Carlos Madeiro

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'Risco de afetar internet é zero', diz responsável por obra de usina no CE

O diretor-presidente da SPE (Sociedade de propósito específico) Águas de Fortaleza, Renan Carvalho, afirma que o projeto que vai erguer uma usina de dessalinização da água do mar não tem como afetar cabos de internet que estão instalados na praia do Futuro, na capital cearense.

Na semana passada, a entidade representante das empresas de tecnologia afirmaram que há risco da usina desconectar ou deixar lenta a internet no Brasil.

Responsável pela obra, Carvalho diz que as empresas estão atuando apenas para ter uma espécie de reserva de mercado da região para cabos submarinos.

Estão alardeando inverdades, assombrando a população, falando para pessoas que, por não conhecerem o que é obra, podem entrar em pânico; mas não existe nenhum risco! Em engenharia, dois mais dois tem de ser quatro. O 'pode ser' não existe em engenharia. O risco é zero, não há argumentos técnicos contrários.

Entenda

A obra é uma PPP (parceria público-privada) da SPE com o governo do estado e deve começar a construção no começo de 2024. O investimento total em 30 anos é R$ 3 bilhões.

O problema, segundo as empresas, está no local escolhido para receber a obra: a praia do Futuro, que recebe 17 cabos submarinos e abriga o segundo maior hub do mundo de sistemas ópticos submarinos, atrás apenas de Marselha, na França.

Segundo o Ministério das Comunicações, 99% do tráfego da internet do Brasil passa por esse hub. Ele também atende países vizinhos e até a África.

A capital cearense possui uma logística estratégica para o setor por estar mais próxima dos Estados Unidos, onde está o grosso dos dados de internet do mundo.

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A obra pode gerar apagão de internet no país porque não está se colocando uma usina onde tem um cabo, mas onde tem um hub todo! Hoje, ninguém pensa em chegar com internet no Brasil por outro caminho que não seja o de Fortaleza.
Luiz Henrique Barbosa, presidente executivo da TelComp, entidade que representa operadoras de telefonia, banda larga e acesso à internet; TV por assinatura e data centers

Mapa da Telegeography mostra cabos submarinos conectando países ao redor do mundo
Mapa da Telegeography mostra cabos submarinos conectando países ao redor do mundo Imagem: Telegeography/Submarinecablemap.com

Alegação é "absurda", diz SPE

Segundo Renan Carvalho, a ideia e os estudos para a obra estão sendo feitos desde 2018, e o projeto inicial foi alterado para aumentar a distância dos dutos de captação e emissão dos resíduos, que agora estão previstos para serem instalados a uma distância superior a 500 metros.

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Quando a distância era de 40 e 50 metros já não existia risco; o governo alterou, e depois dessa mudança a gente assiste perplexo essa conversa de que pode haver dano. É um absurdo falar de risco a qualquer tubulação.
Renan Carvalho

Sobre a parte terrestre da instalação sob os data centers instalados do local, o diretor da SPE também rechaça a ideia de que cruzamento de tubos vão trazer riscos.

Enquanto a gente está falando aqui existe alguma instalação cruzando cabo na cidade. Para você ter ideia, só entre as praias do Futuro e a Aldeota são mais de 1.000 cruzamentos de cabos. Essa obra vai cruzar mais alguns, mas e daí? Existem data centers em lugar muito pior.
Renan Carvalho

Data center da Angola Cables, em Fortaleza
Data center da Angola Cables, em Fortaleza Imagem: Rogerio Lima/Governo do Ceará

No sábado, o governador Elmano de Freitas (PT), em fala à rádio O Povo CBN afirmou que não há chance da obra mudar de lugar e criticou a postura das empresas.

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A questão é que todos os estudos técnicos que fizemos por mais de dois anos são claros que não há nenhum risco aos cabos. O que não é possível é que as empresas donas dos cabos de internet queiram ser donas da praia do Futuro. Isso não é razoável. A praia do Futuro é do povo do Ceará, do povo de Fortaleza.
Elmano de Freitas

Procurado para comentar as declarações de Elmano e do presidente da SPE, a TelComp não enviou resposta.

Sobre a obra

A usina está em fase de espera de licenciamento ambiental e liberação da SPU (Secretaria de Patrimônio da União) e a empresa vencedora da PPP fará um investimento de R$ 520 milhões na planta, mais R$ 2,5 bilhões para manutenção e operação do sistema por 30 anos.

A obra vai fornecer água para abastecer cerca de 700 mil pessoas da capital, mas deve ajudar todo o estado, já que a água que abastece a capital cearense —que não tem mananciais— vem do interior.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • A primeira versão do texto informava incorretamente o nome da rádio O Povo CBN. A coluna foi corrigida.

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