Parque eólico é condenado por interromper 'silêncio e paz' de casa do RN
Uma família de agricultores moradores de um povoado de Lagoa Nova, no semiárido do Rio Grande do Norte, ganhou uma ação na Justiça contra a empresa que ergueu torres eólicas ao lado de sua casa — ela terá de pagar indenização de R$ 50 mil por causa do barulho acima da lei gerado pelos equipamentos.
Como a decisão foi em primeira instância, cabe recurso por parte da Força Eólica do Brasil S.A., empresa da Neoenergia, responsável pelo parque — que informou que, até sexta-feira (19), não havia sido notificada. Também disse que seus projetos contam sempre com estudos de impacto ambiental (veja mais abaixo).
Importa destacar que a Serra de Santana, onde fica localizada a residência da parte autora, é conhecida por proporcionar aos seus moradores a tranquilidade do clima serrano, o silêncio e paz necessárias para uma vida feliz, o que mudou na vida da parte autora com as instalações das torres eólicas.
Juiz Marcus Vinícius Pereira Júnior, da 1ª Vara da Comarca de Currais Novos, autor da sentença
Além de condenar, o magistrado ainda enviou a decisão e pediu investigação da Polícia Civil e do MP (Ministério Público) sobre suposta prática de crime ambiental por "causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora".
Laudo comprova barulho
Para ter certeza do ruído, a Justiça solicitou laudo com medições de ruído na casa da família em três diferentes dias entre novembro e dezembro de 2023.
Em todos os casos, o barulho estava acima do permitido por lei estadual — de 35 decibéis — e o juiz citou que isso vem "gerando incômodo sonoro contínuo ao autor e sua família, especialmente no período de repouso noturno".
Medições:
24/11
- Cozinha: 45,4 decibéis
- Entrada da casa: 56,7 decibéis
30/11
- Cozinha: 45,3 decibéis
- Entrada da casa: 55,2 decibéis
5/12
- Cozinha: 49,1 decibéis
- Entrada da casa: 52 decibéis
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Quero receberRestou comprovado que os sons provenientes das máquinas do parque eólico gerenciado pelo demandado geram incômodos na vizinhança, de modo que a responsabilidade da ré é evidente.
Sentença do juiz Marcus Vinícius Pereira Júnior
O juiz ainda afirmou que "somente indo até o local é possível mensurar o tamanho do dano causado.
O dano é mais evidente ainda quando se tenta dormir em um lugar antes conhecido por sua tranquilidade e atualmente só se escuta o ruído dos aerogeradores, quando 'ontem' se ouviam somente as melodias da mãe natureza, verdadeira música para os ouvidos dos moradores vítimas dos poluidores pagadores.
Sentença do juiz Marcus Vinícius Pereira Júnior
O que diz a empresa
A Neoenergia informou, por nota, que "após o recebimento [da decisão judicial], os termos da sentença judicial serão devidamente analisados, e as providências cabíveis são tomadas".
A companhia esclarece que o projeto atendeu rigorosamente à legislação ambiental vigente à época, incluindo requisitos aprovados tanto para os níveis de decibéis como para o distanciamento mínimo permitido entre as residências e os aerogeradores. O parque foi monitorado em todas as fases com metodologia aprovada por órgãos ambientais.
Nota da Neoenergia
A empresa afirma ainda que "todos os parques eólicos da Neoenergia, incluindo aqueles localizados no Rio Grande do Norte, são certificados por normas internacionais de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança, além de serem auditados por empresas especializadas". E complementa que promove ações ligadas à saúde, educação e geração de renda que beneficiam a comunidade local.
Frenagem faz terra tremer, afirma advogada
A coluna procurou a família do agricultor, que informou que ele estava internado e que preferia esperar uma decisão em definitivo para falar sobre o tema. A pedido dos parentes, o nome do autor da ação não será informado.
A advogada Maria das Vitórias Lourenço, que representa a família, afirma que não é a primeira vez que consegue comprovar danos gerados por empresas de energia eólica na região — que em muitos casos têm reconhecido danos materiais como casas e cisternas rachadas. "Esse problema vem ocorrendo com parques que são autorizados a se instalarem perto de onde estão casas", diz.
O Rio Grande do Norte tem 293 empreendimentos e é o segundo maior do Brasil em número de parques eólicos — mas é o primeiro em capacidade de geração de energia, com 9,43 GW ou 32% de toda a geração eólica no país.
No caso da ação da família, a advogada cita que o patriarca tem problemas de saúde que foram agravados com a chegada das torres. A maior queixa, diz, é quando há a frenagem da torre — processo para que ela não exceda a velocidade máxima da hélice.
Toda vez que ocorre, o chão treme como um terremoto. Isso o faz acordar. Imagine você viver uma vida de paz e de repente se instala uma torre maior que um prédio de 20 andares.
Maria das Vitórias Lourenço
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