O lamentável papel do vice-presidente Mourão diante da questão ambiental
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Quando o vice-presidente Hamilton Mourão assumiu, em fevereiro, a coordenação do Conselho da Amazônia, a interpretação era que, finalmente, o governo Bolsonaro daria uma guinada na política ambiental. Pressionado pela chiadeira dos investidores estrangeiros, que ameaçaram tirar dinheiro do país diante de tamanha devastação da natureza, previu-se uma ofensiva para acabar com queimadas, prender garimpeiros ilegais e preservar terras indígenas.
De quebra, a mudança parecia indicar a decadência do criticado ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que talvez estivesse a caminho da demissão.
Sete meses depois, como se sabe, a previsão mostrou-se completamente equivocada. Todos os gigantescos danos ao patrimônio natural não só continuaram, como foram aprofundados. À tragédia da Amazônia foi acrescentada a catastrófica sequência de queimadas no Pantanal, com histórias e imagens aterradoras.
No lugar de acelerar as providências urgentes, Mourão dedicou-se com todas as suas forças a negar a gravidade da situação.
A lista de declarações do vice-presidente sobre a destruição ecológica do país é assombrosa.
A última delas chega a ser patética: "Não é um incêndio padrão Califórnia o que está acontecendo na Amazônia", disse ele ontem, como se a comparação da gravidade de uma tragédia com outra pudesse trazer algum alento. Dias antes tinha dito que as queimadas no Pantanal são sazonais, fingindo ignorar que a atual sequência de incêndios é a maior em muitos anos e nada tem de rotineira.
Como uma espécie de rainha da Inglaterra da política ambiental brasileira, Mourão fala sobre o assunto mas parece que não apita nada.
O péssimo Ricardo Salles continua onde sempre esteve, ocupando-se de fazer agrados a garimpeiros, reduzir os contingentes de fiscais do Ibama e responder com bobagens às críticas de personalidades internacionais, como Leonardo Di Caprio.
Enquanto a floresta amazônica e o Pantanal queimam e centenas de animais perdem a vida encurralados pelo fogo, o vice-presidente aparece de vez em quando para dar declarações sobre o tema — ocasiões em que reforça seu negacionismo, sempre com o semblante sereno, como se estivesse tudo bem.
Destruição dessa magnitude deveria constar, ao lado da pandemia de coronavírus, como prioridade do governo federal nesse momento.
Infelizmente, somente os indígenas amazônicos e os isolados pantaneiros, além dos abnegados servidores dos órgãos ambientais, parecem ter o sentido de urgência que a ocasião deveria exigir de todos. Dois desses servidores, aliás, morreram tentando aplacar as chamas.
Se era para agir assim, como um sub-Ricardo Salles, Mourão nem deveria ter-se dado ao trabalho de se meter no assunto. Um Salles já daria conta de transformar a natureza em cinzas, como, infelizmente, está acontecendo nesse momento.
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