Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Voto impresso é a próxima investida de Bolsonaro, com apoio de Arthur Lira
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Desde que assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro balbucia denúncias falsas contra o sistema eleitoral brasileiro. Nos primeiros meses de mandato, em viagem aos Estados Unidos alardeou irresponsavelmente uma suposta fraude na votação em que, curiosamente, ele se sagrou vencedor. Instado a mostrar provas do que dizia, Bolsonaro até hoje não apontou um indício sequer. Era mentira.
Desde então, por várias vezes lançou dúvidas sobre a lisura do sistema de urnas eletrônicas, apesar de não haver qualquer registro de fraude desde sua criação. Defende a involução ao voto em cédulas de papel.
Por ocasião da invasão do Capitólio, quando terroristas de extrema-direita dos Estados Unidos tentaram impedir a proclamação da vitoria de Joe Biden, Bolsonaro voltou a tratar do assunto, dessa vez em tom de ameaça."Se não tivermos voto impresso em 2022, vamos ter problema pior que os Estados Unidos", disse.
A ideia parecia ser apenas mais um delírio surgido na cabeça confusa do presidente, mas fatos novos mostram que Bolsonaro quer, sim, colocá-la em prática.
Primeiro, a confirmação da deputada Bia Kicis (PSL-DF) na presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Entre várias bizarrices, Bia é autora da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso. A sugestão de seu nome para comandar a CCJ foi feita pelo próprio Bolsonaro ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Se restava ainda alguma dúvida de que quer mudar o sistema eleitoral brasileiro, Bolsonaro tornou tudo claro na live transmitida ontem. Respondendo a uma pergunta sobre o tema, o deputado Major Vítor Hugo (PSL-GO) classificou como "pauta importantíssima".
Bolsonaro, então, disse que a comissão relativa à PEC deverá ser instalada brevemente e que Arthur Lira se mostrou "bastante simpático" à proposta. A seguir, deu o seu habitual show de desinformação.
"Quem tem medo do voto auditavel?", "Por que não faz o teste?", "Por que tem gente dentro do Supremo que é contra ela (urna eletrônica)?", questionou.
Alguém precisa urgentemente dizer ao presidente que a urna eletrônica já é auditável (representantes de partidos recebem boletins impressos ao fim da votação) e que antes de todas as eleições o sistema passa por rigorosos testes.
Sobre "gente dentro do Supremo" que seria contra o voto eletrônico, Bolsonaro é quem deveria esclarecer — mas sabemos que não o fará.
Assim como não vai mostrar provas de mais uma acusação leviana que lançou ontem no ar, a de que usaram cola para inutilizar a tecla com número 7 nas urnas e, assim, impedir que votassem no seu número, 17. Outra lenda do repertório presidencial.
No universo paralelo em que está enfiado o Brasil, virou rotina que o presidente da República cometa atos tão graves quanto colocar em dúvida a credibilidade do sistema eleitoral de seu próprio país, sem sofrer sequer advertência. Cavalgando as mentiras que solta aleatoriamente, Bolsonaro avança em seu objetivo, com o apoio de figuras do Congresso como Arthur Lira e Bia Kicis.
No auge da pandemia de covid-19, deveriam estar exclusivamente empenhados em tentar salvar vidas de seus compatriotas. Em vez disso, gastam tempo para minar a democracia brasileira, seguindo os delírios de Bolsonaro.
Vão conseguir?
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