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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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PE: Preterida por Lula, Marília Arraes ganha apoios e encolhe frente PSB-PT

Marília recebe apoio de André de Paula (PSD), que será candidato ao Senado - Divulgação
Marília recebe apoio de André de Paula (PSD), que será candidato ao Senado Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

18/05/2022 04h00

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Preterida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo governo de Pernambuco, a deputada federal e pré-candidata Marília Arraes (Solidariedade) está conseguindo apoios de partidos e políticos, o que vem causando baixas à frente popular encabeçada por PSB e PT.

Ontem, ela recebeu o apoio do deputado federal André de Paula (PSD), cortejado por vários grupos, que será candidato ao Senado na chapa dela. Outros partidos também negociam e podem desembarcar da frente para apoiar Marília.

Com 22 anos de mandatos seguidos na Câmara, a aliança com André foi considerada uma surpresa. Ele lidera um grupo importante do PSD, que em 2020 elegeu 14 prefeitos em Pernambuco.

O partido era integrante da frente popular e cotado para disputar o Senado ao lado de Danilo Cabral (PSB) —o pré-candidato escolhido para tentar suceder Paulo Câmara (PSB). Com a decisão, a legenda entregou seus cargos tanto no governo como na Prefeitura do Recife. A filha de André, Cacau de Paula, que era secretária de Turismo do Recife, foi uma das que saíram ontem do cargo.

A frente popular decidiu lançar a deputada estadual Tereza Leitão (PT) como pré-candidata ao Senado —o que foi visto como um dos principais motivos para a saída de André do bloco.

Assim como a chapa da frente popular, André e Marília apoiam Lula. A pré-candidata se apega ao fato de que, historicamente, esteve ao lado do petista —ao contrário de Cabral, que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), por exemplo. Entretanto, Lula sinalizou que Cabral é o seu candidato ao governo no estado.

Marília Arraes conversa com Lula, em março, para anunciar saída do PT - Reprodução/Cláudio Kbene - Reprodução/Cláudio Kbene
Marília Arraes conversa com Lula, em março, para anunciar saída do PT
Imagem: Reprodução/Cláudio Kbene

Marília deixou o PT em março, pouco depois de o partido decidir se unir ao PSB na disputa estadual. Em 2020, a então petista teve um duro embate no segundo turno com o candidato do PSB —o seu primo João Campos— à Prefeitura do Recife. Campos foi eleito.

Críticas ao primo

A chegada de André e do PSD fortalece a pré-candidatura de Marília, que já contava com apoios recentes do Pros. Em 2020, por exemplo, Pros e PSD marcharam com João Campos nas eleições municipais.

André de Paula é visto como negociador, por isso sua chegada pode aumentar a chance de partidos apoiarem Marília. A sua pré-candidatura ao Senado já recebeu apoio de PP e Avante —dois partidos que também compõem a frente popular, mas que conversam com Marília.

"A gente mantém diálogo com diversos partidos, mas por enquanto focamos naqueles que compõem a frente popular. Digo que aguarde cenas dos próximos capítulos, porque muitas coisas vão acontecer", disse Marília ontem, no evento em que anunciou André como seu companheiro de chapa.

Firme como de costume em suas palavras, Marília não deixou de lembrar a forma como foi atacada durante a campanha eleitoral de 2020, quando disputou o segundo turno com o primo.

"A gente já sabe a prática deles [do PSB], as campanhas que eles fazem. O povo vai julgar a baixaria e a forma como eles costumam conduzir [as campanhas eleitorais]. Estamos preparados para isso, sem fazer baixaria, como eles fazem", afirma.

Disputamos em condições desfavoráveis [a prefeitura em 2020] por conta de tudo o que aconteceu. Mas o que eles acusaram não é verdade, seja relacionado a minha fé, seja a minha conduta. O povo de Pernambuco enxerga isso hoje."
Marília Arraes, pré-candidata ao governo de Pernambuco, sobre a disputa em 2020

Procurado pela coluna, o diretório do PSB em Pernambuco não se manifestou sobre as críticas de Marília.

