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Chico Alves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Surpresa: quem diria que o presidente pode estar envolvido no Bolsolão?

2.jul.2021 - Presidente Jair Bolsonaro  - REUTERS
2.jul.2021 - Presidente Jair Bolsonaro Imagem: REUTERS

Colunista do UOL

05/07/2021 12h14

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O ditado antigo ensina que se alguém se deparar com um animal que tem rabo de porco, focinho de porco e orelha de porco, provavelmente estará à frente de... um porco.

O presidente Jair Bolsonaro tem dois filhos acusados de rachadinha. Nos tempos de deputado federal empregou em seu gabinete Fabrício Queiroz — apontado como o operador do esquema — e sua filha. Tem a seu lado uma primeira-dama que recebeu R$ 89 mil de Queiroz. A ex-mulher do presidente e seus parentes são suspeitos de participar da tramoia.

Apesar de todos esses elementos, apoiadores de Bolsonaro insistiam em dizer que ele não tinha nada a ver com a prática de embolsar a maior parte do salário dos funcionários da equipe.

A partir da matéria da jornalista Juliana Dal Piva, publicada hoje no UOL, fica mais difícil sustentar essa versão.

Áudios da ex-cunhada de Jair Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, indicam que o então deputado federal demitiu o irmão dela, André, por se recusar a devolver o valor estipulado do salário que recebia como assessor do gabinete.

Pelo "acordo", André teria que devolver R$ 6 mil do que recebia. Mas entregava a Bolsonaro "apenas" R$ 2 mil ou R$ 3 mil. Foi ejetado por isso, diz Andrea.

Ela admite ter participado no esquema da família Bolsonaro, implica um tio e diz que sabe de muita coisa que poderia "ferrar a vida do Flávio", "ferrar a vida do Jair" e "ferrar a vida da Cristina" (refere-se a Ana Cristina Valle, sua irmã e ex-mulher do presidente da República).

Como esperado, Frederick Wassef, advogado do clã e conhecido por alguns como "Anjo", negou as acusações.

É claro que a participação de Jair Bolsonaro no esquema de apropriação indevida dos salários dos funcionários de gabinete ainda precisa ser investigada para que se possa cravar a culpa do presidente.

Mas se usarmos para os integrantes da família presidencial os mesmos parâmetros que eles usam para acusar outras pessoas, o ocupante do Palácio do Planalto está em maus lençóis.

Quem não lembra do tuite publicado por Carlos Bolsonaro em outubro de 2015? "Todo mundo próximo do Lula é envolvido em corrupção, menos ele. Incrível como esse homem consegue ser puro no meio de tanto familiar ruim", escreveu Carluxo.

Nada ficou provado contra Lulinha, o filho do ex-presidente, ou contra a mulher, Marisa Letícia, já falecida.

Já a materialidade contra Flávio, Carlos, a primeira-dama Michele e a ex-mulher de Jair Bolsonaro a cada dia fica mais palpável. Enquanto isso, o presidente tenta se manter fora do rolo.

Militares, olavistas, parte dos evangélicos, deputados do Centrão e outros grupos bolsonaristas continuarão relutando em admitir que o Bolsolão (a coluna já observou que chamar esse esquema gigantesco pelo diminutivo de "rachadinha " é algo impróprio) tenha como chefe o próprio presidente.

Porém, mesmo com todo o negacionismo dos apoiadores de Bolsonaro, são cada vez mais fortes as evidências de que o rabo de porco, o focinho de porco e a orelha de porco pertencem realmente — quem diria !? — a um porco.