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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Gripe aviária: por que o contato de humanos com aves encalhadas liga alerta

Ave que encalhou em Maceió e que foi levada para casa de uma pessoa (o que é desaconselhado) - Instituto Biota
Ave que encalhou em Maceió e que foi levada para casa de uma pessoa (o que é desaconselhado) Imagem: Instituto Biota

Colunista do UOL

23/05/2023 04h00Atualizada em 23/05/2023 14h34

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O encalhe de aves marinhas no litoral brasileiro é motivo de preocupação para autoridades de saúde pública. O contato de pessoas com animais doentes pode trazer a gripe aviária para humanos no Brasil — os primeiros casos em aves foram registrados no Espírito Santo na semana passada.

Entenda o risco

A gripe aviária é uma zoonose, ou seja, é transmitida de animal para pessoa. Não há transmissão de pessoa para pessoa, como ocorre na gripe comum.

É comum que humanos tenham contato com aves que encalham, animais com debilidade e dificuldade para voar. No Brasil não há dados oficiais, mas sabe-se que dezenas de milhares de aves encalham por ano.

Esses animais são resgatados e até levados para casa por pessoas desinformadas.

Isso se tornou especialmente perigoso, pois o mundo vivencia a maior pandemia de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade, a IAAP, segundo serviços sanitários e especialistas.

Ao avistar aves doentes e/ou encalhadas, é necessário acionar o serviço veterinário local ou realizar a notificação por meio do sistema e-Sisbravet, informa o Mapa (Ministro da Agricultura e Pecuária).

Não se deve tocar e nem recolher aves doentes. A doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves e nem de ovos."
Comunicado do Mapa

Casos de gripe aviária

O Mapa confirmou até o momento cinco casos de IAAP de subtipo H5N1 em aves silvestres. Os animais foram encontrados no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.

Não há casos confirmados em humanos no Brasil. As pessoas que tiveram contato com as aves testaram negativo para o vírus.

A contaminação em humanos já ocorreu em outros países do mundo. É motivo de preocupação no planeta desde pelo menos o início do ano.

O Mapa publicou na noite de ontem a Portaria 587, que declara estado de emergência zoossanitária em todo território nacional, por 180 dias, após os casos de infecção em aves silvestres pelo vírus da IAAP.

O Mapa já declarou estado de alerta no país, para aumentar a mobilização do setor privado e do serviço veterinário oficial.

A gripe aviária é uma doença viral altamente contagiosa que afeta, principalmente, aves silvestres e domésticas. A maioria dos casos está relacionada ao contato de aves silvestres migratórias com aves de subsistência, de produção ou aves silvestres locais."
Comunicado do Mapa

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Imagem: Peter Garrard Beck/Getty Images

Risco de contato com as aves

O manuseio de aves encalhadas no litoral é algo constante e ocorre por desinformação, segundo o biólogo e presidente do Instituto Biota de Conservação, Bruno Stefanis. A entidade monitora e resgata animais em Alagoas.

Ele cita que em apenas três dias foram 10 aves encalhadas em Maceió, com casos de pessoas levando os animais para casa. Por isso, uma reunião foi realizada ontem com órgãos como Ibama e ICMBio para discutir o problema.

Dezenas de animais estão encalhando [só em AL], e isso é de extremo perigo porque esses animais silvestres oferecem, se infectados, risco à saúde humana. A pessoa não deve ter nenhum tipo de contato com qualquer animal encalhado, vivo ou morto."
Bruno Stefanis, biólogo

Alerta mundial para a gripe aviária

A preocupação com a gripe aviária existe há anos por conta da alta letalidade da doença entre os animais, segundo a professora e pesquisadora em Doenças Tropicais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Vera Magalhães.

A pesquisadora explica que o principal vírus que circula hoje entre as aves é o H5N1, uma evolução do H1N1, que em 2009 levou o mundo a viver uma pandemia. O H1N1 ficou conhecido como gripe A.

Até agora não há casos registrados no Brasil em aves comerciais ou domésticas, o que seria algo mais problemático, segundo alerta da OMSA (Organização Mundial da Saúde Animal).

O mais importante agora é o monitoramento, se antecipar para perceber casos em aves comerciais, especialmente, onde há uma grande manipulação de pessoas a animais."
Vera Magalhães