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Assassinato de três guajajaras no Maranhão causa terror em povo de ministra
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Em apenas uma semana, o povo guajajara, no Maranhão, teve três indígenas assassinados e dois feridos em tentativas de assassinato. A situação nos territórios é de terror causado pela insegurança e elevada tensão no conflito com invasores.
Os crimes têm um outro significado especial: a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, é da etnia e uma das líderes históricas do povo.
As mortes ocorreram logo após uma reunião da OAB-MA (Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão) com 47 caciques de 109 aldeias do povo guajajara, que resultaram em denúncia e manifestações de autoridades contra as violações.
O último caso, ocorrido no dia 31, vitimou Raimundo Ribeiro da Silva, 57. Ele foi assassinado dentro da aldeia Abraão, no município de Arame. Além de morador, ele era funcionário da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
"A terra dos guajajaras é muito rica, e a gente percebe a ausência do estado em todas as esferas", afirma o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA, Erik Moraes.
Ele conta que, na visita ao local, percebeu o "clima de terror".
Tivemos de fazer uma reunião mega-secreta. Ninguém sabia onde ia ser. Fizemos em uma aldeia com a presença de seguranças e rota de fuga
Erik Moraes
50 assassinatos em 19 anos
A violência no território é endêmica: segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), entre 2003 e 2021, 50 guajajaras foram assassinados no Maranhão, e 21 deles viviam na terra Araraboia —onde vivem também os povos Awá Guajá e Awá (este último, isolado).
Erik conta que a comissão da OAB fez um diagnóstico que apontou para "todos os tipos de violência possível" sofridos pelos guajajaras.
Eles estão cercados por invasores, pelo agronegócio, por posseiros. Tem várias fazendas e bares dentro da terra, tudo ilegal. Ou seja, eles estão sitiados do próprio território.
Erik Moraes
Para tentar proteger o território, os guajajaras possuem um batalhão próprio, chamado Guardiões da Floresta. Hoje existem 170 no Território Arariboia.
"Eles fazem o que deveria ser feito pelo estado brasileiro. Agora, por essas represálias porque a gente luta pelo que é nosso, estamos sendo assassinados", conta o cacique João Pedro Guajajara, coordenador regional da Comissão de Caciques e Lideranças Indígenas da Terra Indígena Arariboia.
Nossa vida agora é dia após dia. Chegou ao ponto de dentro das nossas casas não termos mais segurança. Os invasores vêm e matam nossos parentes. A gente vive todo dia com essa preocupação com o nosso povo.
João Pedro Guajajara, cacique
Ele ainda relata que as invasões na terra causam uma série de outros problemas. "Além das invasões, hoje aqui temos prostituição, alcoolismo, retenção de cartão de aposentados", cita.
Houve um completo abandono de políticas públicas para esses povos. Nesses municípios onde tem terra não há discussão sobre parar de explorar os recursos esses territórios. Essas mortes acontecem e outras estão por vir, se não houver uma prevenção.
Gilderlan Rodrigues da Silva, coordenador do CIMI no Maranhão
Repercussão
Em nota, a ministra Sônia Guajajara disse que, logo após receber a notícia da última morte, convocou uma reunião de emergência com o governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), para "discutir e definir urgentemente ações para apurar o caso." O encontro ocorreu no mesmo dia 31, e o governador chegou a grava um vídeo com a ministra falando dos casos.
A escalada de violência na região tem trazido medo e insegurança aos moradores. A ministra solicitará ao governador e à secretaria de direitos humanos do Maranhão que tomem as medidas cabíveis para aprofundar a investigação sobre esses assassinatos e garantir a presença das forças de segurança pública na região.
Nota do Ministério dos Povos Indígenas
O governo do estado informou à coluna que já reforçou o "policiamento ostensivo e preventivo" na Terra Indígena.
O Estado reforça que tem trabalhado para dar todo o suporte necessário às forças de segurança federais para que os casos sejam solucionados. Sendo necessário que as pessoas envolvidas em casos de violência contra indígenas sejam responsabilizadas, também foi tratada a necessidade de parceria institucional entre o Estado e a União a fim de preservar a vida indígena."
Nota do Governo do Maranhão
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