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Bolsonaro desmonta o Brasil, mas 'terceira via' escolhe Lula como inimigo
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Nunca uma campanha presidencial começou tão cedo no Brasil. Primeiro foram os bolsonaristas, que há meses fazem circular camisetas, faixas e adesivos onde se lê: "Bolsonaro 2022". Em algumas oportunidades, o próprio presidente da República exibiu o material de propaganda em palanques. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao que parece, não vê problema nessa antecipação que a lei sempre proibiu.
Em outra trincheira, recentemente foi deflagrada uma inédita temporada de debates em veículos de comunicação com pré-candidatos e pré-pré-candidatos da chamada "terceira via".
Começou com o Estadão, que no mês passado realizou debate batizado como "Primárias", com Ciro Gomes, Luiz Henrique Mandetta e Eduardo Leite. Ontem foi a vez da GloboNews, que fez alteração no trio de debatedores, escalando Ciro, Mandetta e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
Na forma e no conteúdo, o programa se assemelhou bastante aos confrontos entre presidenciáveis que os brasileiros se acostumaram a ver de quatro em quatro anos - só que dessa vez bem mais cedo.
Como era de se esperar, os três participantes convergiram nos ataques ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparecem, respectivamente, como vice-líder e líder de todas as pesquisas de intenção de votos ao Planalto.
Foram Lula e o PT, porém, que mereceram de Ciro, Mandetta e Vieira as críticas mais ferozes.
Não é de se estranhar a prioridade dada ao petista, já que a dianteira que mantém nas pesquisas é tão grande que as chances de se eleger presidente no primeiro turno são reais. Para evitar que a fatura seja liquidada no primeiro tempo, seus oponentes precisam mesmo tentar desgastá-lo. Esse cálculo eleitoral é compreensível.
O que não se compreende é que tratem o adversário Lula como inimigo.
Por várias vezes, Ciro ressalva que não há equivalência entre o ex-presidente e o atual - "Lula é gente", chegou a comentar, em contraposição à marca autoritária de Bolsonaro. Apesar disso, a metralhadora de argumentos do político cearense ficou apontada bem mais tempo para o petista.
Atribuiu o surgimento do fenômeno Bolsonaro aos erros do "lulopetismo". Falou de corrupção e chamou o líder do PT de "semeador de ilusões" por, segundo ele, fazer parecer que em seus dois mandatos todo mundo ficou rico.
Nessa inflamada retórica eleitoral (exercitada mais de um ano antes da eleição, é sempre importante lembrar), o pedetista erra ao não reconhecer que nos dois mandatos de Lula o Brasil realmente viveu tempos de prosperidade. Tanto a retirada do país do mapa da fome, quanto os depoimentos dados à época por banqueiros e empresários atestam isso.
A corrupção que comeu solta na Petrobras e em outras empresas estatais é algo realmente digno de críticas (como deveria ter sido em outros governos que passaram impunes). Ao apontar esse problema, no entanto, Ciro não pode esquecer que integrava o governo. Dizer apenas "eu estava lá, mas eu avisei" não é o bastante para eximi-lo de responsabilidade.
Em outro momento, tentou equiparar o extremismo bolsonarista aos petistas. Lembrou das críticas do PT ao Plano Real, da oposição do partido à candidatura de Tancredo Neves e das tentativas de "impichar" Fernando Henrique Cardoso.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas se achava o PT assim tão radical não deveria ter aceitado ser ministro de Lula, já que todos os fatos citados aconteceram antes de 2003.
Mandetta, por sua vez, também tentou fazer a famigerada equivalência. Referiu-se ao petista e a Bolsonaro como "duas figuras perversas" e "figuras nefastas". Logo ele, que, como lembrou um dos jornalistas do programa, integrou o governo bolsonarista desde o início.
Usou a desculpa esfarrapada de que após a posse esperava que Bolsonaro controlasse seu ímpeto - como se desde o início não estivesse claro o pendor autoritário do capitão.
Mandetta foi lembrado também que seu partido atual, o DEM, está para se fundir com o PSL, o que resultará em legenda que estará muito longe da prática política que os brasileiros sonham como ideal.
Louvado pelo excelente desempenho na CPI da Covid, Alessandro Vieira criticou o PT reinterpretando o diálogo vazado em 2016, que tinha como protagonistas Sérgio Machado e Romero Jucá. Vieira citou a conversa em que Jucá sugeria um pacto "com o Supremo, com tudo" como algo favorável ao PT, quando, na verdade, o objetivo declarado era derrubar Dilma Rousseff da Presidência para tentar estancar a "sangria" das investigações contra corrupção.
Entusiasta da Lava Jato, o senador atribuiu as decisões que inocentaram Lula a um suposto "acordão", como se a parceria ilegal entre Sergio Moro e a força-tarefa de Deltan Dallagnol não fosse o bastante para que o Supremo Tribunal Federal anulasse as sentenças do juiz do Paraná.
"Venho do movimento de renovação que aconteceu em 2018", apresentou-se Vieira, mesmo que não pareça boa referência participar da fornada que resultou naquela que muitos consideram como a pior formação do Congresso em todos os tempos.
Não há paralelo para a destruição que Bolsonaro promove em todos os campos da vida nacional, mas é possível entender que a lógica pré-pré-eleitoral faça com que os tais candidatos a terceira via façam de Lula o alvo principal - e ele tem muitos flancos a serem explorados. O desejável é que façam isso com críticas objetivas e boas propostas, sem apelar para a histeria antipetista.
Atribuir a um partido todas as mazelas nacionais é falsificar a realidade.
Por fim, um alerta: é preciso garantir espaço igualitário de exposição de ideias para todos os postulantes ao Planalto.
Bolsonaro tem a seu dispor a máquina governamental e o destaque do cargo para fazer eco a suas propostas. Os postulantes da terceira via, como se vê, terão tempo nos meios de comunicação para mostrarem seus planos.
E Lula, também será convidado a debater?
Ou terá que se contentar em divulgar seus planos nos perfis do PT nas redes sociais e nos blogs simpatizantes?
As respostas a estas questões ajudarão a indicar o quanto o processo eleitoral que precocemente se inicia será realmente democrático, ou se precisaremos temer surpresas desagradáveis, como as que aconteceram há três anos.
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