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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Agosto tem 33 mil focos de queimada na Amazônia, pior mês da era Bolsonaro

Apuí, no Amazonas, um dos cinco municípios que mais sofrem com queimadas em agosto - Christian Braga/Greenpeace
Apuí, no Amazonas, um dos cinco municípios que mais sofrem com queimadas em agosto Imagem: Christian Braga/Greenpeace

Colunista do UOL

31/08/2022 12h07Atualizada em 01/09/2022 14h33

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Agosto terminou com 33.116 focos de queimadas registrados na Amazônia, se tornando o mês com o maior número de incêndios florestais da gestão de Jair Bolsonaro (PL), iniciada em janeiro de 2019. Os dados são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A marca de 2022 supera inclusive a do ano de 2019, quando o bioma alcançou 30,9 mil focos, chamando a atenção de todo o planeta e gerando uma série de reações de governos e entidades internacionais.

Focos para o mês de agosto por ano:

  • 2010 - 45.018
  • 2011 - 8.002
  • 2012 - 20.687
  • 2013 - 9.444
  • 2014 - 20.113
  • 2015 - 20.471
  • 2016 - 18.340
  • 2017 - 21.244
  • 2018 - 10.421
  • 2019 - 30.900
  • 2020 - 29.307
  • 2021 - 28.060
  • 2022 - 33.116

Fonte: Inpe

O pior número de queimadas até então no governo Bolsonaro havia sido em setembro de 2020, quando foram registrados 32.017 focos de calor na Amazônia.

A alta no mês de agosto está diretamente ligada à expansão do uso do fogo na última quinzena do mês, quando os focos de calor explodiram na Amazônia. O principal afetado é o estado do Pará, que tem as três cidades com piores números.

Somente nas últimas 48 horas, o município de Altamira (PA) registrou a incrível marca de 325 focos de calor. Devido aos incêndios florestais, a cidade vem sofrendo com névoa e fuligem.

Cidades com mais focos em agosto (até o dia 30):

  1. Altamira (PA) - 2.852
  2. São Félix do Xingu (PA) - 2.522
  3. Novo Progresso (PA) - 1.957
  4. Apuí (AM) - 1.874
  5. Lábrea (AM) - 1.565
  6. Porto Velho (RO) - 1.547
  7. Colniza (MT) - 1.284
  8. Itaituba (PA) - 1.132
  9. Novo Aripuanã (AM) - 1.092
  10. Feijó (AC) - 885

Com setembro, agosto é quando acontece a temporada do fogo. Nesse período, chove menos e a Amazônia fica mais seca, favorecendo os incêndios florestais.

O número recorde neste ano foi alcançado no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro falava que era mentira a fama de que país virou um destruidor da Amazônia em seu governo.

Em nota, o WWF-Brasil informou que as queimadas —e o desmatamento associado a elas— "estão fora de controle na Amazônia desde 2019, quando teve início a política de desmantelamento dos sistemas federais de proteção ambiental que marca a gestão de Jair Bolsonaro".

Ainda de acordo com a entidade, o descontrole das queimadas observado nos últimos quatro anos está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período.

"A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural. Os incêndios não surgem de forma espontânea no bioma e sua ocorrência está sempre associada a ações humanas —em especial ao desmatamento e à degradação florestal", diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.

Em todos os quatro anos que correspondem à atual gestão federal o número de focos de queimadas na Amazônia teve valores próximos ou superiores a 40 mil entre janeiro e agosto. Já nos dez anos anteriores (2009-2018), a média de focos no mesmo período foi de cerca de 28 mil focos."
WWF-Brasil

Vitão observa queimadas na região de Apuí (AM) enquanto sobrevoa a floresta amazônica - Victor Moriyama/Greenpeace - Victor Moriyama/Greenpeace
Queimadas na região de Apuí (AM) vistas durante sobrevoo pela floresta amazônica
Imagem: Victor Moriyama/Greenpeace

Limpeza de área

As queimadas na Amazônia fazem parte, em regra, de um processo de limpeza do terreno após um processo de desmatamento. É o fogo que destrói os restos orgânicos e deixa a área pronta para virar pasto e servir para criação de gado.

No primeiro semestre de 2020, a Amazônia já havia registrado uma alta de 17% nas queimadas.

"Estamos chegando perto da metade da estação de fogo na Amazônia e já estamos registrando mais de 3.000 focos em um só dia. Acho que podemos esperar mais queimadas, pois tem o que queimar, muito desmatamento ocorreu", diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas Fogo.

Os dados do Inpe revelam que, de agosto de 2021 até julho de 2022, foram derrubados 8.590,33 km² do bioma, área maior que a da Grande São Paulo. A taxa é a terceira maior do histórico recente do Deter, iniciado em 2015.

Se somadas as queimadas por dia neste ano, o número registrado até ontem está 13% maior que o mesmo período de 2021: foram 39.274 até 30 de agosto no ano passado, contra 44.419 em 2022.

Neste mês também houve um dia em que as queimadas explodiram, alcançando a pior marca em 12 anos com 3.358 focos em apenas 24 horas —superando inclusive o 'Dia do Fogo' de 2019.

Entre os dias 10 e 11 de agosto de 2019, desmatadores decidiram, de forma coordenada, atear fogo às margens da BR-163, no Pará, com foco em Novo Progresso. Naqueles dois dias, o Inpe detectou 1.457 focos de calor no estado.

O chamado 'Dia do Fogo' ocorreu em 10 de agosto de 2019 - Reuters - Reuters
O chamado 'Dia do Fogo' ocorreu em 10 de agosto de 2019
Imagem: Reuters

Bioma sendo destruído

Por conta da destruição da Amazônia, em 40 anos o bioma ficou 1ºC mais quente e assistiu a uma redução no nível de chuvas de até 36% em algumas áreas. Os reflexos do desmatamento e do aquecimento global levam cientistas a suspeitar que a floresta deixou absorver para emitir dióxido de carbono (CO2) —principal gás causador do efeito estufa. Mais do que isso até: eles têm a certeza de que hoje ela já afeta o clima global.

Em julho deste ano, um estudo publicado na revista "Frontiers in Earth Science" apontou que a Bacia do Rio Amazonas —que desempenha um papel essencial na regulação do clima global— enfrenta um aumento das condições de seca e degradação.

Segundo os pesquisadores, 757 mil km² (ou 12,67% da bacia) tiveram terras degradadas em duas décadas. Isso, dizem os cientistas, levou a uma "tendência de queda na dinâmica da produtividade da terra seguida pela tendência combinada de queda na produtividade da terra".