Carlos Madeiro

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Fordlândia: MPF cobra tombamento de cidade abandonada por Ford na Amazônia

O MPF (Ministério Público Federal) no Pará fez uma recomendação para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) realize o tombamento do patrimônio histórico e cultural do distrito de Fordlândia, localizado no município de Aveiro (PA), na selva amazônica.

A inércia dos órgãos responsáveis em preservar o Distrito de Fordlândia como patrimônio cultural tem colocado em risco sua conservação.
MPF

Fordlândia deixou prédios históricos

Na década de 1920, o empresário Henry Ford fez um ambicioso projeto no coração da Amazônia, batizado de Fordlândia. A cidade planejada tinha como objetivo suprir a demanda por borracha para a produção de pneus de automóveis.

O local foi inaugurado em 1928, mas acabou abandonado na década de 1940. Abrigou, por mais de uma década, empregados de Henry Ford que trabalharam na extração e produção de borracha para abastecer a fábrica da Ford nos EUA.

A ideia era inspirada no estilo americano para essas obras, com ruas largas, casas para os trabalhadores, hospital, escola e igreja. Mas o projeto enfrentou uma série de problemas.

Valor histórico em prédios fantasmas no meio da Amazônia. As instalações da cidade planejada reúnem reconhecidos valores histórico, arquitetônico e paisagístico.

Antigo convento da Fordlândia
Antigo convento da Fordlândia Imagem: Iphan

Por que Henry escolheu a Amazônia

Ford queria reduzir a dependência das plantações de borracha no sudeste da Ásia. Ele acreditava que poderia criar sua própria fonte de borracha na América do Sul, o que levaria a uma maior autonomia para sua empresa e, consequentemente, a uma redução nos custos de produção.

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Os problemas e o abandono

Os trabalhadores locais não estavam acostumados com o estilo de vida proposto por Ford, com horários rigorosos e refeições vegetarianas.

A cultura da borracha na Amazônia demandava conhecimento técnico de extração e produção, que os americanos não possuíam. Epidemias de doenças como a malária também assolaram a região.

Conflitos frequentes entre trabalhadores brasileiros e gerentes americanos. A questão cultural e outras dificuldades fizeram com que a Fordlândia entrasse em crise, e a produção de borracha nunca atingiu os níveis desejados.

Após prejuízos, a Ford Motor Company, à época ainda gerida por Henry Ford, abandonou a Fordlândia em 1945. O empresário morreu dois anos depois.

Galpão da usina de força na Fordlândia
Galpão da usina de força na Fordlândia Imagem: Iphan
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O que diz o MPF

Processo de tombamento tramita há 30 anos. Para haver o tombamento, explica o MPF, é necessária uma deliberação pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que ainda está em fase de composição.

Embora o Iphan tenha instaurado o processo relativo ao tombamento do Distrito de Fordlândia, o feito permanece em tramitação há mais de 30 anos, ainda inconcluso e sem decisão final, a despeito do reconhecimento pela própria autarquia da relevante significância do distrito para o patrimônio nacional.
Recomendação do MPF

A luta pelo tombamento não é nova. Em dezembro de 2021, a Justiça Federal obrigou o Iphan a realizar o tombamento do distrito, cravando prazo até o final de maio de 2022. A medida não foi cumprida, e o MPF solicitou explicações.

Em julho de 2022, o Iphan afirmou que não cumpriu a decisão por falta de membros efetivos para a composição integral do Conselho Consultivo. Em nota à coluna, o Iphan se limitou a dizer que "segue com os trâmites pertinentes ao assunto, conforme a legislação da área".

Sobre o Conselho Consultivo, o Iphan afirma que decreto presidencial ampliou a participação social no órgão colegiado.

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O pedido do MPF é para que, com o Conselho Consultivo criado, haja uma "imediata fixação do calendário de sessões e a apreciação final do processo de tombamento do distrito de Fordlândia".

A recomendação, do dia 15 de setembro, é assinada pela procuradora da República Isadora Chaves Carvalho e também foi feita ao Ministério da Cultura (onde o Iphan está alocado). Os órgãos têm agora um prazo de 45 dias para viabilizar o Conselho, sob pena de o caso ser judicializado.

O Conselho deve ser composto pelo presidente do Iphan e representantes de entidades públicas:

  • Um da Associação Brasileira de Antropologia;
  • Um da Associação Nacional de História;
  • Um do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios;
  • Um do Instituto de Arquitetos do Brasil;
  • Um da Sociedade de Arqueologia Brasileira e
  • 15 indicados pelo presidente do Iphan da sociedade civil com conhecimento nas áreas de atuação.
Imagem aérea de Fordlândia, em 1934
Imagem aérea de Fordlândia, em 1934 Imagem: Ford Motor Company Photographic Department / Creative Commons / Domínio Público

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