Carolina Brígido

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Silêncio de Cármen após fala de Maduro abre espaço para diplomacia atuar

Se Alexandre de Moraes ainda estivesse no comando do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é provável que o ministro respondesse prontamente, e em tom incisivo, ao ataque do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, ao sistema eleitoral brasileiro. Mais comedida, a ministra Cármen Lúcia, que preside a corte há quase dois meses, não deu declaração pública até agora.

E nem pretende fazer isso: segundo a assessoria de imprensa do TSE, não há previsão de pronunciamento oficial em resposta a Maduro.

À TV Globo, a ministra reiterou que as urnas brasileiras são auditadas durante todo o processo eleitoral, sem mencionar o nome do ditador. A Folha publicou que, segundo o TSE, "o Boletim de Urna (BU) é um relatório totalmente auditável". O tribunal publicou hoje às 12h em sua conta no X (antigo Twitter) um texto explicando que a urna eletrônica é segura, mas sem citar o ataque de Maduro.

O posicionamento do TSE traz algumas mensagens. A primeira delas é a escolha de não bater boca em público com um ditador, para não reverberar ainda mais as acusações dele. A segunda é dar espaço para a diplomacia brasileira trabalhar.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ter ficado assustado com a crítica recorrente de Maduro ao sistema eleitoral brasileiro. Na segunda-feira (22), anunciou que Celso Amorim, seu assessor especial para assuntos internacionais, viajará à Venezuela para acompanhar de perto as eleições presidenciais, marcadas para domingo (28).

Às vésperas da eleição, Maduro usa um artifício comum aos governos autocráticos: tenta deslegitimar o processo eleitoral para justificar eventual derrota. O Brasil se familiarizou com essa metodologia nos últimos anos. Agora, tenta equilibrar as forças na América Latina para neutralizar o avanço da tendência ditatorial no continente.

Além da presença de Amorim na Venezuela, o TSE vai enviar dois servidores com perfil técnico para atuarem como observadores das eleições. A prática é comum na comunidade internacional. Nas eleições brasileiras, observadores de outros países estão sempre presentes e são bem recebidos pelas autoridades nacionais. A diferença é que na Venezuela eles não são bem-vindos.

A partir do que é observado, os técnicos produzem relatórios sobre a confiabilidade do processo eleitoral. Entre os organismos que costumam fazer isso, está a OEA (Organização dos Estados Americanos) e institutos que fiscalizam a transparência eleitoral na América Latina.

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Caso haja indício de irregularidade, essas instituições não têm poder para deslegitimar as eleições do país. Mas a denúncia de eventual fraude repercute perante a comunidade internacional, o país é pressionado e corre o risco de ficar politicamente isolado.

A coluna procurou ministros do TSE para comentar a fala de Maduro, mas a ordem é uma só: neste momento, ficar em silêncio é a melhor decisão.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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