Carlos Madeiro

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Reportagem

De olho em 2026: por que o PT do RN largou Prates à fritura na Petrobras

Em meio à indefinição da permanência de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras, um fato chama a atenção em seu berço político: nenhuma liderança do PT do Rio Grande do Norte tem saído na defesa do executivo.

Esse silêncio parece ter uma explicação única nos bastidores: o afastamento entre ele a a governadora Fátima Bezerra (PT), que não teria interesse em ver o colega de partido e ex-senador ganhar corpo político na Petrobras e se cacifar na disputa ao governo do estado daqui a dois anos.

Em 2026, Fátima deve voltar a concorrer ao Senado, deixando a cadeira para o seu vice e preferido para sucessão, Walter Alves (MDB). É pensando nessa costura com o MDB que ela quer evitar que Prates ganhe protagonismo e assim vire uma dor e cabeça para na disputa pelo Senado.

Na minha leitura, há uma resistência dela em formar chapa com Prates candidato a governador. E se ele fica mais de três anos na Petrobras, fica muito forte.
Alan Lacerda, cientista político e professor instituto de políticas públicas da UFRN

A questão não é apenas para 2026: há uma distância de Prates com a base militante do PT — partido ao qual se filiou em 2013 —, que também não mexe qualquer palha para o defender em meio à fritura que sofre na Petrobras. O nome de Prates na companhia é uma escolha pessoal de Lula, sem maior influência potiguar.

Em resposta a rumores de sua substituição, Prates defende sua gestão e afirma que seu "trabalho não para".

Entre militantes mais antigos, o carioca Prates é visto político sem ideologia do PT e "sem votos", que só teria chegado ao poder pela escolha de Fátima pelo nome dele para ser candidato para o Senado em 2014 como primeiro suplente dela — Fátima venceu a disputa.

Um integrante do PT no estado, que não quis ser identificado, disse não enxergar "esquerda" em Prates e afirmou que, por isso, falta apoio da militância ao ex-senador.

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Primeiro suplente por apoio financeiro

A escolha de Prates como suplente de Fátima veio da própria governadora — e não foi embasada necessariamente em ideologia, mas no fato de ele ser um empresário bem relacionado com setores econômicos locais (ele era presidente do Cerne, o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia), o que renderia apoio financeiro à campanha, já que à época eram permitidas doações de empresas.

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras
Jean Paul Prates, presidente da Petrobras Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil

Outro ponto de crítica de petistas históricos é que Prates, antes de se filiar ao partido há uma década, tinha tido, até então, uma única experiência em cargo público, a de secretário de Energia no governo Wilma Faria (PSB), entre 2007 e 2010.

Foi ele quem deu início ao processo que levou hoje o estado a ser o maior gerador de energia eólica do país. Essa expansão, porém, é alvo também de críticas de vários setores da esquerda do ponto de vista social, ambiental e até histórico.

Senador por 4 anos

Apesar de parecer pouco atraente a princípio, a indicação para o cargo de primeiro suplente ao Senado era bem disputada porque trazia a expectativa de assumir os quatro anos finais de mandato — era de conhecimento geral que Fátima seria candidata forte ao governo do estado na eleição seguinte.

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E foi o que ocorreu: Fátima venceu em 2018, e Prates herdou a cadeira de senador até janeiro de 2023, quando assumiu a Petrobras. No Senado, teve certo protagonismo, sendo líder da minoria durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Em 2020, Prates foi candidato pelo PT à Prefeitura de Natal. Apesar do apoio de Fátima e de Lula, teve 14% dos votos e acabou sendo derrotado no primeiro turno para o atual prefeito, Álvaro Dias (Republicanos), em sua reeleição.

Sua candidatura a prefeito, na verdade, visava mais encorpar seu nome para a disputa pela reeleição ao Senado. Como Prates não era muito conhecido, a exposição na capital era vista como uma boa propaganda.

Deputada Natália Bonavides (PT), Fátima Bezerra e Jean Paul Prates em campanha de 2020
Deputada Natália Bonavides (PT), Fátima Bezerra e Jean Paul Prates em campanha de 2020 Imagem: Reprodução/Facebook

Família Alves mudou tudo

Acontece que o PT de Fátima, numa costura que contou com Lula, resolveu se aliar ao MDB, que indicou Walter Alves (MDB), filho do ex-senador e ex-ministro Garibaldi Alves Filho (MDB), à vice. No acordo, Carlos Eduardo (PDT) foi o indicado candidato ao Sendo.

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Vice-governador Walter Alves Lula e Garibaldi em Natal
Vice-governador Walter Alves Lula e Garibaldi em Natal Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Em 2014, o PT havia vencido em uma chapa quase que puro-sangue, apenas com aliança com o PC do B.

Inicialmente, Prates reclamou de ser preterido, ameaçou ir para outro partido, mas segundo o UOL apurou foi convencido de que não teria chances sem a madrinha política Fátima.

Antes do prazo final de filiação, Prates publicou carta afirmando se manter no PT e aceitando novamente ser candidato a primeiro suplente —mas dessa vez ele perdeu, Rogério Marinho (PL) foi o eleito em 2022.

PT já tem candidata em 2024

Neste ano, seguindo ou não na Petrobras, Prates não será indiciado para disputar a Prefeitura de Natal: o partido aposta suas fichas em nome que tem ganhado força na esquerda local, a deputada federal Natália Bonavides.

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Como o prefeito não pode mais se candidatar, nem há indicação ainda do nome que ele indicará ou apoiará, Natália é vista como uma das favoritas na disputa e tenta atrair partido para se lançar com apoio de Fátima e Lula.

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