Mortes de crianças indígenas sobem 24% no primeiro ano de Lula, diz Cimi
O Brasil registrou, em 2023, um aumento de 24,5% no número de mortes de crianças indígenas entre 0 e 4 anos. Segundo o relatório divulgado hoje pelo Cimi (Conselho Missionário Indigenista), foram 1.040 óbitos, o maior número já apontado desde o início da contabilidade anual dos dados, em 2003.
Para chegar ao número, o Cimi usou como base o SIM (Sistema de Informação Sobre Mortalidade) e a Sesai (Secretaria de Saúde Indígena), órgãos ligados ao Ministério da Saúde.
O maior número de mortes ocorreu no Amazonas (295), seguido por Roraima (179) e Mato Grosso (124).
O relatório também mostra que o número de mortes nessa faixa etária por causas evitáveis também foi o maior da série e alcançou 670 casos em 2023.
A definição de causas evitáveis leva em conta "enfermidades, transtornos e complicações que poderiam ter sido controladas por meio de ações de atenção à saúde, imunização, diagnóstico e tratamento adequados".
Principais causas de mortes evitáveis entre indígenas (0 a 4 anos):
- Gripe e pneumonia - 143
- Diarreia e doenças infecciosas intestinais - 88
- Desnutrição - 57
- Infecções específicas e transtornos no período perinatal - 55
- Síndrome de aspiração neonatal, hipóxia intrauterina e asfixia ao nascer - 44
Também chama atenção a quantidade de mortes decorrentes de doenças causadas por protozoários (26 casos), como malária, toxoplasmose e leishmaniose.
Cimi
Um dos pontos citados é como as terras indígenas seguem sendo alvo de invasões, lembrando das doenças que são levadas para dentro de territórios de povos indígenas.
A presença garimpeira não cessou em 2023. Os esforços do Estado brasileiro foram insuficientes. Com a manutenção da atividade criminosa, a deterioração das condições de vida dos Yanomami se tornou incorrigível pela disseminação de doenças (malária, tuberculose, infecções respiratórias agudas, anemias), acrescida pela mortalidade infantil, em um contexto de quadros agudos de desnutrição e contaminação por mercúrio.
Iara Tatiana Bonin, doutora em educação pela UFRGS e autora de artigo no relatório do Cimi
Mortes sem assistência e suicídios
Os dados oficiais ainda revelaram que 111 indígenas morreram em 2023 por falta de assistência à saúde. Mais da metade dessas vítimas (56 ao todo) tinha 60 anos ou mais de idade. O problema também atingiu 29 crianças indígenas com até 4 anos.
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Quero receberO número também representa uma alta em relação a 2022, quando foram 76 casos citados no relatório anual do Cimi.
O Brasil registrou ainda 180 suicídios de indígenas em 2023. O Amazonas, com 66 casos, liderou o número de casos — em 2022, foram 115 casos.
A maioria dos suicídios (69,4%) foi cometida por homens indígenas. Embora a maior parte das vítimas (112) esteja compreendida na faixa entre 20 e 59 anos de idade, chama atenção a alta incidência de suicídios entre indígenas muito jovens. Em 2023, 59 indígenas com até 19 anos de idade cometeram suicídio -- mais de um terço do total registrado no ano.
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