Reajuste da polícia do DF aumenta insatisfação de reservistas com Bolsonaro
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Cinco dias após o protesto de graduados e pensionistas das Forças Armadas no local onde o presidente Jair Bolsonaro participava da formatura de sargentos da Marinha, no dia 10, no Rio, um dos representantes do grupo foi recebido no Palácio do Planalto. Os manifestantes reclamavam que o governo privilegiou oficiais superiores na reforma da previdência, enquanto eles tiveram reduzidos os valores de adicionais. Pensionistas acabaram com tributação maior e hoje ganham menos que antes.
A reunião no Planalto, realizada na terça-feira, 15, resultou em constrangimento. Dos três representantes dos reservistas que foram conversar com o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, só um pôde entrar. Outro deles foi barrado na porta do palácio.
Dias depois, outro motivo de irritação: o Senado aprovou o aumento para bombeiros e policiais do Distrito Federal, que é bancado pela União. Diretor da Federação Nacional dos Graduados Inativos das Forças Armadas , o suboficial da FAB Márcio Rodrigues explica porque o descontentamento aumentou: "Não é que eles não mereçam, mas por qual motivo os policiais do DF são atendidos e nós, reservistas, não?".
Nessa entrevista à coluna, ele conta que a quebra da promessa do governo já fez cair o apoio de reservistas ao presidente Jair Bolsonaro. Manifestação em favor de graduados e pensionistas está marcada para os dias 20, 21 e 22, em Brasília.
UOL - Por qual motivo o aumento concedido a bombeiros e policiais do DF aborreceu ainda mais os graduados e pensionistas das Forças Armadas?
Márcio Rodrigues - Os graduados e pensionistas ficam ainda mais insatisfeitos pela forma que são tratados. Enquanto os policiais civis e militares do DF, que recebem do mesmo caixa, que é o Tesouro Federal, são ouvidos, nós não somos. Outro dia circulou um vídeo nas redes sociais em que um policial conversa om o presidente Bolsonaro e ele presta atenção, ouve a demanda, chama um assessor para resolver posteriormente o problema.
Enquanto isso, graduados e pensionistas, que desde 1988 apoiam o presidente Bolsonaro, sequer são ouvidos, sequer são recebidos, sequer podem encaminhar as demandas, seja na questão de dinheiro ou na questão de saúde.
Isso deixou o pessoal mais insatisfeito. Do mesmo caixa do Tesouro que sai para os graduados e pensionistas, sai para os policiais do Distrito Federal. E nós não somos atendidos.
Quais as principais reivindicações?
A primeira é a revisão da Lei 13.954, que deixou militares das turmas entre 2001 a 2019 com menos direitos que os outros. A segunda tem a ver com as pensionistas, que tiveram decréscimo salarial. O ministro da Defesa e os comandantes das Forças tiveram como premissa nas audiências no Senado que ninguém teria perdas. Mas pensionistas passaram a receber menos, algumas delas com 70, 80 anos de idade, tomando remédios.
Além disso, houve mudança no quadro de dependentes. Alguns que estavam em tratamento crônico tiveram seus tratamentos interrompidos. Um colega me ligou ontem dizendo que a mãe, com 80 anos de idade, teve que interromper o tratamento que fazia no hospital de Brasília porque ela não é mais dependente. Vai ter que começar tratamento do zero no SUS depois que foi feito o pagamento por muitos anos para que ela tivesse esse direito.
O governo está negociando com vocês?
Algumas situações acontecem a fórceps. Na semana passada foi marcada uma reunião onde estariam três graduados, mas só deixaram um graduado - que fui eu. Um dos representantes foi inclusive proibido de entrar no Palácio do Planalto.
O general (Luiz Eduardo) Ramos (ministro da secretaria de Governo) ouviu a reivindicação sobre dependentes, reconheceu que aquele era um problema grave. Mas passa tudo pela vontade política do ministro da Defesa, que é um dos mais avessos a qualquer mudança, porque avalia que não há nenhum problema.
Foi feito um acordo no dia da votação no Senado, foi empenhada a palavra do governo de que a situação seria resolvida. O que estamos vendo é que a promessa não está sendo levada em conta. Eu aprendi com meus pais que a palavra dada tem que ser cumprida.
Esse problema abala o apoio que Jair Bolsonaro tem entre os militares?
Pelo menos no pessoal da reserva, já abalou em parte. Temos antigos apoiadores incondicionais que hoje questionam essa posição. Alguns estão arrependidos. Outros, da ativa, vendo o tratamento dispensado à reserva, têm questionado também.
Hoje temos muita gente da ativa apoiando o governo. Mas esse tratamento dado a nós coloca uma pulga atrás da orelha de quem amanhã estará na reserva. Ele passa a se perguntar: será que isso vai acontecer comigo também?
Essa situação pode servir como rastilho de pólvora. Temos dois anos até à próxima eleição e esse problema vai gerar sérios dissabores para o governo.
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