Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A população o ignorou: 'resistência' bolsonarista se limita a grupos de zap

Colunista do UOL

29/06/2023 12h25Atualizada em 29/06/2023 14h29

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Nada como o passar dos dias para acalmar os espíritos e as previsões apocalípticas.

Alguns previam que, se Bolsonaro fosse condenado pela Justiça, viraria mártir, as massas sairiam às ruas em protesto e poderíamos ter um outro 8 de Janeiro. Mas a polarização política, que atingiu a temperatura máxima naquele dia fatídico, voltou a ser um assunto reservado a políticos profissionais e jornalistas. Ninguém saiu às ruas de Brasília para defender Bolsonaro neste 29 de junho de 2023. A Praça dos Três Poderes ficou vazia.

Agora, com o ex-presidente prestes a ter sua carreira política decapitada dentro de algumas horas no TSE, o que está acontecendo no Brasil? Nada fora do normal. Os aviões continuam decolando e pousando, as marés sobem e descem, o governo governa, a Justiça julga e o Legislativo legisla, ou melhor, está em recesso junino.

Estávamos mal acostumados e muitos entraram numa síndrome de abstinência na falta de manchetes trazendo uma nova crise diária do fim do mundo no governo anterior.

A tal "resistência" dos bolsonaristas, anunciada quando o TSE marcou o julgamento de Bolsonaro, limitou-se a um grupo de zap criado há dois dias pelo próprio presidente, com 81 parlamentares do PL, para mobilizar seus devotos, mas ninguém atendeu ao chamado e o aplicativo já saiu do ar. Só deu tempo do ex-capitão chamar o processo de "uma vergonha", lembrando um antigo âncora de TV.

Em silêncio, Brasília ignorou solenemente o drama jurídico do ex-presidente, que foi ficando cada vez mais isolado nas últimas semanas, estrebuchando em rápidas entrevistas coletivas, chamadas de "quebra-queixo".

Antes de embarcar para o Rio, ele foi aos microfones para dizer que o julgamento no TSE é um "processo político" e que pretende disputar e vencer a eleição presidencial de 2026.

"A esquerda quer permanecer em 2026 sem concorrente. WO, aparentemente", queixou-se. "Sem concorrente à altura, seria eleger o Lula por aclamação."

Modesto, pensa que só ele tem condições de derrotar o atual presidente e descarta qualquer nome para sucedê-lo na liderança da extrema-direita no país. Inelegível por 8 anos, em 2026 ainda seria mais jovem do que Lula hoje, mas o menor problema dele será a idade.

Como já demonstraram estes seis meses fora do poder, Bolsonaro sem a caneta na mão, sem o "cercadinho" para disparar ataques às instituições e aos adversários, vai ficando cada vez menos Bolsonaro, mais manso, sem saber para onde correr, agora posando de vítima de uma conspiração.

"É uma injustiça comigo, me aponte algo concreto que fiz contra a democracia, joguei dentro das quatro linhas", lamuriou-se aos repórteres, garantindo que não cometeu "qualquer tipo de crime" ao promover a reunião com os embaixadores que levou à abertura do processo no TSE.

Bolsonaro terá tempo para saber quais foram os crimes que cometeu contra a democracia nos outros 15 processos que o aguardam no TSE e em mais algumas dezenas deles remetidos pelo STF à primeira instância.

Nem ele, nem os filhos, nem os políticos bolsonaristas, nem os seus seguidores quiseram assistir ao julgamento em Brasília, nem ocuparam as tribunas do Congresso para protestar contra a sua iminente condenação. O ex-capitão preferiu voltar ao Rio de Janeiro, berço político de onde saiu para se tornar um improvável presidente da República, embalado por militares que lhe viraram as costas na marcha aloprada para o golpismo fracassado.

Em mais uma desesperada tentativa de salvar seus direitos políticos, parlamentares do PL querem agora apresentar um projeto para anistiar os crimes do seu antigo líder. Mas não haverá anistia nenhuma e, daqui para a frente, será cada um por si. A corrida para ocupar a cadeira do Mito já começou, pelo menos, em certos setores da imprensa, que não conseguem esperar 2026.

Calma, pessoal, ainda tem muito chão pela frente.

Vida que segue.