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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

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O vento está virando: Bolsonaro reencarna Fernando Collor para atacar Lula

 Bolsonaro adota estratégia de Collor para atacar Lula e tentar reverter as pesquisas  -  O Antagonista
Bolsonaro adota estratégia de Collor para atacar Lula e tentar reverter as pesquisas Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

12/08/2022 17h47

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As oscilações para cima de Bolsonaro e para baixo de Lula nas últimas pesquisas não se devem apenas à queda do preço da gasolina e ao início do pagamento do Auxílio Brasil e de outras bondades eleitorais.

A constante diminuição da vantagem de Lula sobre Bolsonaro tem muito a ver também com a ofensiva bolsonarista sobre o voto evangélico, principalmente das mulheres, que mobiliza suas milícias digitais, a ponto de acusar o ex-presidente de defender o aborto, ameaçar as famílias e planejar o fechamento de igrejas caso seja eleito. Pode parecer tudo um absurdo, mas tem muita gente que acredita.

É a mesma estratégia usada, não por acaso, por Fernando Collor de Mello na campanha de 1989, quando acusou o petista de querer sequestrar a poupança, ocupar casas e tomar terras dos proprietários rurais para fazer a reforma agrária. Hoje, Collor e Bolsonaro estão aliados.

Na reta final da campanha no segundo turno, quando Lula subia nas pesquisas, Collor chegou a levar ao seu programa de televisão uma ex-namorada de Lula para denunciá-lo de querer obrigá-la a fazer um aborto.

Agora, como informa Mônica Bergamo, estrategistas do governo e da campanha de Bolsonaro estudam levar para o programa de televisão ataques à mulher de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, para ligá-la à prática de macumba, com a divulgação de uma fotografia em que ela aparece num altar ao lado de imagens de Xangô, um dos orixás da umbanda e do candomblé, figuras execradas pelos evangélicos. Vale tudo.

Na terça-feira, a primeira dama Michelle Bolsonaro, que agora entrou de cabeça na campanha do marido, compartilhou um vídeo no Instagram em que Lula aparece recebendo benção de uma mãe-de-santo em cerimônia de candomblé na Bahia, lembra a colunista da Folha.

Na legenda, Michelle escreveu: "Isso pode né? Eu falar de Deus, não".

Para um jornalista estrangeiro que veio cobrir as eleições presidenciais no Brasil, pode parecer uma grande bobagem, mas no Brasil não é.

Família, política, religião e até a Justiça aqui se misturam no mesmo balaio. Foi por isso que Jair e Michelle se empenharam tanto na nomeação de um ministro "terrivelmente evangélico" para o Supremo Tribunal Federal, uma vitória comemorada por ambos no Palácio do Planalto.

Personificado na figura do sinistro pastor André Mendonça, esse ministro evangélico hoje não esconde de ninguém que está no STF a serviço só dos Bolsonaros.

De uma só tacada, no começo da madrugada desta sexta-feira, no plenário virtual, Mendonça pediu vistas em vários processos do ministro Alexandre de Moraes em que Bolsonaro está envolvido, e jogou o julgamento para as calendas.

Com o filho vereador Carlos Bolsonaro de volta a Brasília, licenciado da Câmara Municipal do Rio, para tocar o horror nas milícias digitais bolsonaristas, Mendonça emparedando o STF, Augusto Aras fechando a retranca na PGR e Arthur Lira no controle da Câmara, do Centrão e do orçamento secreto, Bolsonaro resolveu partir para o ataque final, no melhor estilo de Collor de Mello, nesta reta final da campanha, às favas com os escrúpulos.

Pode-se imaginar o que vem por aí na propaganda eleitoral na TV, que começa no próximo dia 16, com o arsenal que Bolsonaro está montando para reavivar o antipetismo da campanha de 2018, que o levou à vitória quando Lula estava preso.

Por mais que os ministros do Tribunal Superior Eleitoral garantam que desta vez irão combater as fake news, que foram decisivas em 2018, o que já se vê nas redes sociais é uma barbaridade de notícias falsas, como essa de que Lula vai querer fechar as igrejas evangélicas, sem que ninguém seja investigado ou punido.

Se as denúncias de crimes das milícias digitais por acaso chegarem à PGR e ao STF, Aras e Mendonça matam no peito. Está tudo dominado.

Foi por não ter esta retaguarda dentro das quatro linhas que Collor caiu, é bom lembrar. Não havia na época um Arthur Lira para sentar em cima dos pedidos e impedir a abertura do processo de impeachment.

Lamento informar, mas as vigorosas manifestações pela democracia neste histórico 11 de Agosto não fizeram nem cócegas na valente esquadra bolsonarista, que agora quer ficar 20 anos no poder, como disse hoje um coordenador da campanha à GloboNews.

E nós continuamos discutindo medidas de prevenção de incêndio numa casa que já está pegando fogo.

Vida que segue.

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