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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Líderes evangélicos instigam atos golpistas com 'guerra espiritual' no país

Postagem incentiva "luta" do "bem" contra o "mal" no país - Reprodução
Postagem incentiva "luta" do "bem" contra o "mal" no país Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

11/11/2022 04h00

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Os atos que pedem intervenção militar em frente aos quartéis pelo país estão tendo apoio de boa parte da extrema direita evangélica, que tem tratado as manifestações golpistas como parte de uma "guerra espiritual".

Na ótica deles, Jair Bolsonaro (PL) é uma espécie de enviado de Deus contra o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chega a ser tratado como um político que fez "pacto com o demônio".

Segundo o relatório semanal divulgado ontem pela Casa Galileia, uma organização que reúne pesquisadores e promove iniciativas plurais para públicos cristãos católicos e evangélicos, o discurso que tomou corpo nesta semana é que "uma guerra espiritual está sendo travada no Brasil".

O termo é usado por esses grupos como uma referência de "luta do bem contra o mal", representado por Bolsonaro (no caso, o bem) contra Lula (no caso, o mal).

O relatório semanal fez a análise de mais de 1.600 postagens em 37 páginas monitoradas do Facebook e 174 perfis do Instagram. Já no YouTube foram 495 vídeos e 89 canais analisados.

Nos canais monitorados, alguns na casa do milhão de inscritos e seguidores, há compartilhamento de "profecias" e teorias da conspiração com "uma narrativa de que a batalha não está terminada".

Em um desses canais, diz o relatório, "o pastor Rubens Gabriel alertou que muitos fiéis não entenderam a profecia do Senhor revelada a ele, que não afirmava que Bolsonaro ganharia as eleições, mas que Deus daria uma estratégia ao presidente, alertando os crentes a permanecerem atentos".

Algumas revelações também sugerem a morte ou um problema de saúde grave do presidente eleito Lula, insistindo que ele pagará pelos acordos feitos com o demônio."
Relatório da Casa Galileia

Ainda de acordo com o levantamento, a extrema direita evangélica segue apoiando as manifestações antidemocráticas, "alimentando narrativas de suspeita ao resultado das urnas" e "assumindo uma posição de denúncia ao estado de censura no Brasil".

Montagem tenta passar ideia de que eleição foi fraudada porque um ato de Bolsonaro reuniu mais pessoas  - Reprodução - Reprodução
Montagem tenta passar ideia de que eleição foi fraudada porque um ato de Bolsonaro reuniu mais pessoas
Imagem: Reprodução

Entre os cabeças das redes, como Silas Malafaia e os eleitos Magno Malta (PL-ES) e Ana Campagnolo (PL-SC), há incentivos para que os manifestantes sigam nas ruas e cobrem explicações sobre uma "fraude" do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do presidente da Corte, Alexandre de Moraes.

Nas páginas, perfis e canais, "a maioria defende abertamente as manifestações pacíficas, argumentando o direito da população de questionar e pedir esclarecimentos".

Até mesmo a presença da atriz Cássia Kis, da TV Globo, é destaque em um desses sites. Em outras postagens, é possível ver também ataques à esquerda com as tradicionais mentiras de que ela vai implantar ideologia de gênero e que vai regular as igrejas.

Também é comum o uso de vídeos das manifestações, sempre com pessoas orando e pedindo intervenção de Deus em prol do país. "Todo o Brasil parando e orando", fala o pastor Geovani Dias, do canal "O Povo da Fé", em vídeo no YouTube com mais de 654 mil visualizações.

Os comentários da página são sempre de apoio e, muitas vezes, demonstram emoção. "Chorei quando vi o povo de joelhos orando. Deus é bom. Nossa nação será liberta em nome de Jesus", diz uma fiel. "Moro nos EUA, mas estou tão feliz do povo unido nessa hora. Estou acompanhando tudo, chorando com vocês", completa outra.

Imagens de vídeo do canal "O povo da fé" mostra pessoas rezando na porta de quartel - Reprodução - Reprodução
Imagem de vídeo do canal "O Povo da Fé" mostra pessoas rezando na porta de quartel
Imagem: Reprodução

Imprensa também é alvo

Um dos pontos criticados pela militância de extrema direita é a "omissão da cobertura às manifestações pela imprensa oficial". Isso, diz o texto, "tem sido um foco de denúncia recorrente nos perfis".

Quem fez vídeo nessa linha atacando a imprensa foi o pastor Silas Malafaia em seu canal do YouTube —que tem mais de 1,6 milhão de inscritos. Em um vídeo chamado "Afronta ao povo brasileiro", gravado no domingo, ele diz que, "quando eram atos de quebra-quebra da esquerda, nunca vi a imprensa chamar de atos antidemocráticos".

Entre os vídeos e postagens visitados pela coluna, são comuns discursos para animar a militância de que as Forças Armadas "estão agindo" ou "vão agir" para evitar a posse de Lula.

Chamada de vídeo em canal diz que Forças Armadas estão agindo para impedir posse de Lula - Reprodução - Reprodução
Chamada de vídeo em canal diz que Forças Armadas estão agindo para impedir posse de Lula
Imagem: Reprodução

Censura

Outro ponto que foi destacado pelo relatório é a narrativa de que as páginas que foram tiradas do ar seriam uma "comprovação" da perseguição e censura contra cristãos.

O destaque foi o caso do deputado federal eleito Nikolas Ferreira, que teve seus perfis nas redes derrubados por decisão judicial.

"Bella Falconi também se destacou com um post pedindo ajuda a Elon Musk: 'Tá tudo caindo. Tô me sentindo em Jericó', sugerindo que o empresário, agora dono do Twitter, também comprasse a Netflix e o WhatsApp."

Vale destacar que muitas publicações que se posicionaram no TOP de engajamento do Instagram e do Facebook estavam fora do ar, sobretudo posts de Nikolas e de Bella Falconi. O Pleno News também destacou que Carla Zambelli vai denunciar censura à Corte dos Direitos Humanos nos EUA."
Relatório da Casa Galileia