Carlos Madeiro

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Reportagem

Gravuras de povos sertanejos com 9 mil anos retratam pegadas de dinossauros

Pesquisadores brasileiros apresentaram um estudo em que descrevem gravuras rupestres de até 9 mil anos, associadas a pegadas de dinossauros de milhões de anos. As gravuras foram feitas por povos pré-coloniais no sertão da Paraíba e algumas delas imitam as pegadas desse animais.

A pesquisa avaliou os achados de três áreas do sítio Serrote do Letreiro, localizado em Sousa (PB), que compreende uma área de 15 mil m².

É em Sousa, por sinal, que está o Vale dos Dinossauros e suas famosas pegadas fossilizadas do período Cretáceo Inferior, entre 130 e 145 milhões de anos.

Mundo visto pelos ancestrais

As gravuras do sítio revelam um mundo visto pelos povos ancestrais, que usaram as rochas ao lado das pegadas para fazer arte. Para os pesquisadores, trata-se de um indício da relação que essas etnias pré-coloniais tinham com esses vestígios fósseis.

A identificação de gravuras como tridígitos [três dedos], que reproduzem iconicamente as pegadas de dinossauros, fornece evidência adicional da possível assimilação cultural do registro fóssil.
Trecho do estudo

Em alguns casos, os pesquisadores descrevem uma "proximidade extrema" entre as artes rupestres e as pegadas no sítio, algumas a uma distância de 10 cm.

As pinturas são atribuídas a "vários indivíduos", já que há uma "variação razoável de estilo observada." Os achados foram publicados no período "Science Reports", da Nature (veja a íntegra aqui).

Pegadas gravadas em rochas em Sousa (PB)
Pegadas gravadas em rochas em Sousa (PB) Imagem: Reprodução/Nature
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Um dos pontos que chamou a atenção dos pesquisadores é que, em nenhum caso foi feita gravura que resultasse em danos às pegadas existentes, "sugerindo cautela por parte dos fabricantes."

A semelhança é muito notável e até o tamanho da reprodução artística é similar ao tamanho da pegada de dinossauro com três dedos.
Aline Ghilardi, paleontóloga do Departamento de Geologia da UFRN e uma das autoras do estudo

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Segundo Aline, símbolos tridáctilos já eram conhecidos em outras localidades. Ela explica que essas gravuras são interpretadas como uma representação de pegadas de aves, com pés tridáctilos (três dedos), como os dos dinossauros.

As aves fazem parte de um grupo de dinossauros viventes, mas é surpreendente achar esses símbolos associados às pegadas fósseis tridáctilas. Isso nos faz pensar se esses povos antigos interpretaram aquelas pegadas fósseis como pegadas de grandes aves --como as emas atuais--, mas, de alguma forma, especiais, por estarem na rocha.
Aline Ghilardi

No local também há abundantes pinturas rupestres com formas geométricas. "Mas o seu significado e se foram concebidos para constituir ícones representacionais ou figurativos permanece desconhecido", diz o estudo.

Pesquisadores analisam achados do sítio Serrote do Letreiro, localizado em Sousa (PB)
Pesquisadores analisam achados do sítio Serrote do Letreiro, localizado em Sousa (PB) Imagem: Arquivo pessoal

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Povos viveram de 3 mil a 9 mil anos atrás

Segundo o arqueólogo Leonardo Troiano, do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os povos responsáveis pelas gravuras rupestres viveram no sertão paraibano entre 3 mil e 9 mil anos.

Eram grupos nômades ou semi-sedentários que viviam da caça e coleta de recursos naturais disponíveis e se utilizavam de ferramentas de pedra.
Leonardo Troiano

Eles seriam os antepassados de algumas etnias indígenas existentes ainda hoje, como os Cariris.

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Isso significa que a ocupação humana do Nordeste brasileiro é, de fato, muito antiga, contrariando a narrativa anterior, oferecida por arqueólogos norte-americanos.
Leonardo Troiano

Além dos dois pesquisadores ouvidos, o estudo também é assinado por Heloísa dos Santos, do Instituto de Arqueologia do Cariri, ligado à Fundação Casa Grande, e Tito Aureliano, pesquisador da Universidade Regional do Cariri.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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