Primos de 2º grau, João Campos e Marília Arraes disputaram o 2º turno da prefeitura do Recife em 2020 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Primos de 2º grau, João Campos e Marília Arraes disputaram o 2º turno da Prefeitura do Recife em 2020
Imagem: Reprodução/Facebook

"Momento exige", diz André

Também ontem, em entrevista coletiva, o deputado André de Paula justificou que a escolha por Marília ocorreu porque o momento atual do país exige uma coalizão de pensamentos diferentes, mas que defendam a democracia. Como exemplo, ele citou a chapa de Lula e Geraldo Alckmin (PSB).

"Nós não somos iguais, temos posições e ideias distintas, mas temos responsabilidade e entendemos a gravidade do momento. Isso nos faz ter responsabilidade, colocar de lado aquilo que é acessório", pontua ele, que é um político de centro-direita e foi a favor de projetos rejeitados por Marília, como a Reforma da Previdência.

A explicação, porém, também pode estar nos números, já que a colega deputada lidera as pesquisas.

Segundo levantamento divulgado ontem pelo instituto Paraná Pesquisas, Marília Arraes tem 28,8%, seguida por Raquel Lyra (PSDB), com 16%; Miguel Coelho (União Brasil), com 13,6%; Anderson Ferreira (PL), com 12,1%; e Danilo Cabral (PSB), com 7,1%.

Segundo André de Paula, a ideia da dupla, a partir de agora, é avançar no diálogo e buscar mais apoios para a chapa. Ele brincou dizendo que "o primeiro resultado desse diálogo sou eu aqui".

Vou conversar com prefeitos, vices, companheiros, mas também com todos os pernambucanos. Vou fazer um trabalho de convencimento de que Marília é a melhor alternativa nos próximos quatro anos para Pernambuco."
André de Paula, pré-candidato ao Senado pelo PSD

Baixa popularidade pressiona frente

Para Arthur Leandro, cientista político e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Marília Arraes tem uma trajetória política diferente da dos personagens de esquerda, o que faz com que ela consiga avançar em mais alas políticas.

"Ela faz o tipo de um ator político que se posiciona de maneira isolada em meio às legendas que ela eventualmente ocupa. Ela tem essa posição um tanto autônoma em relação à orientação geral de partido. Isso fez com que ela saísse do PSB e, depois de uma instância relativamente longa no PT, sai para poder lançar sua candidatura", conta.

Para ele, a frente popular enfrenta uma dificuldade pelo elevado nível de reprovação do governo. "A gestão de Paulo Câmara tem uma baixíssima popularidade: quase dois terços dos pernambucanos consideram o governo ruim ou péssimo. Isso é um fator que interfere na disputa", pontua.

Paulo Câmara e o pré-candidato ao governo de PE Danilo Cabral em encontro com Lula                              - RICARDO STUCKERT                             - RICARDO STUCKERT
Paulo Câmara e o pré-candidato ao governo de PE, Danilo Cabral, em encontro com Lula
Imagem: RICARDO STUCKERT

Diante desse cenário, ele afirma ser natural acontecer algumas baixas na campanha de Danilo Cabral.

"Se a gente pensa em termos de aliados e adversários, Marília se coloca como uma adversária forte ao Palácio do Campo das Princesas porque tem um capital político [nesse campo] construído ao longo dos últimos anos e ela pode ser beneficiada com defecções da base do governo", diz.

Ainda de acordo com Leandro, apesar de Lula ter afirmado que em Pernambuco vai apoiar Danilo Cabral, Marília deve se beneficiar de muitos votos dos lulistas no estado.

"O eleitor se identifica mais facilmente Marília com Lula do que Danilo Cabral com Lula, já que Danilo é uma figura relativamente desconhecida no cenário pernambucano", afirma.

Por fim, ele afirma que muitos partidos do centro devem esperar uma definição mais clara do cenário eleitoral para sacramentar apoios. Ou seja, se Marília continuar como líder nas pesquisas, deve conseguir mais legendas a seu favor.

"Esse centro não ideológico aguarda definição da situação. A tendência é acompanhar com interesse o que ocorre na campanha federal e estadual para definir como ocupar os seus palanques", finaliza.