Lira diz a aliados que preservará pauta econômica e não quer acirrar crise
Aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disseram que ele demonstrou disposição em virar a página da crise com o governo, após os ataques públicos que fez ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Parlamentares disseram ao UOL que Lira não quer que a agenda econômica seja impactada pela turbulência com o Executivo.
O que aconteceu
Lira ofendeu Padilha na quinta-feira (11). O presidente da Câmara chamou o ministro de "desafeto pessoal" e "incompetente". A declaração do deputado foi motivada por uma possível interferência do governo na análise da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ).
Ministro foi defendido pelo presidente Lula. O chefe do Executivo declarou que não há ninguém mais bem preparado para lidar com a adversidade do Congresso Nacional do que Padilha e que, "só de teimosia", ele vai ficar por muito tempo no ministério.
Ontem (12), Lira participou de um almoço de 20 anos da Abaf (Associação Baiana das Empresas de Base Florestal), no restaurante Amado, em Salvador, na Bahia.
O presidente da Câmara não comentou suas ofensas a Padilha e evitou falar com jornalistas. Ele estava acompanhando do líder do União Brasil, Elmar Nascimento. O deputado baiano é um dos favoritos de Lira para sua sucessão em 2025.
Quando Lula fez defesa pública de Padilha, Lira estava retornando da Bahia. Aliados do presidente da Câmara admitiram que a fala de Lula pode exaltar Lira novamente, mas dizem que o deputado passou a tarde já com "a cabeça fria" e sem disposição de manter elevada a temperatura da crise.
Briga não deve atrapalhar votação de projetos econômicos. Nos próximos dias, a Câmara deve começar a analisar os projetos de lei complementares da reforma tributária. Também estão no radar o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), a desoneração dos municípios e a reoneração de 17 setores da economia. Na avaliação dos aliados de Lira, a rusga entre ele e Padilha não deve interferir no andamento das propostas na Casa.
Legado. Já vislumbrando o fim de seu mandato e irritado com a avaliação de que ele estaria fraco, Lira aposta na agenda econômica como uma das marcas da sua gestão.
'É pelo país'. Lira afirmou a aliados que a decisão de manter a pauta econômica "fora da briga" é previsível e tem repetido que "tudo que for interesse do país vai contar com seu apoio".
Relação estremecida entre Lira e Padilha se arrasta há meses. O presidente da Câmara e o ministro estão rompidos desde o ano passado por ruídos na articulação e na liberação das emendas. Lira agora trata apenas com Rui Costa (Casa Civil) sobre negociações com o governo, ignorando a atuação de Padilha.
Caso Brazão ampliou tensão
Tensão entre Lira e ministro cresceu na noite da votação. Após o plenário manter a prisão de Brazão, Lira e Padilha foram para a festa de aniversário do deputado Marcos Pereira (Republicanos), mas evitaram contato. Eles passaram um do lado do outro sem trocar olhares ou cumprimentos. Na comemoração, Padilha disse aos convidados que "se dependesse do Lira, Brazão estaria solto".
Lira se irritou e negou interferência. O presidente da Câmara rechaçou que tenha articulado a favor de Brazão.
Líderes cobraram parcialidade. Interlocutores de Lira disseram que o presidente da Câmara se mostrou tenso sobre o caso Brazão, mas pediu que fosse analisado com imparcialidade. Apesar disso, Lira foi cobrado pelo pares do centrão e da oposição por uma análise parcial da situação e uma defesa mais enfática das prerrogativas do Congresso.
Sem gasolina. Lira disse a líderes partidários que não queria colocar mais "gasolina" na discussão. Foi por isso que ele defendeu um rito célere, sem tempo para discussão no plenário, poupando o STF de críticas públicas.
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Recado ao STF. Deputados reclamaram da decisão do ministro Alexandre de Moraes de prender Brazão. Alegaram que ele não poderia ter feito isso porque a Constituição Federal determina que parlamentares só podem ser presos em flagrante por crime inafiançável.
Lira conversou com ministros do STF. Aliados do presidente da Câmara disseram que ele avisou ao Supremo que seria a última vez que a Corte avançaria o sinal em relação à prisão de deputados.
Lira estuda reações. Conforme mostrou o UOL, a Câmara avalia quais medidas pode colocar na agenda para dar novos recados ao STF.
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