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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A covardia do presidente contra servidores que defendem a saúde do povo

16.dez.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (PL), durante live semanal - Reprodução/Facebook
16.dez.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (PL), durante live semanal Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

18/12/2021 04h00

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Por duas vezes, o espírito público do contra-almirante Antonio Barra Torres, diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi destacado nesta coluna, em contraposição à sabujice de outras autoridades federais. A primeira, em maio. A segunda foi há dez dias, quando a Anvisa já estava sob uma saraivada de fake news disparada pelo presidente Jair Bolsonaro - ele inventou, inclusive, que a agência pretendia fechar o espaço aéreo brasileiro por causa da nova variante da covid-19, a ômicrom.

Como Bolsonaro não suporta subordinados autônomos e pautados pela ciência, era de se esperar que os ataques do presidente aumentassem. Mesmo para alguém que há três anos se mostra completamente desequilibrado, porém, o ocupante do Palácio do Planalto ultrapassou todos os limites na live de quinta-feira passada (16).

Não bastasse retomar a pregação contra a vacina (dessa vez espalhando mentiras sobre a imunização de crianças!), Bolsonaro exigiu que fossem tornados públicos os nomes dos funcionários da Anvisa que aprovaram a vacinação dos pequenos com idades entre 5 e 11 anos.

"Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem são essas pessoas e forme o seu juízo", disse o presidente, sob o olhar bovino de um de seus maiores puxa-sacos, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO).

Como se sabe, a vacinação de crianças foi o mote de ameaças endereçadas a servidores da Anvisa há algumas semanas. Ao dizer o que disse, Bolsonaro fez explícita incitação às gangues negacionistas (digitais ou não) para atacar funcionários públicos unicamente por fazerem seu trabalho.

A ameaça do presidente - que dispõe de todo o aparato de comunicação que o cargo oferece - contra servidores indefesos tem um nome: covardia.

Cercado de gente pusilânime, que aceitará todas as indignidades do presidente para manter o poder ou o acesso a recursos públicos, Bolsonaro está sem freio. Como sabe que a base na Câmara e seu preposto Arthur Lira (PP-AL) não permitirão movimentos no sentido do impeachment, se sente livre para cometer todos os desatinos que bem entender.

Até mesmo negar às crianças brasileiras a vacina que as pode livrar do risco do coronavírus - sob a cumplicidade de figuras tão lamentáveis quanto o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ou a omissão do procurador-geral da República, Augusto Aras.

Mais uma vez, foi preciso que o Supremo Tribunal Federal (STF) entrasse em campo para cobrar um plano de imunização dos pequenos.
A providência, no entanto, é insuficiente.

Esse desgoverno, resultado da engenharia macabra dos militares mais atrasados, sob os auspícios do grupo do general Villas Boas, chegou a seu ponto mais baixo.

Não é possível que a sociedade civil mantenha a revolta em volume brando diante de um presidente tão indigno.

Temos pelo menos mais um ano de Bolsonaro pela frente para destruir o Brasil, seguindo as vozes que povoam sua cabeça confusa e as determinações dos parceiros obscurantistas.

É uma temeridade deixar país tão grandioso na mão de alguém descerebrado, esperando sempre que o STF apareça para nos salvar, como se em torno do Supremo não houvesse 210 milhões de pessoas, a grande maioria favorável à vacinação.

Se não gritarmos para defender a saúde das nossas crianças e a autonomia dos servidores que querem protegê-las, por qual motivo haveremos de botar a boca no trombone?