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Com peixes em extinção, São Francisco terá berçário para repovoar rio
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Ao longo dos últimos anos, o Baixo São Francisco (região entre Alagoas e Sergipe) tem enfrentado o desaparecimento de peixes, ao mesmo tempo em que novas espécies predadoras tomaram espaço da população nativa.
Para tentar reequilibrar o ecossistema, uma lagoa hoje assoreada será recuperada para criar um berçário natural e repovoar o rio.
Qual é o plano
- A ideia é recuperar uma lagoa assoreada em Alagoas e replicar as condições naturais, criando um novo berçário natural.
- O projeto deve reintroduzir ao menos sete espécies nativas que sumiram ou estão em processo de extinção.
- Os peixes vão ficar nessa lagoa até que atinjam a fase reprodutiva e só depois serão soltos.
- O objetivo é que de 5 milhões a 6 milhões de peixes sejam reintroduzidos no rio por ano.
- Serão dois anos até a conclusão do projeto. O investimento previsto é de R$ 15 milhões -- o valor será dividido e pago por uma universidade federal, dois ministérios e por uma companhia de desenvolvimento.
- A proposta é inédita no país. E é coordenada pelo governo federal e conta com a parceria e apoio de outras entidades (veja abaixo).
A falta de peixes está se tornando um problema econômico
Pesco no rio há 44 anos, e todo mundo que está na atividade percebe que a quantidade de peixe diminui muito ao longo do tempo. Muitas espécies sumiram, ninguém encontra mais de jeito nenhum"
Josevaldo da Silva, 55, pescador de Piranhas (AL). Há 15 mil pescadores cadastrados na região do Baixo São Francisco.
Mas por que os peixes somem?
Segundo pesquisadores, pelo menos cinco fatores podem ser responsáveis pelo sumiço dos peixes no Baixo São Francisco ao longo de anos:
- controle de vazão das barragens estabelecidos pelas hidrelétricas;
- problemas ambientais com assoreamento e urbanização;
- pesca predatória;
- diminuição do fluxo reprodutivo do Baixo São Francisco;
- e invasão de espécies exóticas predadoras.
Como a água que abastece o Baixo São Francisco é regulada pelas vazões das cinco hidrelétricas no curso, a vida e o ciclo reprodutivo dos peixes acabam sendo afetados, afirma Emerson Soares, chefe da Expedição Científica do Baixo São Francisco e pesquisador da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).
As espécies migram para reproduzir e elas só fazem isso quando tem água. A água ia para lagoas marginais, que só enchem com vazões mais altas. Mas hoje essas lagoas praticamente acabaram porque foram urbanizadas. Vamos recuperar uma para ter esse berçário"
Emerson Soares, da Ufal
Entre 2011 e 2020, o semiárido viveu a maior seca em pelo menos cem anos, o que fez com o Baixo São Francisco recebesse menos água. "Com isso, a pesca se torna mais fácil e, ao mesmo tempo, ainda mais predatória. Isso faz com que animais sejam capturados pelos equipamentos antes da fase reprodutiva", diz Emerson.
Os peixes que nos últimos anos no Baixo São Francisco
- Surubim
- Dourado
- Pirá
- Mandi
Os ameaçados de extinção ou com estoques baixos
- Curimatã-pacu
- Pacamão
- Matrinchã
- Camarão pitu
- Pilombeta
Qual a origem dos peixes invasores
- As espécies exóticas chegaram por meio de tanques de cultivos ou foram introduzidas no rio por programas em açudes e represas, segundo o pesquisador Emerson Soares.
- Como muitas delas são carnívoras, esses peixes se alimentam das espécies nativas. "Sem contar que com as baixas vazões, espécies marinhas também acabam entrando no rio e também se tornam predadoras", diz.
Com as baixas vazões a água fica mais transparente e com menos volume no trecho a visibilidade por predadores é maior em relação aos peixes juvenis"
Emerson Soares, da Ufal
Há menos seis espécies exóticas no Baixo São Francisco:
- Tambaqui (Amazônia)
- Tucunaré (Amazônia)
- Pirarucu (Amazônia)
- Tilápia (África)
- Panga (Ásia)
- Camarão da Malásia
E como será o processo?
- O projeto está atualmente na fase de pesquisa, com lançamento do edital do estudo batimétrico (medição da profundidade do lago), topografia e de reformulação da base do local. A expectativa é que em 2025 a lagoa esteja recuperada, e o berçário esteja pronto.
- O valor de R$ 15 milhões para o desenvolvimento do projeto será pago por UCodevasf, Ministério da Pesca e Aquicultura e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, com contrapartida técnica da Ufal.
- Segundo Vinicius Dias Filho, chefe do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) em Alagoas, as lagoas marginais funcionam como berçários naturais para espécies de peixes de água doce e estuário para espécies marinhas.
A replicação das condições de uma lagoa marginal como prevê o projeto será muito importante para maior eficiência no recrutamento dos estoques das espécies nativas migratórias na região do Baixo São Francisco"
Vinicius Dias Filho, Codevasf
Segundo Maciel Oliveira, presidente do CBHSF (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco), a ação é inédita em todas as bacias de rios do Brasil já que vai recuperar o canal de São Brás (AL) e criará um controle de vazão para manter estável a quantidade de água.
"Aí nós teremos o monitoramento da água por pesquisadores e vamos proibir pesca", diz.
Participam do projeto: Codevasf, Ministério da Pesca e Aquicultura, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ufal, CBHSF, Prefeitura de São Brás (AL), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a ONG Águas do Sertão
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