudo quanto é tipo de gente lá, que não entendia nada, que nunca pegou numa pistola - que atira, vamos deixar bem claro _ e foi ser ministro da Defesa. Ele pode ter pego em várias outras pistolas, nessa que atira, não", disse, achando graça, para delírio da plateia.

Referências ao órgão sexual masculino costumam ser recorrentes em suas falas homofóbicas, tão do gosto dos seus seguidores.

Era uma resposta indireta a recente fala do ex-presidente Lula, quando ele prometeu nomear de novo para a Defesa um ministro da sociedade civil, caso seja eleito para um terceiro mandato.

Na sua guerra particular do "nós contra eles", Bolsonaro afirmou "eles sabem que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo".

Eles, no caso, somos todos os que nos opomos à militarização do governo civil e defendemos a democracia, mas no léxico bolsonarista o motivo é outro:

"Por isso, o ataque e a criação do Ministério da Defesa, em 1989, não por necessidade militar, mas por necessidade política de tirarem os militares da negociação".

Que ataque? A qual negociação ele se refere? Bolsonaro não costuma dar maiores explicações sobre o que ele fala porque, como ele mesmo disse esta semana, "eu não devo satisfações a ninguém", referindo-se ao sigilo de 100 anos para documentos oficiais do seu governo.

Diante de uma plateia de grandes fazendeiros, eufemisticamente chamados de "ruralistas", acusou Lula de "querer regular a produção agrícola", sem dizer de onde tirou isso. "O cara já retirou do programa de governo dele. Malandro como sempre, sem caráter, um bêbado que quer dirigir o Brasil. Se colocar uma pessoa com certos vícios para pilotar essa Ferrari, ela vai capotar na primeira curva".

Na verdade, o Brasil que Bolsonaro deixará de herança, está longe de ser uma Ferrari. Não passa de um fusquinha 1964 todo detonado.

Em tom debochado de comício de candidato a prefeito de uma cidadezinha qualquer, Bolsonaro emendou esse ataque cafajeste ao adversário que lidera as pesquisas com críticas aos signatários das cartas em defesa da democracia e do Estado de Direito, já assinadas por mais de 820 mil brasileiros de todos os segmentos sociais até o meio dia desta quarta-feira.

"Vimos agora há pouco uma cartinha em defesa da democracia. Olha quem assinou a carta... O último que assinou é um cara que vive de amores e beijos... Ou vivia, porque alguns já morreram, como Fidel Castro, Chávez...".

Pois é, nem os mortos escapam da sua metralhadora giratória, assim como as endemoniadas urnas eletrônicas, as únicas que podem impedir a sua reeleição no dia 2 de outubro, sempre com a mesma ladainha mentirosa: 'Nós queremos transparência, queremos a verdade e queremos terminar as eleições sem quaisquer desconfianças, seja qual for o lado".

Sabemos que Bolsonaro não quer nada disso. Só quer criar confusão, botar fogo no circo, e escapar por baixo da lona, gritando:

"O circo está pegando fogo! Fraudaram as urnas!"

Vida que segue.