Burocracia adia volta do X para depois da eleição e evita impacto político
O vaivém burocrático adiou para depois das eleições municipais de domingo (6) o retorno do X à internet brasileira.
Após mais de um mês suspenso, a rede social prometeu ao STF (Supremo Tribunal Federal) na última terça-feira (1º) que pagaria os R$ 28,6 milhões devidos. O ministro Alexandre de Moraes autorizou o desbloqueio dos valores. Nesta sexta-feira (4), o X comunicou o pagamento das multas. Ainda assim, Moraes não liberou o funcionamento da rede. O motivo: a cifra foi depositada na conta-corrente errada.
Moraes pediu a transferência do dinheiro para o banco correto. Quer também que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresente um parecer sobre a situação do X.
Se fez isso para ganhar tempo, não se sabe. Mas, com esses pedidos de providência, Moraes acaba adiando, na prática, o retorno do X para a próxima semana, quando os municípios brasileiros já tiverem ido às urnas para definir seus administradores.
O restabelecimento da rede social de Elon Musk antes das eleições tinha potencial para impactar as campanhas - e, portanto, o cenário político do país.
Vale lembrar que o X saiu do ar porque se recusou a limar da plataforma perfis propagadores de mensagem de ódio e desinformação, contrariando ordem do STF. Deixou claro, portanto, que tem disposição para desobedecer o Judiciário e trata conteúdo criminoso como liberdade de expressão.
Musk precisou de mais de um mês cumprir as exigências impostas por Alexandre de Moraes em troca da restituição do funcionamento do X. Perder a influência no Brasil em um momento político delicado não pareceu um bom negócio para o bilionário.
Depois de mais de um mês em silêncio, não é difícil imaginar que os usuários mais enérgicos do X voltarão à ativa como se um dique tivesse rompido e desse vazão às águas até então represadas.
O X já entendeu que, para seguir sua atividade no Brasil, precisa cumprir da lei. Mas controlar a eventual turba de indignados com o que o Musk considera censura poderia levar tempo. Mais tempo do que os dois dias restantes até o primeiro turno das eleições municipais.
Boa parte do eleitorado brasileiro não decide o voto com base na rede de Musk. Provavelmente, os que levam isso em consideração seriam numericamente irrelevantes para definir o resultado das urnas.
Ainda assim, o X alcança formadores de opinião e tem sido importante reduto de candidaturas que reverberam a ideia de que liberdade de expressão abrange também disseminação de conteúdo à margem da lei.
O coach Pablo Marçal, por exemplo, cuja candidatura traduz a escalada agressiva das campanhas eleitorais deste ano, tem nas redes sociais importante mecanismo de disseminação de suas ideias. Encontrou no X eco para o estilo kamikaze adotado em sua campanha campanha rumo à prefeitura de São Paulo.
Os ataques de Musk a Moraes ao longo dos últimos meses deixaram o X cada vez mais identificado com uma ala da direita - especialmente o bolsonarismo - que costuma criticar os chamados excessos do Supremo.
É possível que o retorno do X antes das eleições pudesse beneficiar Marçal e outros candidatos que trafegam nessa linha e que obtiveram projeção com a ajuda de redes sociais. Ironicamente, liberar a rede às vésperas das eleições poderia fortalecer justamente o grupo que se pretendia frear com a suspensão do X.
Por outro lado, eventual decisão de Moraes de liberar o funcionamento do X às vésperas das eleições enfraqueceria a acusação da ala mais radical que lê o bloqueio como ato de censura ou um arroubo ditatorial do ministro.
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