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"Bolsolão" explica real preocupação do presidente com acusações a Flávio
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De testa franzida e expressão irritada, o presidente eleito Jair Bolsonaro respondeu, em dezembro de 2018, às perguntas sobre as acusações do envolvimento de seu filho Flávio com o esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio. Bolsonaro disse que a investigação seguiria e quem tivesse a culpa provada seria punido. "Doa a quem doer", prometeu.
Depois da posse, o discurso do presidente mudou. Ao invés de criticar os investigados, passou a atacar os investigadores.
Segundo alertou o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, Bolsonaro interferiu em vários órgãos governamentais de investigação para proteger o filho: Coaf, Receita Federal e Polícia Federal. A denúncia, feita por Moro ao anunciar a saída do ministério, o transformou em inimigo do presidente e de seus apoiadores.
A guinada do presidente de crítico da corrupção a protetor do filho acusado de rachadinha foi ainda mais radical. Chegou ao ponto de organizar uma reunião no Palácio do Planalto entre as advogadas de Flávio com o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, em que pediu ajuda para apoiar a tese da inocência do herdeiro.
Tanta mobilização não foi motivada apenas pela preocupação em salvar a pele do filho. A reportagem "Anatomia das Rachadinhas", publicada hoje no UOL, confirma a ligação da rachadinha praticada por Flávio com movimentações iniciadas muitos anos antes no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. Também o filho 02, Carlos, repete o modelo.
As semelhanças são muitas. Desde funcionários que fazem rodízio nos gabinetes de Jair, Flávio e Carlos à participação de Fabrício Queiroz e sua filha. O grande ponto de convergência, porém, é mesmo o incrível hábito de esses funcionários usarem a maior parte de seus salários em espécie.
No caso de Jair Bolsonaro — em cujo gabinete trabalharam nada menos que 18 parentes da ex-mulher, Ana Cristina —, apenas quatro integrantes da equipe do então deputado sacaram R$ 551 mil, o equivalente a 72% dos vencimentos.
Tudo isso parece indicar que o padrão de desvio executado por Flávio na Alerj foi iniciado pelo pai, nos tempos de Câmara dos Deputados. Também Carlos Bolsonaro tem indícios de que segue o figurino, como vereador carioca.
Diante da abrangência do esquema e dos valores movimentados, como se vê na reportagem de Amanda Rossi, Flávio Costa, Gabriela Sá Pessoa e Juliana Dal Piva, não cabe mais usar diminutivo "rachadinha". Tudo ali é aumentativo.
O detalhamento do "Bolsolão" publicado pelo UOL explica porque, depois de eleito, o presidente da República rasgou tão rapidamente a bandeira anticorrupção. A julgar pelas revelações de hoje, foi puro instinto de sobrevivência.
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