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Após fala golpista de Bolsonaro, Arthur Lira faz declarações inócuas
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Dois dias depois da mais grave ameaça de Jair Bolsonaro ao processo democrático brasileiro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi hoje ao Twitter discorrer sobre a força das instituições. Ao contrário do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que ontem se apresentou em coletiva de imprensa para rebater enfaticamente as teses golpistas do presidente da República, Lira foi evasivo, dúbio.
Tratou do cenário político com a clara preocupação de não desagradar bolsonaristas.
Na quinta-feira (8), Bolsonaro subiu vários degraus em sua escalada chantagista. "Ou fazemos eleições limpas ou não teremos eleições", declarou. Ontem (9), ofendeu o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, chamando-o de "imbecil" e "idiota" por argumentar que o voto impresso favorece a fraude.
Em entrevista ao mesmo tempo serena e firme, Rodrigo Pacheco descartou a possibilidade de não haver eleições, solidarizou-se com o ministro Barroso e disse que qualquer um que se coloque contra o processo eleitoral pode ser considerado "inimigo da nação".
Lira certamente notou que seu silêncio estava pegando mal. Resolveu manifestar-se, mas o fez de forma envergonhada, com palavras que podem ser lidas tanto como condenação ao golpismo do inquilino do Palácio do Planalto quanto como crítica bolsonarista a seus adversários.
"Nossas instituições são fortalezas que não se abalarão com declarações públicas e OPORTUNISMO", afirmou no Twitter. Pergunta inevitável: "declarações públicas" e oportunismo maiúsculo de quem?
A seguir, escreve: "Tenhamos todos, como membros dos poderes republicanos, responsabilidade e serenidade para não causar mais dor e sofrimento aos brasileiros". Continuam as dúvidas: a quem Lira pede responsabilidade e serenidade? Os bolsonaristas poderão muito bem interpretar que ele se refere à CPI da Covid. Essa dubiedade é intencional.
Mais à frente, Lira diz que a Câmara "não se deixará levar por uma disputa que aprofunda ainda mais a nossa crise". A ameaça mais grave à institucionalidade não está em nenhuma disputa entre governistas e oposicionistas, algo comum na vida democrática, mas nas palavras e gestos golpistas de Jair Bolsonaro.
Por fim, comenta que a urna será a grande e única juíza de qualquer disputa política em 2022 e arremata com uma frase de ênfase insuficiente para a gravidade do momento, que poderia ser dita em qualquer ocasião: "O nosso compromisso é e continuará sendo trabalhar pelo crescimento e a estabilidade do país".
O texto de Lira deixou a nítida impressão de que ele se pronunciou apenas porque o seu silêncio conivente o estava comprometendo, não por indignação genuína.
As emendas e os cargos que o centrão recebeu no "toma lá, dá cá" promovido por Bolsonaro devem ter pesado bastante para que o presidente da Câmara tenha tratado o leão do golpismo como se fosse um gatinho.
Não deveria perder de vista, porém, que quando o felino de juba ataca ninguém pode garantir que sairá ileso.
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