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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PT e PSOL têm bons motivos para não participar de atos do MBL

12.set.2021 - Carro de som do MBL em ato contra Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro - Carolina Farias/UOL
12.set.2021 - Carro de som do MBL em ato contra Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro Imagem: Carolina Farias/UOL

Colunista do UOL

12/09/2021 16h46

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Pode-se dizer que as manifestações de hoje contra o presidente Jair Bolsonaro, convocadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL), foram um fiasco no Rio, em Brasília e em várias outras cidades. Pouquíssima gente atendeu ao chamado. Em São Paulo o saldo final deve ser menos ruim, já que o estado é a terra natal do MBL. Além da infraestrutura mais forte, a presença de políticos de renome nacional reforçaram o ato na Avenida Paulista.

Nada, porém, que vá mudar a percepção de que a mobilização resultou em retumbante fracasso.

A partir dessa constatação, não demorou para que surgissem nas redes sociais críticas ao PT e ao PSOL (especialmente ao primeiro) por não terem aceitado o convite para formar a frente contra o golpista Bolsonaro. A culpa de as ruas terem ficado vazias nesse domingo seria, segundo esses críticos, principalmente dos petistas, que mais uma vez teriam dividido a oposição.

Quem diz isso se esquece de quanto o MBL é parecido com o governo que agora critica. Não deixam de ter razão aqueles que brincam dizendo que Kim Kataguiri e seus companheiros de grupo são o "bolsonarismo de sapatênis".

Não há dúvida de que o esforço para derrotar o extremista Jair Bolsonaro deve ser apoiado por políticos dos mais diversos matizes.

Mas quem acredita que o MBL realmente deixou para trás suas práticas fascistas?

O termo não é usado aqui de forma irresponsável.

Como classificar a abjeta campanha "Escola sem partido", defendida pelo grupo, que incentivava alunos a denunciarem e filmarem professores que fizessem menção à esquerda em sala de aula, para que fossem rotulados como comunistas? O objetivo de transformar essa aberração em lei não foi alcançado, mas a prática de intimidação de professores ainda hoje causa aborrecimentos em vários colégios.

Não é prática fascista a ameaça de agressão a artistas e diretores de instituições que fizessem exposições ou espetáculos considerados imorais? Foi o que aconteceu com a mostra Queer Museum, em Porto Alegre, em 2017, com a participação ativa do MBL. Há outros exemplos do tipo.

Foi esse mesmo grupo que engrossou os canais de disseminação de fake news na campanha de 2018, um mal que afetou a democracia brasileira de forma profunda e cujos prejuízos serão sentidos ainda por muito tempo.

É positivo que Kataguiri e sua turma tenham se apartado de Bolsonaro. Mas não o suficiente para apostarmos que a partir de agora vão jogar limpo.

Isso para não falar que, mesmo com o convite para que o PT participasse das manifestações, panfletos distribuídos antes das mobilizações, faixas e cartazes vistos nos atos tinham a inscrição: "Nem Bolsonaro, nem Lula". Estranho modo de construir uma frente ampla.

Essa ciclotimia política do Movimento Brasil Livre é, no entanto, menos grave que sua semelhança com os bolsonaristas.

Não basta derrotar Bolsonaro. Para que a vida política nacional volte a ter um mínimo de equilíbrio é preciso derrotar o bolsonarismo — seja de coturno ou de sapatênis.

Nessa lógica, PT e PSOL agiram bem ao não participar das manifestações de hoje.