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Chico Alves

REPORTAGEM

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Frente de Evangélicos envia perguntas para sabatina de André Mendonça

André Mendonça em sua segunda posse como AGU, em abril de 2021 - Marcos Corrêa/Planalto
André Mendonça em sua segunda posse como AGU, em abril de 2021 Imagem: Marcos Corrêa/Planalto

Colunista do UOL

30/11/2021 04h00

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A Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, movimento cristão que defende a justiça social e as garantias constitucionais, elaborou perguntas para a sabatina que vai avaliar a candidatura de André Mendonça a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Como se sabe, um dos atributos que levou o presidente Jair Bolsonaro a indicá-lo é o fato de ele ser "terrivelmente evangélico". A sabatina no Senado está marcada para amanhã.

Composta por mais de 10 mil integrantes, a frente tem perfil progressista, diferente das lideranças evangélicas que se manifestaram a favor da indicação de Mendonça. Um representante do grupo vai a Brasília hoje para entregar as perguntas aos senadores que participarão da sabatina.

Baseado em passagens bíblicas, os principais temas do questionamento estão relacionados ao fato de a indicação de Bolsonaro contrariar o conceito de Estado laico, e também trata de intolerância religiosa, falta de imparcialidade de Mendonça e ataques que o indicado fez ao Estado de Direito quando participou do governo.

A coluna teve acesso às perguntas:

1- Tiago 3.17 afirma que a sabedoria do alto se caracteriza por imparcialidade, o Brasil é um país laico, o senhor, entretanto, tem sido apresentado como futuro representante dos evangélicos no STF, o que contradiz a lógica do Estado Laico. Logo, por definição, sua indicação é injusta e, por definição, compromete a sua imparcialidade.

Como o senhor analisa e se analisa diante dessa questão?

2- Em Lucas 9.51-56 Tiago e João se ofereceram para pedir a destruição da aldeia samaritana que, por motivos religiosos, impediu que Jesus passasse por ela para ir à Jerusalém, no que foram repreendidos por Jesus que, mais uma vez lhes ensinou sobre sua missão de salvação e sobre que espírito deveria movê-los.
Hoje, no Brasil, evangélicos têm sido acusados de reprimir outras religiões, principalmente, de matriz africana, chegando a ser acusados de invasão e depredação de lugares de culto dessa expressão religiosa. O Senhor, como evangélico, como encara tais possibilidades e qual seria sua postura se tivesse de julgar algo dessa ordem?

3- Em Deuteronômio 16.19 há a recomendação de que não seja torcida a justiça pela acepção de pessoas.

O senhor classificou o Presidente Bolsonaro como profeta, concedendo-lhe, portanto, uma posição de autoridade religiosa. Como o senhor poderá garantir imparcialidade quando e se tiver de julgar o Presidente Bolsonaro?

4- Em Eclesiastes 3.16 está registrada a indignação do sábio quando constar que no lugar do juízo reinava a maldade.

O senhor, quando ministro da justiça foi acusado de usar o ministério para perseguir os desafetos, do presidente Bolsonaro, segundo acusação, o senhor abusou de processos com base na Lei de Segurança Nacional; perseguiu jornalistas e produziu um dossiê sobre a situação de 379 policiais e professores identificados como antifascistas; o que é, na voz do sábio, pura maldade. Corremos o risco de ver o senhor ser acusado do mesmo, quando ministro do Supremo? Se não, por que não?

5- Em Amós 5.21-24 é dito que Deus abomina toda a pretensa devoção do povo porque a única postura que Deus queria não foi tomada, qual seja, a de que corresse o juízo como as águas e a justiça como ribeiro perene.

O senhor está indicado por um governo que, desrespeitando a laicidade do Estado, deu cor religiosa ao seu governo, contudo, está repleto de acusações de injustiça, em todos os níveis, contrariando, portanto, todo o discurso religioso que, contra a constituição federal, proferiu. Sua participação e indicação neste e deste governo nos dá a entender que toda essa prática criminosa teve e tem a sua anuência. Que garantias podemos ter de que, agora, o senhor preservará e cumprirá a Constituição?

6- Em Mateus 5.10 Jesus chama de bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça.

O governo que o senhor serviu e representou tem-se caracterizado, entre outros deslizes, pela acusação de atacar e fomentar ataque ao STF, elevando os atuais ministros e ministras à categoria de perseguidos por causa da justiça. Por que deveríamos colocá-lo ao lado dos que o governo que o indica tem sido acusado de atacar? O senhor denunciaria o governo que o indica?