Capitalização: Guedes volta à carga com o terraplanismo econômico
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Terraplanistas são aqueles que enfrentam todas as evidências científicas e vão na contramão do bom senso para proclamar verdades imaginárias. Para eles, não importa que a unanimidade das pesquisas demonstre que estão errados. Tentam desqualificar qualquer um que os desmintam, exibem dados fantasiosos e seguem em frente acreditando que a terra é plana. Na sua área de atuação, a economia, o ministro Paulo Guedes tem o mesmo tipo de comportamento.
Como revela o jornalista Antonio Temóteo, do UOL, Guedes está prestes a entrar em nova cruzada pela capitalização da Previdência. Exatamente a proposta que, por meses a fio, o ministro defendeu no ano passado junto ao Congresso e foi rejeitada de forma veemente pelos parlamentares que votaram a reforma do sistema de aposentadoria.
Além dos argumentos teóricos, a proposta do ministro da Economia foi vencida pela constatação empírica de que a capitalização é receita de fracasso. O sistema chileno, um dos principais experimentos desse tipo de previdência e grande inspirador de Guedes, deixou uma multidão de aposentados sem ter como sobreviver. Foi a bancarrota da capitalização no Chile o principal combustível para a revolta popular que se estendeu por meses no país, com embates diários entre o povo e a polícia.
Isso parece não ter sido suficiente para convencer o terraplanista que comanda o Ministério da Economia de que sua proposta aponta para o caos. Obsessivo, ele pretende repetir a tentativa depois que a pandemia arrefecer, talvez animado por contar agora com o apoio do Centrão.
Outra ideia fixa é o aprofundamento da precarização das condições dos trabalhadores brasileiros. Guedes quer aumentar as contratações por hora trabalhada, em vez de salários mensais. Argumenta que a providência geraria emprego formal para 38 milhões de brasileiros — a mesma promessa vazia feita na reforma trabalhista de Michel Temer, que, como mostram os índices estratosféricos de desemprego, não se cumpriu.
Na verdade, o resultado do trabalho por hora não seria incluir os informais no mercado formal, mas uberizar as vagas que hoje oferecem remuneração minimamente decente. O ministro não consegue enxergar que os trabalhadores brasileiros já perderam direitos demais, é hora de o Estado ajudar os empresários a manter empregos.
Para completar, Guedes retoma mais uma ideia surrada: a CPMF. Nem o presidente Jair Bolsonaro simpatiza com a adoção desse imposto, mas muita gente no governo tenta convencê-lo a encampar a campanha do ministro — o vice-presidente Hamilton Mourão é um deles.
A realidade pós-pandemia deverá acrescentar novos desafios econômicos aos que o Brasil já tinha pela frente. Se tudo o que o ministro da Economia tem guardado na manga para enfrentar os novos tempos são as velhas propostas, estamos muito mal parados.
Levando-se em consideração a arrogância com que Guedes costuma defender seu receituário econômico — o mesmo que no trimestre pré-pandemia enfiou o país em uma recessão —, é difícil que seja convencido a abandoná-lo, mesmo contra todas as evidências. Infelizmente, como se sabe, a teimosia é uma das principais características dos terraplanistas
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