Crivella e Fla querem reabertura de estádios onde a covid-19 é mais letal
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O Rio de Janeiro é a unidade da federação onde a pandemia de coronavírus provocou mais mortes, proporcionalmente. São até agora 18 mil casos fatais. Apesar de contar com uma das maiores redes hospitalares do país, as barbeiragens das autoridades justificam o péssimo resultado.
Foram tantos os malfeitos do governador Wilson Witzel (PSC) com o dinheiro que deveria ser destinado ao combate à pandemia que isso motivou um processo de impeachment.
O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), por sua vez, manteve a rede municipal de Saúde com as mesmas graves deficiências que tinha antes da chegada do coronavírus: falta de medicamentos, falta de insumos, falta de pessoal. E os profissionais que estavam trabalhando foram premiados com atraso de salário.
Foi assim que o Rio, único estado a ter reforço de hospitais federais (são nove ao todo), chegou a esse número trágico.
Depois de tantos casos e mortes que poderiam ser evitados, a pandemia arrefeceu. Mas há três dias os registros voltaram a subir e o Rio é um dos únicos recantos do país onde a curva de registros da doença ainda é ascendente. O prefeito até planeja reativação de leitos de UTI e busca recursos para isso.
É justamente nesse cenário desolador que Crivella, apoiado por Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, pensa em reabrir os estádios de futebol ao público. Segundo o prefeito anunciou na sexta-feira, a reabertura será no dia 4 de outubro, com o jogo entre o time carioca e o Athlético Paranaense, para 20 mil torcedores.
A falsa justificativa para esse absurdo é risível: Crivella pretenderia esvaziar as praias. Ou seja, a intenção do alcaide seria trocar uma aglomeração pela outra.
O real motivo não é esse. A verdade é que tanto o prefeito quando o presidente do Flamengo querem agradar o presidente Jair Bolsonaro, franco defensor de que todas as atividades voltem ao normal, mesmo em meio à pandemia. Crivella bajula Bolsonaro em busca de apoio na campanha à reeleição. Landim bajula Bolsonaro por apoio na briga que mantém com a TV Globo.
Muito eficiente quando trata da área esportiva, em assuntos de saúde o presidente do Flamengo administra tão mal o seu clube quanto Crivella cuida do Rio. Primeiro cartola do país a defender a volta dos campeonatos, Landim garantiu que tudo seria feito com toda a segurança para jogadores e demais funcionários.
É público e notório que essa bravata não foi cumprida. Empenhado na disputada da Copa Libertadores da América, o time rubro-negro teve que mandar jogadores às pressas ao Equador para completar o elenco que irá a campo amanhã, pois seis atletas que já estavam lá testaram positivo para covid-19.
Mais: há uma semana, em entrevista concedida em Portugal, o ex-técnico do Flamengo, Jorge Jesus, deixou escapar que quando dirigia o time brasileiro teve 11 jogadores infectados pelo coronavírus.
Pelo que se sabe até agora, não houve caso grave entre os jogadores e comissão técnica dos clubes. Mas e quanto aos que eles infectaram sem saber?
A dupla Crivella e Landim não quer saber dos riscos para jogadores, torcedores e seus familiares. O negócio é faturar e agradar o presidente da República.
Outro político dependente de Bolsonaro, o governador em exercício Cláudio Castro (PSC) atrapalha um pouco os planos do prefeito ao se recusar a abrir os estádios no dia 4. Determinou que a abertura só pode acontecer no dia 6, como se fizesse grande diferença. Ninguém se espante, porém, se ele se acertar com Crivella e Landim.
Assim, um dos lugares que tem a maior letalidade por coronavírus em todo o mundo (a taxa no Rio é de 10,7%, três vezes maior que a média mundial), poderá ampliar ainda mais os riscos para seus cidadãos.
Diretorias de clubes como Vasco, Botafogo e Corinthians não gostaram da ideia e se pronunciaram contra a realização de jogos com estádios abertos. Que esses mantenham a sanidade e resistam à irresponsabilidade de quem coloca os objetivos políticos e financeiros à frente da saúde da população.
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