Guerra química: ataques com agrotóxicos crescem quase 10x no ano, diz CPT
O número de ataques a comunidades rurais com uso de agrotóxicos cresceu exponencialmente no primeiro semestre do ano, informou nesta segunda-feira (2) a CPT (Comissão Pastoral da Terra), órgão ligado à Igreja Católica. É a chamada "guerra química", em que o lançamento de aviões é usado para atingir moradores de áreas tradicionais em regiões de conflito.
Ao todo, em seis meses, foram 182 registros, o que dá uma incrível média de um ataque por dia. O número é superior à soma de todos os ataques em primeiros semestres dos anos de 2015 a 2023, quando foram computados 122 casos. Comparado ao ano passado, o número de ataques é quase dez vezes maior: foram 19 em 2023.
A maior parte desses casos (156) ocorreu no estado do Maranhão, onde comunidades estão sofrendo severas consequências da pulverização aérea de veneno. Este tipo de violência, em específico, está inserido nos conflitos pela terra, pela água e na violência contra a pessoa.
Relatório da CPT
Nesse período, comunidades maranhenses relataram, por muitas vezes, uso de aviões e até drones para pulverizar áreas próximas a local de moradias e plantações, causando impacto à saúde humana, animal e vegetal. Um dos casos, filmado em maio, ocorreu na comunidade Manoel dos Santos, no município de Timbiras, e feriu pessoas.
Outros casos caem
Em termos gerais, o primeiro semestre de 2024 apresentou menos vítimas da violência no campo no Brasil, em relação ao mesmo período de 2023: foram 417 pessoas (sendo 65 mulheres) em 216 ocorrências.
Ameaças de morte (114 casos), intimidação (112) e criminalização (70) lideram a lista.
Casos de violência (jan-jun):
- 2015 - 564
- 2016 - 798
- 2017 - 771
- 2018 - 880
- 2019 - 937
- 2020 - 1.005
- 2021 - 749
- 2022 - 950
- 2023 - 1.127
- 2024 - 1.056
Das 1.056 ocorrências de janeiro a junho deste ano:
- 872 foram conflitos pela terra;
- 125 conflitos pela água;
- 59 casos de trabalho escravo;
No caso de conflitos por água, as 125 ocorrências representam o 3° maior número de casos do primeiro semestre nos últimos 5 anos.
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Quero receberAs principais vítimas dos conflitos por terra, por ordem, foram:
- Posseiros (famílias de comunidades tradicionais, mas sem titulação da terra) - 235 conflitos
- Indígenas - 220
- Quilombolas - 116
- Sem-terra - 92
Maiores causadores dessas violências:
- Fazendeiros - 339 conflitos
- Empresários - 137
- Governo federal - 88
- Governos estaduais - 44
- Grileiros - 33
Mortes e trabalho escravo em queda
Em número de mortes, houve uma redução significativa, com seis casos, o menor número desde pelo menos 2015.
Se contarmos até novembro, foram 11 mortes violentas em conflitos. Entretanto, 9 assassinatos ainda estão em análise para saber se têm relação à disputa por terras.
Em relação ao trabalho escravo, o primeiro semestre de 2024 teve uma boa notícia: a redução no número de casos e trabalhadores resgatados, após três anos consecutivos de crescimento.
Nos seis primeiros meses do ano, foram registrados 59 casos e 441 trabalhadores rurais resgatados, contra 98 casos e 1.395 pessoas resgatadas em 2023. O estado com mais resgates foi o Amazonas, com 100 casos, seguido Minas Gerais (77) e Espírito Santo (71).
Matopiba cresce em violência
O que chama a atenção é a quantidade de conflitos na região do Matopiba, que inclui o Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nessa região a um avanço da cultura de soja, que tem levado tensão a comunidades tradicionais, muitas vezes ameaçadas para deixarem as terras.
Somente nos primeiros seis meses do ano foram 231 casos, mais que o dobro dos 111 do ano anterior e maior número da série desde 2015. Desses, 42 foram ameaças de morte, principal tipo de violência registrada.
Neste ano, o desmatamento ilegal apresentou um crescimento de 16,67%, a destruição de roçados aumentou em 30%, as ameaças de despejo subiram 60%, enquanto as ameaças de expulsão registraram um aumento expressivo de 150%.
Relatório da CPT
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