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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro ajuda ômicron a manter crianças sob risco de morte ou sequelas

12.fev.2022 - O presidente Jair Bolsonaro durante live - Reprodução/Facebook
12.fev.2022 - O presidente Jair Bolsonaro durante live Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

13/02/2022 04h00

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O país que por décadas deu show de eficiência nas campanhas de vacinação hoje segue com a imunização de crianças contra a covid-19 em passo de tartaruga. Comparação feita pela Folha de S. Paulo mostra que o governo do Brasil vacinou em 23 dias 15% dos pequenos de 5 a 11 anos. Países como Canadá, Austrália, Argentina e Uruguai levaram um terço desse tempo para chegar ao mesmo resultado.

Isso acontece no momento em que a variante ômicron faz com que a média brasileira chegue a 164 mil casos e 880 mortes, a maior em muito tempo. Diante de cenário assim, cada dia de atraso na vacinação das crianças equivale a mantê-las em situação de risco. Não é um perigo pequeno. Desde o início da pandemia foram registradas 1.449 mortes na faixa da população de 0 a 11 anos no país.

Mesmo quando não há morte, existe preocupação com as possíveis sequelas. A constatação de que meninos e meninas com síndrome grave de covid desenvolvem problemas cardíacos é um exemplo.

A vagareza da vacinação de crianças tem causas claras e criminosas.

Para começar, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, atrasou o quanto pôde o início da imunização, inventando desculpas como consulta pública, audiência pública e tal e coisa. Ao chegar à conclusão que era inevitável, Queiroga, em coro com Bolsonaro, passou a fazer o possível para desestimular a ida da população aos postos de vacinação.

O ministro ensaiou pedir prescrição médica, anunciou um número mentiroso de mortes causadas pela vacina. Bolsonaro, o líder negacionista, acusou os servidores da Anvisa de terem motivos escusos para aprovar o imunizante para crianças.

Outro descalabro é o fato de o Ministério da Saúde não ter feito algo básico em momento tão sério: campanha na TV para estimular os pais a vacinarem seus filhos. Queiroga e Bolsonaro fazem exatamente o contrário.

Para arrematar, o Ministério da Saúde ainda não condenou explicitamente o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Pelo contrário. Um secretário desequilibrado da pasta chegou a dizer que cloroquina funcionava contra o coronavírus e vacinas talvez não.

Temos, então, o paradoxo em que o governo federal, fornecedor das vacinas a estados e municípios, faz o possível para desacreditá-las.

É preciso não perder isso de vista para que a cada caso grave ou morte de criança de 5 a 11 anos por covid-19 o governo federal seja responsabilizado.

Espera-se que algum dia, quando as instituições saírem da letargia em que estão mergulhadas, Bolsonaro pague caro pela enorme ajuda que deu à propagação da variante ômicron entre as crianças brasileiras.