'Vim atrapalhar o Clube do Bolinha', disse Cármen em reunião com 15 homens
Os 15 homens já estavam fechados na sala da presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) quando chegou a única mulher convidada para a reunião. "Vim atrapalhar o clube do Bolinha", disse a ministra Cármen Lúcia na antessala para anunciar sua presença.
No local, já conversavam animadamente os dez ministros do tribunal; o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL); o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); o procurador-geral da República, Paulo Gonet; o advogado-geral da União, Jorge Messias; e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Além de integrar o STF, a ministra preside o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Chegou atrasada porque estava em uma audiência na corte vizinha.
A reunião no Supremo foi marcada para ontem (20) na tentativa de desfazer os nós institucionais em torno das emendas parlamentares ao Orçamento da União. Na semana passada, o STF limitou os pagamentos. O Congresso Nacional retaliou com a ameaça de votar projetos contrários aos interesses do tribunal. O governo foi chamado para tentar amenizar o clima beligerante.
Na estrutura de poder da República, Cármen Lúcia é das poucas representantes femininas. É a única ministra do STF. No ano passado, Rosa Weber se aposentou e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu Flavio Dino para ocupar a cadeira.
No STJ (Superior Tribunal de Justiça), o movimento parece ir na mesma direção. Hoje, existem duas vagas abertas pelas aposentadorias de Laurita Vaz e Assusete Magalhães. Os mais cotados para assumir os cargos são homens.
Na PGR (Procuradoria-Geral da República), a única a comandar a instituição foi Raquel Dodge, entre 2017 e 2019. No ano passado, Lula escolheu Gonet para o cargo. Nem cogitou nomear uma procuradora.
Com mandatos prestes a se encerrar nas presidências da Câmara e do Senado, nenhuma liderança feminina tem chance real de substituir Lira e Pacheco.
Cármen Lúcia presidiu o STF entre 2016 e 2018 e, portanto, não voltará ao cargo. A próxima aposentadoria prevista no tribunal é a de Luiz Fux, daqui quatro anos, quando completará 75 anos de idade. Isso pode mudar se algum ministro quiser antecipar a saída do tribunal.
Se Fux for substituído por uma mulher, a próxima presidente do STF assumiria o cargo em 2037. Pelas regras internas, o comando da corte é dado ao ministro mais antigo que ainda não tenha ocupado o posto. Por enquanto, o papel das mulheres em cargos importantes da República se resume a atrapalhar o Clube do Bolinha.
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