Febre oropouche 'sai da sombra' da dengue e Ministério da Saúde faz alerta
A disseminação da febre oropouche, com casos confirmados ou suspeitos em quatro regiões, ligou o alerta de Ministério da Saúde e de setores de vigilâncias epidemiológicas para o avanço de uma doença que historicamente atingia apenas a região amazônica. Pela primeira vez, os casos estão se espalhando pelo país.
A doença é transmitida pelo mosquito Culicoides paraense, também conhecido como maruim, e tem sintomas parecidos com outras arboviroses (causadas por vírus transmitidas principalmente por mosquitos). Sem testes, ela passava despercebida e poderia ser classificada como outra doença.
"Esses casos agora de oropouche saíram da sombra da dengue por insistirmos na testagem", diz o virologista Felipe Naveca, virologista e coordenador do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados da Fiocruz.
Até o último dia 13, o Brasil havia registrado, em 13 estados, 5.102 casos confirmados ou suspeitos — sendo 2.947 no Amazonas e 1.528 em Rondônia. Os dados não foram atualizados após essa data. Em 2023, foram 835 casos.
Os demais casos foram registrados ou estão em investigação nos seguintes estados:
- Acre
- Amapá
- Bahia
- Espírito Santo
- Maranhão
- Pará
- Rio de Janeiro
- Piauí
- Roraima
- Santa Catarina
- Paraná
Mais testes e mais calor
Naveca produziu, com outros cientistas, um estudo publicado no portal Virological no fim de janeiro apontando para um novo vírus mutado que causa oropouche e que impulsionou surtos na região amazônica brasileira desde 2022 — especialmente em grandes centros urbanos, como Manaus.
Esse achado, combinado com a recente identificação de casos importados, levanta preocupações sobre o risco de disseminação e estabelecimento desse arbovírus negligenciado em áreas urbanas fora da região amazônica.
Estudo da Virological
Naveca diz que cientistas alertam desde 2016 para a necessidade de ampliar a testagem para monitorar um possível espalhamento da doença. "Falamos que era necessário testar os casos negativos de dengue para saber se havia chance de serem febres oropouche e mayaro", afirma.
Por conta desse histórico, desenvolvemos um protocolo de PCR em tempo real para facilitar a detecção de maneira simultânea para o oropouche e o mayaro. Desde 2016 temos trabalhado na capacitação de diferentes laboratórios para fazer o teste.
Felipe Naveca
Os treinamentos ocorreram, inicialmente, nos laboratórios estaduais de Roraima, Mato Grosso do Sul , Amazonas e Acre. Após perceber casos positivos, o Ministério da Saúde resolveu descentralizar e levar o teste a todos os Lacens (laboratórios centrais estaduais) do Brasil. "Por isso acharam agora os casos pelo país", avalia Naveca.
Além da melhoria da vigilância epidemiológica nos estados, Naveca acredita que a doença tem ganhado força este ano por conta do período atípico de calor no país, com o fenômeno El Niño, que ajuda o maruim a se proliferar.
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Felipe Naveca
Epidemia é incógnita, diz especialista
Segundo o infectologista Fernando Maia, professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), a doença é antiga conhecida de especialistas e não costuma gerar casos graves em pacientes. "Mas isso pode ocorrer em idosos, crianças e imunodeprimidos."
Ele diz que o avanço de casos torna o cenário da doença no Brasil incerto.
Existe a capacidade de causar uma epidemia grande? Existe, porque a gente tem toda uma população suscetível, que nunca teve contato com o vírus. Por isso, tem o risco de desenvolver a doença.
Fernando Maia
Um fator a ser destacado: o mosquito maruim não é tão disseminado como o Aedes aegypti — que transmite dengue, zika e chikungunya, por exemplo.
"O mais importante é ficar alerta para fazer diagnóstico assim que os casos começarem a aparecer", afirma o especialista. "Detectar é muito importante para que se possa então tomar essas medidas de controle."
Ministério da Saúde ligou o alerta
Em nota, o Ministério da Saúde informou que iniciou testagem em 2023 para outros tipos de arboviroses.
Como resposta a esse novo cenário epidemiológico brasileiro, a pasta convocou os principais especialistas do Brasil para uma reunião em Brasília visando elaborar o Plano de Enfrentamento para o período epidêmico de 2024/2025, considerando a possibilidade de antecipação do ciclo devido às mudanças climáticas.
Nota do Ministério da Saúde
"A gente acreditou que ia ficar concentrado, mas vimos que houve um espalhamento", disse a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, à Agência Brasil.
Ela confirmou que a pasta introduziu a vigilância da doença com orientações para observação clínica nos 26 estados e Distrito Federal.
A gente não tinha nenhum manual ou protocolo para febre oropouche. Distribuímos os testes para toda a rede Lacen e, por isso, estamos conseguindo captar, fazer o diagnóstico correto para essa doença. Estamos monitorando de perto e entendendo melhor essa nova arbovirose.
Ethel Maciel
Sintomas e tratamento
Segundo o site do Ministério da Saúde, os sintomas da febre oropouche são parecidos com os da dengue e da chikungunya:
- Dor de cabeça
- Dor muscular
- Dor nas articulações
- Náusea
- Diarreia
Não existe tratamento específico para a doença. Os pacientes devem permanecer em repouso, apenas com tratamento sintomático e acompanhamento médico.
É importante que profissionais da área de vigilância em saúde sejam capazes de diferenciar essas doenças por meio de aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais e orientar as ações de prevenção e controle.
Ministério da Saúde
*Com informações da Agência Brasil
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