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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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PSB rompe com Lira, desiste de coligação e lança nome ao Senado em Alagoas

Lira discursa e, ao fundo, está seu candidato ao Senado em Alagoas, Davi Davino Filho - Reprodução/Facebook
Lira discursa e, ao fundo, está seu candidato ao Senado em Alagoas, Davi Davino Filho Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

09/08/2022 04h00

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Depois de apalavrado com o bloco político do deputado federal Arthur Lira (PP) em Alagoas, o PSB decidiu em cima da hora não se coligar com o candidato ao governo da chapa, Rodrigo Cunha (União Brasil).

Além disso, lançou um nome ao Senado para concorrer contra o candidato do PP ao mesmo cargo, o que foi visto como um "recado" ao grupo.

A decisão foi tomada em convenção, no último sábado, que formalizou a neutralidade do PSB em relação à disputa ao governo estadual e escolheu o Major Diego para concorrer ao Senado.

O lançamento do militar feriu o acordo de ter apenas um nome contra o MDB nas eleições de outubro. A ideia era que as forças de oposição se unisse em torno do deputado estadual Davi Davino Filho (PP) para disputar a única cadeira de Alagoas contra o ex-governador Renan Filho (MDB).

A proposta de candidato único também incluía outro grupo político, o do senador Fernando Collor (PTB), que é candidato ao governo com apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) e não lançará nome ao Senado para apoiar —mesmo que talvez sem declarar oficialmente— Davino.

Desavença com pai de prefeito

A coluna apurou que a desavença que gerou o rompimento não teve a ver diretamente com o PSB, mas com o ex-deputado federal João Caldas, pai do prefeito de Maceió e presidente do PSB no estado, João Henrique Caldas, o JHC.

A história é longa. João Caldas se filiou ao União Brasil recentemente para concorrer a deputado federal neste ano. Ele via na sigla uma oportunidade maior de conseguir uma das nove vagas do estado. O acordo com o União Brasil para Caldas ser candidato incluía o apoio formal do PSB a Cunha e a Davino.

Entretanto, o PSB nacional não gostou de saber que, na costura local, o PSB abria mão de indicar qualquer nome ao governo ou ao Senado. Também não montaria chapa para deputado federal.

JHC e o pai, o ex-deputado federal João Caldas - Reprodução - Reprodução
JHC e o pai, o ex-deputado federal João Caldas
Imagem: Reprodução

Nos bastidores, houve pressão do senador Renan Calheiros (MDB) pelo apoio do PSB nacional a seu candidato ao governo —o governador Paulo Dantas, do MDB. Ele inclusive teria oferecido uma composição na chapa majoritária.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, cobrou JHC pela elaboração de uma chapa competitiva para garantir ao menos um nome do partido na Câmara a partir de 2023.

Sem um outro nome forte, João Caldas desistiu de sua candidatura para abrir caminho para que seu outro filho, o médico João Antônio, passasse de candidato a deputado estadual para federal em nome da família.

João Caldas procurou então o União Brasil para dizer que queria ser suplente de Davino ou candidato a deputado estadual. Mas, segundo a coluna apurou, o partido não aprovou a proposta porque a primeira suplência já estava acertada com o PSDB.

Já a entrada como deputado estadual nem chegou a ser discutida, porque só poderia ser feita em comum acordo com todos os candidatos do partido.

Em Alagoas, o União Brasil é comandado por um aliado de Arthur Lira. O presidente do diretório no estado é Luciano Ferreira Cavalcante, assessor e homem de confiança do presidente da Câmara.

Vetada a candidatura, Caldas articulou com JHC o recuo da coligação acertada com o União Brasil (que perde tempo de rádio e TV, por exemplo) e aprovou o nome ao Senado, num claro recado a Lira. O caso de João Caldas, dizem aliados, serviria apenas como "desculpa" para o rompimento.

A reportagem ainda apurou que Lira desconfia que a família Caldas estaria disposta a largar Cunha —que aparece apenas na terceira colocação das pesquisas de intenção de votos— para concentrar esforços na candidatura de João Antônio à Câmara, mesmo ela sendo vista como difícil por especialistas devido à falta de outros nomes fortes.

A política dá muitas voltas. JHC era o preferido de Lira para concorrer ao governo, mas ele não quis renunciar ao cargo de prefeito. Então se colocou como o maior negociador para conseguir o apoio de Lira a Rodrigo Cunha, seu principal aliado desde a vitória pela Prefeitura de Maceió, em 2020.

Senador Rodrigo Cunha tem o apoio de Arthur Lira e de JHC na disputa pelo governo do estado - Waldemir Barreto/Agência Senado  - Waldemir Barreto/Agência Senado
Senador Rodrigo Cunha tem o apoio de Arthur Lira e de JHC na disputa pelo governo do estado
Imagem: Waldemir Barreto/Agência Senado

O candidato ao Senado do grupo, Davi Davino Filho, disse à coluna, por meio de sua assessoria de comunicação, que não iria comentar o caso. Arthur Lira também não conversou com a reportagem.

A coluna procurou JHC, por meio de sua assessoria, para saber se iria continuar apoiando Cunha, mas não houve retorno. Mas a reportagem apurou que o apoio será mantido. Cunha está licenciado do Senado. Enquanto isso, a mãe de JHC, Eudócia Caldas, assumiu a cadeira pelos próximos três meses.