Carla Araújo

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Lula opta em teimosia por Padilha enquanto Bolsonaro mira eleições

A "teimosia" do presidente Lula em manter Alexandre Padilha na articulação política do governo, na prática, tem potencial para produzir um ministro sem função diante dos atritos com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A avaliação no entorno de Lira e de diferentes correntes parlamentares no Congresso é que Padilha pode continuar ministro, mas que Lula "matou a função" desde que admitiu que não havia mais condições para manter a relação entre o presidente da Câmara e o articulador do governo e pediu ao deputado que as tratativas fossem com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Lira tem dito a aliados que vai chamar "amigos petistas" para uma conversa sincera. Ele não cita instrumentos mais drásticos, como um impeachment, por exemplo. Mas há sempre nos corredores do Congresso quem goste de lembrar que o PT sabe como é uma briga com o presidente da Câmara.

Em entrevista ao jornal O Globo, o ex-ministro Edinho Silva, que pleiteia ser o próximo presidente do PT, disse que era preciso "baixar a temperatura da polarização". Edinho tem propagado aos seus correligionários que não é hora de vacilar.

Mais do que isso, Edinho tem sido um dos petistas com coragem de dizer que o partido não pode abandonar suas bandeiras, ao defender a saidinha, por exemplo, e tem tentado alertar o presidente de equívocos de seu governo.

A queda na popularidade de Lula e a dificuldade de comunicar os feitos do governo tem provocado auxiliares a admitir que Lula está errando na escolha de suas batalhas. E suas teimosias podem acabar ajudando a oposição.

O Lula candidato pensava diferente?

O presidente Lula tem tido que lidar com desavenças entre membros do governo e tem reclamado de brigas públicas, como a que envolve a Petrobras. Lula, porém, se viu obrigado a defender o seu governo e o seu ministro após as ofensas de Lira, já que o presidente da Câmara também usou a imprensa para bater em seu governo.

Apesar disso, quando ainda era candidato à Presidência e sabia da disputa difícil que o aguardava, Lula disse, em entrevista ao UOL, que sabia que não teria nenhuma vantagem em brigar com o presidente da Câmara: "Não é o presidente da Câmara que precisa do presidente da República, é o presidente da República que precisa do presidente da Câmara".

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Lira vai reagir?

Na semana passada, ao chamar Padilha de "incompetente", Lira tentou, sim, dar mais um recado ao Planalto. Aos que tentaram propagar a teoria de que o presidente da Câmara está enfraquecido com o fim do mandato que se aproxima, Lira fez questão de ironizar e alertar que ele ainda tem a cadeira e a caneta até fevereiro de 2025.

Irritado com o que classificou de intrigas plantadas na imprensa por Padilha, Lira continua repetindo a aliados que o petista 'é um desocupado', mas que cabe a Lula a decisão de manter um ministro sem função.

O presidente da Câmara também nega que queira escolher ministros, embora o centrão tenha conseguido ocupar três pastas ao longo do primeiro ano de mandato.

O presidente da Câmara tem dito ainda que pretende continuar abraçando a agenda econômica e adotou o bordão de que 'tudo que for do interesse do país contará com meu apoio".

E o Bolsonaro?

Por mais que diversos aliados de Lula digam que não é mais hora de 'dar palanque' a Bolsonaro, Lula acaba escorregando e lembrando do adversário, quando chama ele de 'covardão', por exemplo.

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Enquanto isso, Bolsonaro divide o seu tempo entre conversas com advogados para responder aos seus diversos inquéritos abertos para apurar a prática de crimes e suas campanhas pelo país.

Sim, Bolsonaro continua viajando pelo Brasil, reunindo seguidores fanáticos e admiradores que o recebem em aeroportos. Ele é o presidente de honra do PL, o maior partido da Câmara, com mais de cem deputados, e que tem a ambição de conquistar mil prefeituras.

Se Lula acha que entrar na briga pública com Arthur Lira para defender Padilha vai ajudar o governo, a estratégia parece ser equivocada e trazer mais riscos do que acertos para o governo num ano eleitoral e com pauta cheia na Câmara, que vai discutir, inclusive, temas como vetos presidenciais e a regulamentação da reforma tributária, que têm potencial para impactar diretamente o caixa e os planos do Planalto.

A coluna procurou o ministro Padilha, mas ele não retornou.

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