Carlos Madeiro

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Reportagem

Febre oropouche 'sai da sombra' da dengue e Ministério da Saúde faz alerta

A disseminação da febre oropouche, com casos confirmados ou suspeitos em quatro regiões, ligou o alerta de Ministério da Saúde e de setores de vigilâncias epidemiológicas para o avanço de uma doença que historicamente atingia apenas a região amazônica. Pela primeira vez, os casos estão se espalhando pelo país.

A doença é transmitida pelo mosquito Culicoides paraense, também conhecido como maruim, e tem sintomas parecidos com outras arboviroses (causadas por vírus transmitidas principalmente por mosquitos). Sem testes, ela passava despercebida e poderia ser classificada como outra doença.

"Esses casos agora de oropouche saíram da sombra da dengue por insistirmos na testagem", diz o virologista Felipe Naveca, virologista e coordenador do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados da Fiocruz.

Até o último dia 13, o Brasil havia registrado, em 13 estados, 5.102 casos confirmados ou suspeitos — sendo 2.947 no Amazonas e 1.528 em Rondônia. Os dados não foram atualizados após essa data. Em 2023, foram 835 casos.

Os demais casos foram registrados ou estão em investigação nos seguintes estados:

  • Acre
  • Amapá
  • Bahia
  • Espírito Santo
  • Maranhão
  • Pará
  • Rio de Janeiro
  • Piauí
  • Roraima
  • Santa Catarina
  • Paraná

Mais testes e mais calor

Pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia
Pesquisador Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia Imagem: Divulgação

Naveca produziu, com outros cientistas, um estudo publicado no portal Virological no fim de janeiro apontando para um novo vírus mutado que causa oropouche e que impulsionou surtos na região amazônica brasileira desde 2022 — especialmente em grandes centros urbanos, como Manaus.

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Esse achado, combinado com a recente identificação de casos importados, levanta preocupações sobre o risco de disseminação e estabelecimento desse arbovírus negligenciado em áreas urbanas fora da região amazônica.
Estudo da Virological

Naveca diz que cientistas alertam desde 2016 para a necessidade de ampliar a testagem para monitorar um possível espalhamento da doença. "Falamos que era necessário testar os casos negativos de dengue para saber se havia chance de serem febres oropouche e mayaro", afirma.

Por conta desse histórico, desenvolvemos um protocolo de PCR em tempo real para facilitar a detecção de maneira simultânea para o oropouche e o mayaro. Desde 2016 temos trabalhado na capacitação de diferentes laboratórios para fazer o teste.
Felipe Naveca

Os treinamentos ocorreram, inicialmente, nos laboratórios estaduais de Roraima, Mato Grosso do Sul , Amazonas e Acre. Após perceber casos positivos, o Ministério da Saúde resolveu descentralizar e levar o teste a todos os Lacens (laboratórios centrais estaduais) do Brasil. "Por isso acharam agora os casos pelo país", avalia Naveca.

Novo protocolo PCR foi desenvolvido na Fiocruz Amazônia
Novo protocolo PCR foi desenvolvido na Fiocruz Amazônia Imagem: Fiocruz/Divulgação

Além da melhoria da vigilância epidemiológica nos estados, Naveca acredita que a doença tem ganhado força este ano por conta do período atípico de calor no país, com o fenômeno El Niño, que ajuda o maruim a se proliferar.

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A questão climática e o avanço de áreas de desmatamento certamente contribuíram para alterar o comportamento do vetor, aumentando o contato com o hospedeiro humano.
Felipe Naveca

Epidemia é incógnita, diz especialista

Segundo o infectologista Fernando Maia, professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), a doença é antiga conhecida de especialistas e não costuma gerar casos graves em pacientes. "Mas isso pode ocorrer em idosos, crianças e imunodeprimidos."

Ele diz que o avanço de casos torna o cenário da doença no Brasil incerto.

Existe a capacidade de causar uma epidemia grande? Existe, porque a gente tem toda uma população suscetível, que nunca teve contato com o vírus. Por isso, tem o risco de desenvolver a doença.
Fernando Maia

Um fator a ser destacado: o mosquito maruim não é tão disseminado como o Aedes aegypti — que transmite dengue, zika e chikungunya, por exemplo.

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"O mais importante é ficar alerta para fazer diagnóstico assim que os casos começarem a aparecer", afirma o especialista. "Detectar é muito importante para que se possa então tomar essas medidas de controle."

Laboratório Central do Pará, um dos que faz teste para febre oroupoche
Laboratório Central do Pará, um dos que faz teste para febre oroupoche Imagem: Agência Pará

Ministério da Saúde ligou o alerta

Em nota, o Ministério da Saúde informou que iniciou testagem em 2023 para outros tipos de arboviroses.

Como resposta a esse novo cenário epidemiológico brasileiro, a pasta convocou os principais especialistas do Brasil para uma reunião em Brasília visando elaborar o Plano de Enfrentamento para o período epidêmico de 2024/2025, considerando a possibilidade de antecipação do ciclo devido às mudanças climáticas.
Nota do Ministério da Saúde

"A gente acreditou que ia ficar concentrado, mas vimos que houve um espalhamento", disse a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, à Agência Brasil.

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Ela confirmou que a pasta introduziu a vigilância da doença com orientações para observação clínica nos 26 estados e Distrito Federal.

A gente não tinha nenhum manual ou protocolo para febre oropouche. Distribuímos os testes para toda a rede Lacen e, por isso, estamos conseguindo captar, fazer o diagnóstico correto para essa doença. Estamos monitorando de perto e entendendo melhor essa nova arbovirose.
Ethel Maciel

Sintomas e tratamento

Segundo o site do Ministério da Saúde, os sintomas da febre oropouche são parecidos com os da dengue e da chikungunya:

  • Dor de cabeça
  • Dor muscular
  • Dor nas articulações
  • Náusea
  • Diarreia

Não existe tratamento específico para a doença. Os pacientes devem permanecer em repouso, apenas com tratamento sintomático e acompanhamento médico.

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É importante que profissionais da área de vigilância em saúde sejam capazes de diferenciar essas doenças por meio de aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais e orientar as ações de prevenção e controle.
Ministério da Saúde

*Com informações da Agência Brasil

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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