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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Relatório aponta 13 pontos de alto risco em cânions do rio São Francisco

Rocha com ameaça de queda nos cânions entre AL e SE  - SGB/Divulgação
Rocha com ameaça de queda nos cânions entre AL e SE Imagem: SGB/Divulgação

Colunista do UOL

26/04/2022 04h00Atualizada em 26/04/2022 12h34

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Relatório final de vistoria do SGB (Serviço Geológico do Brasil), órgão público vinculado ao Ministério de Minas e Energia, aponta que os tradicionais cânions do rio São Francisco (entre Alagoas e Sergipe) apresentam 13 pontos classificados como de "perigo alto" de acidentes.

A visita a 19 locais ao longo do curso do rio ocorreu entre 14 e 23 de fevereiro, a pedido dos governos dos dois estados, já que a região atrai milhares de turistas todos os anos para passeios de barco. A vistoria passou por cânions dos municípios de Canindé do São Francisco (SE), Piranhas, Delmiro Gouveia, Olho D'Água do Casado (AL). Também foi vistoriada a região de Paulo Afonso (BA), mas o município afirma que não recebeu o relatório.

Segundo o documento, os principais riscos identificados foram os da chamada movimentação gravitacional de massa (deslizamentos, queda e rolamento de blocos, desplacamentos e tombamentos), além de um possível destacamento de rochas. O relatório traz recomendações que, segundo a Defesa Civil dos estados, foram aceitas.

Imagens feitas pelos técnicos e obtidas pela coluna destacam várias rochas em condições parecidas com as do lago de Furnas, em Capitólio (MG), onde no início do ano o tombamento de uma rocha causou a morte de dez pessoas.

As áreas foram classificadas desta forma:

  • 13 como de perigo alto;
  • 3 de perigo moderado;
  • 3 de perigo baixo.

"O presente relatório, de caráter emergencial, conclui que a região dos cânions do lago Xingó apresenta, em sua maior parte, condições potenciais para a ocorrência de movimentos gravitacionais de massa, ao longo de seus paredões e taludes naturais", concluíram os técnicos.

Rochas com risco de descolamento do paredão - SGB/Divulgação - SGB/Divulgação
Rochas com risco de descolamento do paredão
Imagem: SGB/Divulgação

Para os técnicos, o padrão e a frequência das fraturas das rochas torna a região "suscetível a instabilidades".

Além de sua vulnerabilidade natural, foi constatado em alguns dos pontos visitados, a existência de infraestruturas permanentes e móveis, onde ocorre a permanência de turistas e moradores da região, de forma frequente.
Relatório SGB

Diante do cenário, o SGB afirma que há possibilidade de acidentes, mas que é possível manter a atividade turística na região desde que as normas de segurança sejam seguidas. "O lago e seus braços possuem largura suficiente para que as embarcações possam se manter a uma distância maior que uma vez a altura dos paredões", diz o relatório.

O documento ainda faz uma série recomendações aos governos de Sergipe e Alagoas, como:

  • Avaliar a remoção ou contenção de blocos soltos e instáveis de áreas onde é comum a presença humana;
  • Utilizar boias flutuantes na demarcação de perímetros de interesse;
  • Dar preferência a locais onde a face do paredão se afasta da margem do lago;
  • Manter o tráfego de embarcações a uma distância mínima de uma vez a altura do paredão;
  • Evitar visitas e passeios em dias com elevadas previsões de precipitação;
  • Criar um plano de contingência, para ser usado na eventualidade da ocorrência de acidentes;
  • Fiscalizar e proibir a construção ou visitação em áreas protegidas pela legislação;
  • Instalar sistema de alerta para as áreas suscetíveis.
Passeio em embarcações lotadas ocorrem todos os dias no São Francisco - SGB/Divulgação - SGB/Divulgação
Passeio em embarcações lotadas ocorrem todos os dias no São Francisco
Imagem: SGB/Divulgação

Estados prometem cumprir orientações

Segundo o tenente-coronel Luciano Santo Queiroz, diretor do Departamento Estadual de Proteção e Defesa Civil de Sergipe, todas as sugestões do SGB foram acatadas, e as mudanças já estão em curso.

"95% das informações de riscos se devem à proximidade do paredão, e já está se mantendo uma distância segura. A gente vai colocar boias que vão ajudar a balizar o limite em que as embarcações podem chegar porque há rochas que podem se desprender", explica. As boias ficarão a uma distância da metade da altura do paredão.

Segundo Queiroz, as situações que envolvem entes privados, como condutores e empresários que exploram os passeios na área, também já estão sendo resolvidas.

"Nosso trecho de navegabilidade é bastante largo, o que favorece o distanciamento em relação aos paredões. Como foram 13 áreas citadas, a gente tem uma atividade com uma margem de segurança alta hoje", garante.

O coordenador estadual da Defesa Civil de Alagoas, tenente-coronel Moisés Pereira de Melo, afirma que as medidas adotadas pelo estado serão as mesmas de Sergipe, com alguns acréscimos.

"Vamos fazer o redimensionamento das formas quadradas das áreas de banho para retangulares, para tornarem a ação mais segura. Todos os marinheiros irão realizar curso também, nessa parceria com o SGB", diz.

Área delimitada para banho nos passeios será alterada - SGB/Divulgação - SGB/Divulgação
Área delimitada para banho nos passeios será alterada
Imagem: SGB/Divulgação

Outra medida é o monitoramento da área por um geólogo contratado em uma parceria público-privada com as empresas que operam o turismo no local. Além disso, a escada que dava acesso à única gruta da região que recebia visitas será retirada. "Ela só poderá ser vista da dentro da embarcação", diz Melo.

Teremos com isso um risco controlado. Com essas medidas, os cânions do São Francisco passarão a ser os mais seguros do país.
Moisés Pereira de Melo, Defesa Civil de Alagoas

O coordenador do Laboratório de Progeologia da UFS (Universidade Federal de Sergipe), Antônio Jorge Garcia, explica que a região dos cânions se constitui como uma unidade de conservação, o chamado "Monumento Natural do Rio São Francisco".

"Ela foi criada com o intuito de proteger e preservar toda a beleza cênica envolvida pela diversidade geológica presente na área, com todas as suas nuances", explica.

Para ele, as medidas sugeridas pelo SGB, se seguidas pelos estados, podem dar segurança, sem a necessidade de intervenções nas rochas. "Não faz sentido você macular a beleza paisagística de muitos desses pontos se podemos isolar os perigos destacados apenas fazendo com que os turistas mantenham uma distância segura", diz.

Segundo ele, a simples medida de manter um distanciamento seguro em relação a paredões rochosos seria suficiente para evitar tragédias como a de Capitólio. "Não teríamos nem mesmos feridos se isso fosse respeitado", completa.