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Se Marcelo Queiroga ainda não foi preso é sinal de que Brasil perdeu o rumo
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Passadas 48 horas desde que a Folha de S. Paulo e outros meios de comunicação noticiaram que um documento oficial do Ministério da Saúde recomenda hidroxicloroquina contra a covid-19 enquanto desaconselha o uso da vacina, o país continua funcionando como se tudo estivesse normal. Circula um abaixo-assinado em repúdio ao ministro, senadores prometem convocar o responsável pela nota técnica para se explicar, outros vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
É reação muito pequena para o tamanho da barbaridade.
Nas rodas de bate-papo ou nas redes sociais, o Big Brother Brasil, a Copa São Paulo e o The Masked Singer receberam muito mais atenção no último fim de semana que a afronta à ciência cometida pelo ministério, algo que coloca em risco a vida dos brasileiros. É como se aqueles cidadãos inflamados, que demonstraram tanta indignação em gigantescas manifestações de rua anos atrás, tivessem mudado de país. Onde estão?
Não é trivial que em meio à maior pandemia da história o país tenha contra si a principal autoridade sanitária do governo - além, é claro, do próprio presidente Jair Bolsonaro. Por muito menos - festinhas realizadas durante o lockdown -, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, está com a cabeça a prêmio.
Por aqui, nem a população e nem as tais instituições conseguem dar resposta à altura da afronta dos negacionistas do Ministério da Saúde.
Diante da pasmaceira, Hélio Angotti Neto, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos que chancelou o texto, e o ministro Marcelo Queiroga podem arriscar todas as indignidades, desde desestimular os pais a vacinarem seus filhos até propagandear medicamentos ineficazes a pacientes de covid.
Diante da passividade vergonhosa do Ministério Público Federal e de outras instâncias da polícia e da Justiça, parece que é o bastante torcer e esperar que essa gente vá embora do governo no fim do ano, caso o eleitor assim decida. Como se não fizessem diferença as vítimas que o negacionismo eventualmente provocar até lá.
Em tempos de normalidade, não haveria motivo para esperar. A irresponsabilidade gigantesca deveria ser punida já.
Se até agora, quando você chega ao fim desse texto, o ministro Marcelo Queiroga ainda não tiver sido preso, é sinal de que o Brasil perdeu mesmo o rumo.
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