Carlos Madeiro

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AL: Hotel de luxo faz muro ilegal de 105 m e limita acesso à praia, diz MPF

O apelo das autoridades contra um muro erguido à beira-mar por um hotel de luxo na paradisíaca praia do Marceneiro, em Passo do Camaragibe (AL), foi parar na Justiça em Alagoas.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o Paru Boutique Hotel construiu de forma irregular e contra um embargo, em 2021, um muro de alvenaria com 105 metros de extensão (equivalente a de um campo de futebol) que está em faixa de praia legal, ou seja, área de acesso público.

A praia está localizada na APA (Área de Proteção Ambiental) Costa do Corais e que integra a famosa rota dos milagres, um roteiro na orla norte alagoana com águas verdes e piscinas naturais —e que atrai turistas do país e do mundo.

Foto área dos recifes na APA Costa dos Corais, em Alagoas
Foto área dos recifes na APA Costa dos Corais, em Alagoas Imagem: Fundação Toyota do Brasil

O hotel, de alto padrão, tem diárias que custam até R$ 4,6 mil para casal aos fins de semanas de outubro, segundo cotação feita pelo UOL no portal Booking.

O MPF afirma que tentou fechar um TAC com o dono do empreendimento, empresário Tito Uchôa Lopes, proprietário do hotel e primo do senador Renan Calheiros (MDB).

Sem sucesso, o órgão decidiu entrar com ação civil pública para que a justiça obrigue o hotel a adequar o muro, mediante plano de recuperação ambiental de área degradada.

Além disso, requer o pagamento de uma indenização de R$ 100 mil por danos morais coletivos e outra a ser "quantificada em perícia ou por arbitramento desse Juízo Federal, correspondente aos danos ambientais à região".

A ação é assinada pela procuradora da República Juliana de Azevedo Santa Rosa Câmara.

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Até esta sexta-feira (27), o sistema do processo na 13ª vara Federal não indicava os advogados de defesa de Tito e do hotel. O UOL fez contato, nestas quinta e sexta-feira, no contato de WhatsApp disponível no site do empreendimento, mas apesar das mensagens visualizadas, não houve retorno.

Área do hotel que ergueu muro supostamente irregular na praia do Marceneiro, em Passo do Camaragibe (AL)
Área do hotel que ergueu muro supostamente irregular na praia do Marceneiro, em Passo do Camaragibe (AL) Imagem: Divulgação

Três anos de imbróglio

Na ação, o MPF conta que o problema foi percebido ainda em outubro de 2021, quando o ICMBio foi até o local verificar a obra autorizada de uma estrutura de estabilização do tipo "sandbag" (sacos enchidos com areia da própria praia). Na vistoria, foi visto que um muro estava sendo erguido sem autorização.

O ICMBio informou que a construção de estruturas rígidas em ambiente de praia provoca impactos ambientais imediatos, como a perda da beleza cênica, atributo protegido pelo decreto de criação da APA Costa dos Corais e alvo de proteção expresso no plano de manejo, entre suas declarações de significância e regramentos gerais, e a perda do acesso à praia, com redução da faixa de areia disponível.
Ação do MPF

No mês seguinte, MPF e IMA (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas) fizeram uma vistoria e viram que a obra era ilegal. O IMA então embargou a obra. A decisão, diz o MPF, não foi seguida pelo hotel, que seguiu na construção. O proprietário foi multado em R$ 34,6 mil.

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Também acionada pelo MPF, a ANM (Agência Nacional de Mineração) informou que a obra não teve autorizações para extração de minério na área.

Flagrante de construção irregular do muro no final de 2021
Flagrante de construção irregular do muro no final de 2021 Imagem: Reprodução/MPF

Em 4 de dezembro, o IMA informou em laudo ter identificado "um muro de contenção situado na área frontal do empreendimento com extensão de aproximadamente 105 metros, totalmente de alvenaria, parte em formato de escadaria e parte em muro vertical."

A intervenção, diz o IMA, foi feita, em partes, dentro da APA Costa dos Corais e na faixa de praia legal. Também cita que a multa de 2021 não havia sido paga até então.

Segundo o IMA, o muro tornou inacessível aos cidadãos "parte recreativa da praia em determinadas marés", o que fere legislações federal e estadual.

Essas obras de contenção rígidas, tipo um muro vertical, refletem a energia das ondas, que acaba não se dissipando. Isso causa turbilhonamento do fundo, suspendendo os sedimentos, que são transportados pelas correntes marinhas. Isso causa o rebaixamento do solo na área, não permitindo a recuperação do perfil de praia. A tendência é que cada vez mais a erosão se agrave nesses locais.
Ricardo César, coordenador do Gerenciamento Costeiro do IMA

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No documento, o IMA sugere três coisas:

  • Recuo de no mínimo 2 metros da cerca sobre a intervenção de contenção para acesso da população no sentido paralelo à praia.
  • Implantação de rampas de acessos no sentido perpendicular à praia no segmento do muro tipo vertical.
  • Ingresso no IMA com pedido de autorização ambiental para a intervenção e regularização da obra.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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