Carolina Brígido

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Eleitor só confia no STF se decisão favorece político preferido, diz estudo

A credibilidade do STF (Supremo Tribunal Federal) perante o público atende a uma variável específica: se a decisão favorece o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o eleitor do petista considera a Corte uma instituição confiável. Se o mesmo tribunal toma uma medida prejudicial ao petista, a percepção do eleitor é negativa em relação ao Supremo. O mesmo acontece com eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O fenômeno, que pode ser constatado nas redes sociais ou em conversas cotidianas, foi comprovado em uma pesquisa conduzida por Carlos Pereira, André Klevenhusen e Lúcia Barros - os dois primeiros da FGV (Fundação Getúlio Vargas) do Rio de Janeiro, e a última, da FGV de São Paulo. O estudo foi publicado no Governance Journal.

O artigo analisa, a partir de entrevistas com eleitores brasileiros, a confiança no STF diante da decisão hipotética da Corte de condenar ou absolver o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro por corrupção. A conclusão é que a avaliação positiva ou negativa da Corte é condicionada pela conexão afetiva dos eleitores com o líder político que amam ou odeiam.

O estudo foi realizado durante a campanha de 2022 para presidente da República, em que Lula saiu vitorioso e Bolsonaro ficou em segundo lugar. "O resultado indica que, quando uma decisão judicial coincide com a preferência eleitoral do cidadão, ele fica mais inclinado a confiar na sentença e vice-versa", diz o artigo.

O texto ressalta que a disputa de 2022 representou um capítulo crítico e intenso na narrativa política nacional. De um lado, Lula, que conseguiu se candidatar depois que o STF anulou sentenças condenatórias contra o atual presidente. De outro, Bolsonaro, que responde a processos no mesmo tribunal decorrentes de várias situações - entre elas, a crise gerada a partir do gerenciamento de políticas de combate à covid-19.

A pesquisa revela um fenômeno segundo o qual as pessoas têm uma tendência natural de alinhar suas convicções e emoções. "Para justificar essas emoções, as pessoas costumam ajustar o acesso a informações baseadas em preferências ou outros fatores, em vez de procurar informações de fontes seguras", escrevem os autores.

Por outro lado, "as pessoas consideram que são menos corruptos os políticos dos quais compartilham da mesma ideologia".

A pesquisa foi feita com mil participantes em agosto de 2022, a pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições presidenciais. Primeiro, o entrevistado era questionado em quem votaria para presidente. Em seguida, a pessoa era convidada a imaginar um julgamento hipotético em que seu candidato era condenado por corrupção.

"O resultado da pesquisa chama a atenção em países como o Brasil onde o Judiciário é constantemente visto como ineficaz", diz o artigo. Apesar de ser criticado, o STF se torna confiável se conduz julgamentos de acordo com as crenças prévias de quem analisa a decisão.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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