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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Ala evangélica ignora líderes e apoia bloqueios pelo país: 'Agora é guerra'

Página que se intitula de fiéis da Assembleia de Deus e que tem mais de 600 mil seguidores publica fake news sobre eleição - Reprodução
Página que se intitula de fiéis da Assembleia de Deus e que tem mais de 600 mil seguidores publica fake news sobre eleição Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

01/11/2022 21h26Atualizada em 01/11/2022 21h41

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As manifestações antidemocráticas que fecham rodovias e avenidas pelo país desde a noite do domingo (30) estão recebendo apoio de um grupo minoritário da extrema direita evangélica.

A informação consta no relatório de monitoramento divulgado hoje pela Casa Galileia, uma organização que reúne pesquisadores e promove iniciativas plurais para públicos cristãos católicos e evangélicos.

O documento analisa os perfis das redes sociais de líderes e páginas com foco no público evangélico.

O levantamento cita que as cabeças da rede de extrema direita evangélica aceitaram o resultado das urnas e publicaram mensagens de conforto espiritual para os fiéis e orações para Lula, mas aponta a existência de uma ala que não só aderiu aos atos como pede intervenção em uma declaração de "guerra".

Segundo o relatório, produtores de alguns dos canais mais visitados do YouTube e do Instagram têm alimentado o público com postagens das aglomerações pelo país e, em alguns casos, até participam de atos.

Postagem de líder religioso após fala de Bolsonaro nesta terça: apoio ao presidente - Divulgação - Divulgação
Postagem de líder religioso após fala de Bolsonaro nesta terça: apoio ao presidente
Imagem: Divulgação

Entre os argumentos usados, o principal é justamente aquele que mais se ouve entre os radicais: a de que a eleição foi fraudada e o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o vencedor do segundo turno da eleição presidencial contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Um exemplo é o líder Robson Calabianqui (Fuinhar), que tem 1 milhão de seguidores no Instagram. Ele participou de manifestação e defendeu o silêncio de Bolsonaro como um sinal para que mantivesse o engajamento. Após a fala do presidente nesta tarde, ele fez nova postagem de apoio, entendendo a fala como de incentivo aos atos.

A pastora Valdirene Moreira, com 314 mil inscritos em seu canal do YouTube, também está nas ruas. Ela divulga vídeos chamando evangélicos a engrossar o movimento.

"A pastora afirma que recebeu um link que comprova que Bolsonaro venceu as eleições no primeiro turno e que as urnas foram fraudadas. Também menciona o artigo 142, por isso os cristãos devem ser corajosos e cumprir sua missão patriota de defender a nação", cita o relatório.

Outras páginas ultrapassam a centena de milhares de seguidores, como "Assembleianos de Valor". "A página está cobrindo as manifestações e inflamando seus seguidores a apoiarem as ações: 'Começou a guerra'. Apesar de os cabeças da rede não aderirem a essas movimentações, vale destacar os discursos de apoio e manter o acompanhamento da repercussão", aponta o documento.

Postagem em conta de Instagram evangélico com defesa aos atos antidemocráticos - Reprodução - Reprodução
Postagem em conta de Instagram evangélico com defesa aos atos antidemocráticos
Imagem: Reprodução

Nas postagens da página, que tem 643 mil seguidores, é possível ver argumentos como o pedido para recontagem de votos.

Outros líderes evangélicos, diz o relatório, como os canais de Carlos Heinar e Dionísio Souza, também publicaram vídeos induzindo que houve fraude no processo eleitoral e que "ainda não acabou".

Ataques ao PT com mentiras

Outro grupo analisado pelo relatório, de líderes evangélicos que têm ou terão mandato a partir de 2023, "estão cumprindo a função de inflamar as narrativas sobre o caos do governo do PT, como se Lula já tivesse assumido a Presidência".

Diz o documento que esse grupo "insiste em compartilhar informações falsas", como a de que a Bolsa de Valores caiu, que o país já está sofrendo retaliações do mercado financeiro e que roubos e invasões já estão permitidos. Teve até quem falasse que "uma mãe com uma filha foi obrigada a dividir o mesmo banheiro com um homem".

"Apesar de não publicarem diretamente apoio às manifestações pelo país, essas narrativas funcionam como um inflamador de eleitores de Bolsonaro, que podem se desesperar e irem às ruas. Ana Campagnolo [deputada estadual em Santa Catarina] gravou um 'stories' com a filha de 2 anos no colo e escreveu aterrorizando a pequena para ir crescendo com desprezo comunista", acrescenta o relatório da Casa Galileia.