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Ministro da Justiça é o novo Pazuello do governo Bolsonaro
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Em sua passagem pelo Ministério da Saúde, o general da reserva Eduardo Pazuello estabeleceu marcas altíssimas de incompetência e submissão na equipe do governo de Jair Bolsonaro. Encarregado de gerenciar o combate à pandemia, Pazuello adquiriu quantidade insuficiente de insumos básicos, deixou faltar oxigênio nos hospitais de Manaus, autorizou o uso de medicamentos ineficazes contra o coronavírus e atrasou a compra de vacinas. No quesito submissão, popularizou o lema, em vídeo feito ao lado de Bolsonaro: "Um manda e outro obedece". Mesmo ordens absurdas, diga-se.
Seu sucessor no ministério começou louvando a ciência e mostrando-se sensato, mas com o tempo pazuellou-se. Resistiu o quanto pôde a liberar vacinas para adolescentes e crianças a partir de cinco anos, e quando o fez esforçou-se ao máximo para desestimular os pais a levar seus filhos aos postos. Tudo para atender ao negacionismo presidencial. Entre outras barbeiragens, também manteve por um bom tempo a cloroquina na relação de medicamentos indicados pela pasta para combater a covid-19. Cristalizou, assim, o comportamento destrambelhado do general que o antecedeu.
O governo revela agora o seu terceiro Pazuello.
É o ministro da Justiça, Anderson Torres, que mostra-se capaz de tudo para agradar o chefe Bolsonaro. Fez seguidas trocas na cúpula da Polícia Federal, algo que levou entidades representativas de delegados a alertar sobre quebra de continuidade em investigações importantes. Ontem, instituiu a volta da censura ao país, ao determinar que plataformas de streaming retirem de catálogo o filme de Danilo Gentili "Como se tornar o pior aluno da escola", sob pena de cobrança de multa de R$ 50 mil. A medida inconstitucional foi tomada com o pretexto de que a obra faz apologia da pedofilia, por conter uma cena em que o vilão assedia adolescentes de uma escola.
Hoje, Torres chegou ao ápice do ridículo. Em despacho publicado no Diário Oficial da União, concedeu a Medalha do Mérito Indigenista ao presidente Bolsonaro "como reconhecimento pelos serviços relevantes em caráter altruísticos, relacionados com o bem-estar, a proteção e a defesa das comunidades indígenas".
Isso mesmo. O presidente que promove a maior destruição de áreas indígenas, permite ataques seguidos a essas comunidades por parte de criminosos, resiste em garantir seu acesso à saúde, é homenageado por Torres pelos "serviços relevantes". Faria sentido se ele se referisse a serviços prestados aos garimpeiros.
Em entrevista concedida à coluna em outubro, a desembargadora brasileira Sylvia Steiner, que de 2003 a 2016 atuou como juíza no Tribunal Penal Internacional (TPI), avaliou que as denúncias de genocídio feitas contra o governo à corte podem ser aceitas, não pela atuação na crise sanitária, mas pela orientação quanto às comunidades indígenas. "Há uma série de políticas anti-indigenistas desse governo", disse ela.
Bolsonaro apenas colocou em prática o que sempre imaginou para os indígenas. São de autoria do presidente as seguintes pérolas: "Índio não fala nossa língua, não tem dinheiro, é um pobre coitado"; "Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado"; "Se eleito, vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço".
Do genocídio indígena, identificado pela desembargadora Sylvia Steiner, à Medalha do Mérito Indigenista, há uma distância enorme, que o ministro da Justiça ignorou.
Tomado pelo espírito do general que comandou o Ministério da Saúde, Torres não está nem aí para os parâmetros republicanos. Incompetente para administrar a Polícia Federal e obediente às ordens absurdas de Bolsonaro, ele segue em frente.
O novo Pazuello da Justiça não se incomoda em ser coadjuvante de um presidente que age como Napoleão de hospício e condecora a si mesmo.
Não se sabe o que é mais lamentável: o chefe ou seu vassalo.
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