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Do metrô à Câmara dos Vereadores, o negro não escapa do racismo no Brasil
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A exatamente um mês do Dia da Consciência Negra, o Brasil voltou a dar provas robustas de que, seja qual for o status social que ocupe, o negro sempre será vítima em potencial do racismo. Dois episódios ocorridos ontem demonstram isso: a agressão de seguranças do Metrô de São Paulo a um homem negro que conduzia um carrinho de bebê e as ofensas disparadas por extremistas de direita a vereadoras negras na Câmara Municipal de Porto Alegre.
No caso do Metrô, o homem que conduzia o carrinho de bebê se revoltou com a ação de funcionários que reprimiam o trabalho de ambulantes e tentou intervir. No vídeo que circulou nas redes sociais, é possível ver que ele foi agarrado por seguranças após cuspir em um deles, enquanto tentava não largar o carrinho do filho.
Pouco depois, foi jogado ao chão, estrangulado e imobilizado por um dos oponentes, que pressionou suas costas com o joelho direito. Impossível não lembrar a cena da morte do americano George Floyd.
"Gente, não mata ele", implorava Flávia Alves, a testemunha que gravou a abordagem em vídeo. "Moço, para, por favor, o filho dele aqui."
O homem acabou algemado, enquanto ao seu lado a criança chorava sem parar.
A testemunha explica que ele reclamava pelo carrinho do filho ter sido empurrado, o que fez o bebê cair de rosto no chão.
"Ele estava indo em direção à escada para ir embora mas, com diversos empurrões, quase rolou escada abaixo com o bebê. Foi quando reagiu e cuspiu", afirmou Flávia. "Nenhum cuspe justifica um mata-leão."
O Metrô informa que afastou os seguranças, mas justificou o procedimento dos funcionários dizendo que o homem causou "tumulto ao tentar impedir uma ação de fiscalização contra o comércio irregular".
A pergunta inescapável é: e se fosse uma pessoa branca a reclamar com os seguranças do Metrô, receberia o mesmo tratamento?
A resposta, todos sabemos qual é.
No mesmo dia, em Porto Alegre, um grupo de extremistas do negacionismo invadiu a Câmara Municipal para protestar contra a adoção do passaporte de vacina.
Em meio ao tumulto, uma das manifestantes se dirigiu exaltada às vereadoras negras Bruna Rodrigues (PCdoB), Daiana Santos (PCdoB) e Laura Sito (PT).
"Tu é minha empregada!", gritou a extremista para Bruna. A vereadora relatou também que foi chamada de "lixo".
No caso da Câmara de Porto Alegre, as vítimas do racismo não se enquadram no perfil de cidadão carente, como o homem agredido no Metrô de São Paulo.
Mesmo ocupando o honrado posto no Legislativo municipal, onde chegaram pela vontade de milhares de eleitores, as vereadoras negras não escaparam de ofensas racistas em seu próprio local de trabalho.
O preconceito, como se comprova por esses e outros episódios frequentes, não é um mal que deixe de fustigar mesmo os negros que conseguem ascensão social.
Também ontem, a Polícia Civil do Ceará, que investiga o caso de racismo de funcionários da loja de roupas Zara contra uma delegada negra, concluiu que o estabelecimento tinha código interno para informar a entrada de negros ou de "pessoas simples".
A orientação abjeta foi descoberta depois que a delegada Ana Paula Barroso foi expulsa da loja, localizada em um shopping frequentado por clientes de classe média alta de Fortaleza, e fez boletim de ocorrência por racismo.
Não há dúvida que sofrem mais os negros pobres, especialmente os que moram em favelas, onde a vida parece valer cada vez menos para os agentes que deveriam defender a lei. Mas escalar da pobreza à classe média, à classe média alta e mesmo à riqueza não garante no Brasil imunidade contra o preconceito. Ninguém está a salvo.
Prestes a chegar a mais um 20 de novembro, é inacreditável que o país ainda precise tomar consciência dos males causados pelo exercício diário do racismo, que muitos continuam teimando em dizer que não existe.
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