Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sergio Moro tem razão dessa vez: subprocurador do TCU exorbitou
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Não há quem possa dizer que esta coluna é adepta do lavajatismo. Em várias oportunidades, o leitor encontrou aqui críticas agudas contra o procedimento do ex-juiz Sergio Moro e contra a força-tarefa da Lava Jato. A parceria irregular entre magistrado e acusadores, a parcialidade na conduta, a fragilidade dos elementos usados para levar réus à prisão, a vaidade, a transgressão do devido processo legal, todas essas barbaridades perpetradas na República de Curitiba o colunista registrou.
Agora, o jogo virou. Moro passou de caçador a caça. O contrato do ex-juiz com a empresa Alvarez & Marsal está sob os holofotes e ele foi chamado a dar explicações, ainda mais na condição de pré-candidato a presidente da República. Mesmo que não fosse. Alguém responsável por sentenças que resultaram na recuperação judicial de gigantescas empresas brasileiras, e que depois de largar a toga passou a trabalhar justamente para o conglomerado que cuida de algumas dessas sentenciadas, tem mesmo que esclarecer seus interesses.
Sem perder isso de vista, é preciso dizer, no entanto, que os últimos movimentos de Lucas Furtado, o subprocurador-geral do Ministério Público Federal junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), foram estranhos. Ele pediu ao ministro Bruno Dantas que determine, de forma cautelar, a indisponibilidade de bens de Moro.
O objetivo, segundo Furtado, é apurar suposta sonegação de impostos sobre os pagamentos que o ex-juiz recebeu da Alvarez & Marsal.
Moro reagiu com uma nota em que acusa o subprocurador de abuso de poder. Seu fiel escudeiro, Deltan Dallagnol, gravou vídeo com expressão tensa em que disse o seguinte: "O Tribunal de Contas da União nem atua em sonegação fiscal, quem atua é a Receita Federal. E, mesmo quando a Receita Federal atua, ela não sai bloqueando bens, faz uma fiscalização. Se ela chegar a uma conclusão de que existe uma sonegação — e se houver algum ilícito de não pagamento— aí, sim, ela vai pedir o bloqueio".
É preciso dizer com todas as letras: dessa vez, Moro e Dallagnol têm razão. O TCU realmente não atua em sonegação fiscal. Recentemente, o tribunal ganhou atribuição de fiscalizar o trabalho da Receita Federal - mas essa fiscalização não se estende a pessoas ou empresas que tenham pendências com o Fisco. O TCU até pode apontar alguma inconsistência na atuação do órgão em relação a uma empresa ou pessoa, mas nada além disso.
Também não há como dizer que seja procedimento comum para o TCU tornar os bens de um cidadão indisponíveis por suspeita de sonegação. Não é.
É preciso cuidado para que a ânsia de esclarecer a origem dos ganhos do ex-juiz não leve as autoridades a atropelar os procedimentos legais. Mesmo que Moro tenha agido assim contra os acusados da Lava Jato.
Para além dos problemas em sua declaração de renda, o homem que um dia foi alçado à condição de herói da luta anticorrupção tem muito a esclarecer. Não procede o argumento repetido por ele de que seu contrato com a Alvarez & Marsal é assunto entre privados, que não tem interesse público.
Quando o juiz da Lava Jato, operação que levou à lona tantas empresas brasileiras, aceita ganhar polpudo salário para trabalhar no grupo americano que trata justamente da recuperação daqueles CNPJs, ele realmente tem muito a explicar. Não basta mostrar algumas notas que seriam comprovação de rendimento.
Tem muitas outras perguntas a serem respondidas.
Quando foi a primeira vez que Moro conversou sobre sua contratação com a Alvarez & Marsal? Ele teve contato com a empresa quando ainda era juiz ou quando era ministro da Justiça? Quais os contratantes de suas palestras? E por aí vai.
Já os pedidos feitos pelo subprocurador Lucas Furtado ao ministro Bruno Dantas não se justificam.
Para alguém que, como Moro, exorbitou tanto de suas prerrogativas, vê-lo reclamando de abuso de poder é uma ironia que serve aos criadores de memes e tretas das redes sociais. Não é, porém, algo previsto no rito legal.
Quem tanto critica a Operação Lava Jato não pode adotar o estilo sumário do ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, mesmo que seja contra ele próprio.
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