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Chico Alves

REPORTAGEM

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Vídeo de ministro negando que vai haver greve revolta líderes caminhoneiros

Colunista do UOL

26/10/2021 10h44

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Vídeo de uma palestra do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, em que ele garante que não vai haver greve dos caminhoneiros e que luta para baixar o preço do frete motivou críticas nos grupos de mensagens de integrantes da categoria. Os comentários foram feitos na sexta-feira (22) em um evento voltado a empresários. "Qual é a possibilidade de a gente ter uma greve de caminhoneiros da magnitude que nós tivemos em 2018? Zero, nenhuma, não vai ter", garante Tarcísio à plateia.

No evento, o ministro disse que quando ouve comentário sobre a queda do preço do frete avalia como algo positivo. "Que bom, Se eu for ministro da Infraestrutura e o frete estiver subindo, subindo, tem alguma coisa errada. Meu 'business' é baixar frete, é reduzir o risco Brasil", define.

Várias entidades de motoristas autônomos estão em estado de greve desde o dia 16 de outubro, quando, em reunião realizada no Rio de Janeiro, decidiram que se o governo não atender as reivindicações da categoria haverá paralisação no 1º de novembro. A redução do preço do diesel e o estabelecimento do piso mínimo do frete são duas das principais pautas.

Tarcísio disse na palestra que, quando procurado por líderes da categoria que ameaçam paralisação, argumenta que isso não trará resultado positivo. "Preço do diesel, você acha que vai baixar com a greve? Lamento, não vai. Se você entra numa greve e não tem nada para pedir e para ganhar (?) só vai ficar uns dias sem trabalhar", afirmou.

Na opinião do responsável pela pasta da Infraestrutura, há "meia dúzia de líderes que toda hora chamam greve", tentando aproveitar o movimento de paralisação verificado há três anos. "O que aconteceu em 2018 não vai acontecer tão cedo", afirma. "Quem parou o Brasil em 2018 foram empresas de transporte fazendo locaute, com apoio do agronegócio, gente que queria realmente forçar uma baixa do preço do diesel. Isso teve um efeito colateral péssimo".

O ministro não comentou, porém, que o movimento de maio de 2018 teve o apoio do então candidato Jair Bolsonaro, que chegou a gravar vídeo dizendo que os caminhoneiros buscavam soluções para problemas que interessavam aos 200 milhões de brasileiros e não estavam encontrando eco no Legislativo. "Sobrou-lhes o Executivo, que teima em se omitir. Somente a paralisação prevista a partir de segunda-feira poderá forçar o presidente da República a dar uma solução para o caso", disse Bolsonaro, então.

Tarcísio disse que por causa daquele movimento as empresas de transporte passaram a operar em um ambiente de insegurança jurídica e "o agronegócio padece com isso até hoje". Por essa razão, afirma que "essa turma que financiou a greve de 2018 está fora". O único desafio que resta é evitar que as estradas sejam fechadas. "Se não deixar bloquear rodovia, com o excesso de oferta que nós temos, se meia dúzia parar de trabalhar, qual vai ser o efeito para nós no mercado? Zero".

Para o ministro, a imprensa está contra o governo e por isso "morde a isca" quando esses líderes convocam greve. "A imprensa fica tentando chamar a greve, porque a gente está com a imprensa do 'quanto pior, melhor'", diz. Na avaliação de Tarcísio, é como se os veículos de comunicação tentassem "derrubar o avião" porque não gostam do piloto. "Morre todo mundo", conclui.

A reação dos líderes caminhoneiros à fala de Tarcísio foi bastante negativa.

"Nós apenas queremos que o presidente Bolsonaro cumpra as promessas que fez à categoria na campanha", afirma Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores. "Ninguém tem prazer em fazer greve, mas esse é o último recurso que nos resta".

Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística, reagiu à alegação do ministro de que seu papel é baixar o preço do frete e que os caminhoneiros que não se adaptarem devem sair do mercado.

"Isso só é bom pra quem nos explora", argumenta Litti. "Só faz sentido para quem, como ele, trabalha apenas em favor do grande empresário e fala com tranquilidade que o motorista autônomo que não se adaptar vai sair do mercado, vai ficar desempregado. O Estado está aí para proteger os mais frágeis e não os mais poderosos".

Sobre a certeza que o ministro dá que não vai haver greve, Litti diz que "está na mão de cada transportador autônomo dar a resposta".

Procurado pela coluna, o Ministério da Infraestrutura informou através de nota que Tarcísio reafirmou na palestra "o seu posicionamento público em referência às ações setoriais adotadas pela pasta", além da "total abertura para o diálogo com todas as entidades que demonstraram interesse em fazer parte da formulação da política pública" e "o posicionamento de não negociar com qualquer indicativo de paralisação ou locaute". A nota diz ainda que a opinião do ministro é de amplo conhecimento de todo o setor sobre temas de interesse, como a tabela de frete e a necessidade de estimular a economia para fortalecer o mercado do transporte rodoviário de cargas.