Carla Araújo

Carla Araújo

Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Exército admite incômodo e já precifica denúncia de militares e Bolsonaro

Em Brasília, a semana começou com a expectativa de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) deve apresentar a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 39 pessoas —entre elas militares de alta patente— por tentativa de golpe.

No Quartel-general, onde fica o comandante do Exército, a situação não é diferente. A possibilidade de ver militares denunciados é aguardada por militares de alta patente ouvidos pela coluna. E já foi precificada, ou seja, as Forças Armadas já absorveram o prejuízo para a sua imagem.

A avaliação é que os militares envolvidos na tentativa de golpe —entre eles o general quatro estrelas da reserva Braga Netto— deixaram claro, pelas informações já apontadas pela Polícia Federal, que houve desvio ético, indisciplina e eles mesmo produziram provas contra si.

Para além do que responderão na esfera civil, a expectativa é que a Justiça Militar também entre nas próximas etapas do julgamento. Há até a possibilidade de perda de patente no cenário. Seria algo inédito retirar de um general quatro estrelas a sua patente, por exemplo.

"Vamos ver se após a condenação eles terão condições morais de manter suas patentes", diz uma fonte.

Braga Netto, que está preso desde o dia 14 de dezembro, atacou diretamente em mensagens o atual comandante, general Tomás Paiva. Outros generais que fazem parte do Alto Comando também foram alvo de mensagens ofensivas por parte de militares indiciados pela tentativa de golpe.

Para tentar justificar os ataques que vieram de um general quatro estrelas - o mais alto posto do Exército—, integrantes da caserna afirmam que Braga Netto fez uma escolha pessoal pelo poder e se deixou contaminar. Além disso, reconhecem que o ex-ministro de Bolsonaro tentou capturar parte das Forças Armadas para sua trama. Mas salientam: não teve sucesso.

"Ele não conseguiu o racha que queria e também não há ninguém dentro da instituição revoltado com sua prisão", diz um general.

A situação, porém, admitem integrantes do Alto Comando, gera incômodo e desgasta a imagem da instituição. Além disso, eles sabem que ainda levará um tempo para que a contaminação desse processo —da política entrar no quartel— seja totalmente exterminada.

Continua após a publicidade

'Serenidade' e sem corporativismo

Os militares dizem que é uma doutrina a máxima de que no campo de batalha "ninguém fica para trás". Isso, porém, é para ser usado em missões e campos de batalha.

Generais ouvidos pela coluna rechaçam que haverá qualquer tipo de proteção ou corporativismo, no caso dos militares que estão prestes a serem denunciados.

Novamente, eles repetem que o erro na conduta dos militares já indiciados é evidente e que o desvio ético foi praticamente confessado.

Apesar disso, os integrantes da cúpula do Exército dizem que o melhor a se fazer é esperar os desdobramentos com "serenidade" e mantendo o devido processo legal, o que inclui o respeito ao regimento interno.

Justamente por isso, destacam a visita que Tomás Paiva fez a Braga Netto na prisão recentemente. "Ninguém está abandonado, mas ninguém aqui no Exército vai tolerar que não haja punição para quem merece", disse um general quatro estrelas.

Continua após a publicidade

Segundo apurou a coluna, na visita que Tomás Paiva fez a Braga Netto, o comandante verificou três questões: como o general estava de saúde, se tinha notícias da família e se tinha acesso a ampla defesa.

A prática faz parte da rotina do comandante de visitar todos os militares que estão atualmente presos. Em todo o país, há atualmente 15 oficiais e 82 praças presos, seja cumprindo uma condenação, seja preso preventivamente.

E o Bolsonaro?

Para integrantes do Exército, a possível denúncia do ex-presidente Jair Bolsonaro não tem implicações diretas para as Forças Armadas.

Apesar disso, já chegou ao QG a informação de que Bolsonaro teria a intenção —caso venha a ser preso— de poder ficar em alguma instalação militar, já que é capitão reformado.

Essa hipótese, no entanto, é considerada remota, já que a avaliação é de que dificilmente o ministro Alexandre de Moraes manteria o ex-presidente num ambiente militar, com risco de ele tentar inflar algum motim.

Continua após a publicidade

Além disso, Bolsonaro é ex-presidente e, no entendimento da cúpula militar, tem que ter as suas prerrogativas de ex-chefe de estado levadas em consideração em uma eventual condenação e prisão.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.