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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bancada da cloroquina no Senado repete na CPI delírios de Bolsonaro

4.mai.2021 - Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em depoimento à CPI da Covid no Senado - Edilson Rodrigues/Agência Senado
4.mai.2021 - Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em depoimento à CPI da Covid no Senado Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Colunista do UOL

05/05/2021 04h00

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O Senado é o espaço nobre do Legislativo, onde nos tempos antigos só os políticos mais experientes tinham assento. Por isso, sempre se espera muito das discussões travadas ali. Era essa a expectativa quanto à CPI iniciada ontem, que pretende investigar o que aconteceu de errado para que o Brasil tenha mais de 400 mil mortos na pandemia de covid-19.

O que chamou atenção na primeira sessão da CPI, no entanto, foram as manifestações de negação da ciência. Governistas da comissão fizeram defesa enfática do chamado tratamento precoce.

Enquanto senadores da oposição e o próprio depoente, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, criticavam as várias indicações de cloroquina feitas por Bolsonaro e sua equipe, os bolsonaristas do Senado defenderam a prática.

Mais que isso. Alguns chegaram a cobrar Mandetta por não ter adotado essas substâncias ineficazes para combater a pandemia.

Mostraram-se aguerridos cloroquiners Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério (DEM-RO), Jorginho Mello (PL-SC) e Luis Carlos Heinze (PP-SC). Especialmente, os dois últimos.

Jorginho Mello defendeu o tratamento com cloroquina citando uma falácia - a experiência da cidade catarinense de Chapecó. Na verdade, foram registrados muitos casos de covid-19 no município e a situação só foi amenizada com um lockdown de 14 dias, como admitiu em vídeo o prefeito João Rodrigues (PSD).

O senador Luis Carlos Heinze reclamou do "assassinato de reputações" de médicos que prescrevem o tal tratamento precoce e passou a declamar meias verdades para defender medicamentos que a ciência provou serem ineficazes.

Chega a ser bizarro que senadores ignorem o principal organismo de saúde internacional (a Organização Mundial de Saúde) e a referência nacional nesse campo (a Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para insistirem que o médico fulano ou beltrano sabe mais que os cientistas.

Pacientemente, Mandetta repetiu aos governistas sua fé na ciência. "Eu, particularmente, prefiro a vacina. Não é inteligente expor as pessoas à doença acreditando em remédios", disse o ex-ministro.

Nada indica que os senadores cloroquiners tenham mudado de ideia. Hoje, eles devem voltar à carga no depoimento do ex-ministro Nelson Teich.

Logo ele, que abandonou o governo justamente por se recusar a autorizar o tratamento precoce, como queria Bolsonaro.

Teich não terá um dia fácil.