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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Candidatos à PGR discursam para agradar Lula

Luiza Frischeisen, José Adonis Callou e Mário Bonsaglia: os nomes da lista tríplice da PGR de 2023 - Arte UOL/Divulgação pessoal e do CNJ
Luiza Frischeisen, José Adonis Callou e Mário Bonsaglia: os nomes da lista tríplice da PGR de 2023 Imagem: Arte UOL/Divulgação pessoal e do CNJ

Colunista do UOL

27/06/2023 16h43

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Se é que existe, o manual para se dar bem em entrevistas de emprego deve ter uma dica valiosa: jamais diga ao futuro patrão qual o seu real defeito. No UOL Entrevista desta terça-feira (27), os três candidatos oficiais ao posto de Augusto Aras seguiram o conselho à risca. Perguntada sobre seu maior defeito, Luiza Frischeisen disse que gosta de resolver tudo na hora. Mario Bonsaglia respondeu que é muito otimista. José Adonis lamentou ser sincero demais.

Embora não seja uma conversa direta com o empregador - no caso, Luiz Inácio Lula da Silva, único com poderes para escolher o Procurador-Geral da República -, o trio mostrou que, se o presidente quiser apontar qualquer um deles, o resultado será o mesmo: fidelidade e alinhamento com as diretrizes do mandatário.

No início do mês, a colunista Mônica Bergamo informou que Lula só escolheria para o STF (Supremo Tribunal Federal) um ministro para quem pudesse telefonar. Indicou Cristiano Zanin, que advogou para ele na Lava Jato. Para a PGR, o critério deve seguir a mesma lógica: Lula quer alguém em quem possa confiar. O objetivo é evitar a repetição dos dois primeiros mandatos, em que escolheu integrantes da lista tríplice e acabou com seu entorno enrolado no processo do mensalão.

Ainda que nenhum dos três integrantes da lista fale com Lula ao telefone, todos eles demonstram alinhamento ideológico e programático com o presidente. Os três consideram que houve tentativa de golpe no 8 de janeiro e dizem que teriam agido com maior antecedência para coibir os atos. "Eu já teria tomado algumas atitudes logo do inicio, ele (Aras) preferiu esperar e tomou a partir de 8 de janeiro", disse Luiza, a mais votada da lista.

Os três consideram que houve excessos por parte da Lava Jato. Bonsaglia disse que a prisão de Lula foi indevida, Luiza afirmou que esse pode ter sido um dos excessos da Lava Jato. Adonis comtemporizou: declarou que a prisão era compatível com o entendimento à época sobre execução antecipada da pena. Mas ressaltou que a condução coercitiva de Lua teria sido indevida.

Os três são contra o marco temporal, que engessa a demarcação de terras indígenas no Brasil. Lula tem a mesma posição. O STF começou a julgar a causa e deve retomar o tema em agosto, mês que antecede a posse do novo procurador-geral da República.

Mas por que insistir em votar uma lista tríplice, mesmo depois de Lula não se comprometer publicamente com ela? A categoria quer pressionar e, acima de tudo, mostrar que tem candidatos com discurso alinhado com o presidente. Por ora, Lula ainda não decidiu quem comandará a PGR, nem se comoveu com a lista.

Enquanto os candidatos oficiais gastam o verbo na campanha, os olhos do presidente se voltam ao julgamento de Bolsonaro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). No plenário, o vice-procurador eleitoral, Paulo Gonet Branco, não disse uma palavra sobre eventual interesse em substituir Aras. Mas ganhou força depois que defendeu de enfaticamente a condenação de Jair Bolsonaro.