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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Ciro contesta apoio de intelectuais a Lula: 'Vamos suicidar o país?'

Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, Ciro Gomes (PDT) e Márcia Abrahão Moura, reitora da UnB - Carlos Madeiro/UOL
Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, Ciro Gomes (PDT) e Márcia Abrahão Moura, reitora da UnB Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Colunista do UOL

29/07/2022 14h54Atualizada em 29/07/2022 14h56

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O candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, questionou hoje o apoio de intelectuais, artistas e juventude brasileiros ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A carta em defesa da democracia lançada na última terça-feira (26) por juristas e pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) ultrapassou hoje a marca de 400 mil assinaturas. Outros artistas também já declararam o voto em Lula, como a cantora Anitta.

Em palestra na SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) a professores, pesquisadores e militantes, na UnB (Universidade de Brasília), o pedetista arrancou aplausos em vários momentos, mas ponderou que, apesar de suas ideias serem bem aceitas, não consegue alcançar uma boa intenção de voto.

"Eu estou em terceiro nas pesquisas", disse, após aplausos ao apresentar sua proposta de modelo econômico.

Para ele, o problema está no ambiente polarizado e nos ataques políticos, que levaram parte desses intelectuais a escolherem Lula como a única possibilidade para derrotar Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.

"Não é certo que o pensamento progressista imponha, por oportunismo, que a nossa tarefa é só derrotar o fascismo. Não é. É preciso formular o dia seguinte, senão replicamos as bravatas. Nosso modelo econômico está superado, e vamos seguir, suicidar o país?"

Em sua fala, Ciro criticou a ideia de Lula de manter a cúpula do Banco Central. "O Lula disse isso, o que significa manter os juros, o câmbio. Comigo [essa direção] não fica um dia", afirmou, também seguido de aplausos.

"Se a gente faz tudo igual, silogisticamente, vamos ter o mesmo resultado. Só que agora é piorado, porque tudo no Brasil está se deteriorando em todas as áreas. Vivemos a pior crise da história deste país", afirmou.

Ao final, ele fez uma espécie de apelo para que os intelectuais não caiam no "golpe" de que só se pode governar com conchavos.

"Agora se disseminou na elite, no melhor sentido que falo, de acadêmicos, de intelectuais, de artistas, que vamos ter que ser pragmáticos, que é assim mesmo para ter governabilidade. Papo furado! Itamar Franco foi o único que não governou com essa turma e criou um ambiente para criar o Plano Real. Nós precisamos mudar isso", disse. Ele fez parte da equipe de Itamar durante a estabilização da nova moeda.

Ele também disse que, se não vencer neste ano, não quer mais concorrer à Presidência.

Gabinete do ódio do PT

Ciro disse ainda que existe no país "uma imensa maioria calada" porque o ambiente hoje "é de lacração, de cancelamento, de grosserias e violência política".

"Isso não é só o Bolsonaro que comete. O comportamento do gabinete do ódio do PT e do Lula é um dos mais execráveis, mas o Lula fica posando de bonzinho. Só que os insultos e as mentiras são tão graves como as do Bolsonaro."

Voltando a dizer que quer reconciliar a nação, pediu que a elite intelectual repense seu apoio. "O que estamos pedindo aos jovens, aos artistas, aos intelectuais é que não se bastem de um ângulo só da agenda, que é 'vamos derrotar o fascismo'. E o Bolsonaro nasceu onde? Em Marte? Cavalgando de um meteoro?", questionou.

"Quem produziu Bolsonaro foi a tragédia econômica e moral que o Lula representa no país. E o que ele cometeu lá atrás, comete hoje: está abraçado com Eunício [Oliveira] no Ceará, com Renan [Calheiros] em Alagoas, com Geddel [Vieira] na Bahia. Está abraçado aos grandes bandidos da Lava Jato", completa.

Sobre o porquê não consegue crescer nas pesquisas, ele diz que o problema não é ele. "É o método do debate. É preciso exigir do Lula que se comporte, que tenha compostura. Como a gente pode aceitar que o Lula seja eleito, em uma eleição em que o maior prejudicado será o próprio Lula?"

"Vai ser o maior estelionato eleitoral, com essa conversa de que vai ter mel, cerveja e picanha [após Lula vencer]. A crise não permite esse grau de irresponsabilidade", finaliza.